Os fundos de índice negociados em bolsa (ETFs) islâmicos vêm ganhando popularidade significativa entre investidores globais, representando uma combinação estratégica entre diversificação de portfólio e princípios éticos da finança islâmica. Apesar desse crescimento constante, especialmente em regiões como Oriente Médio, Norte da África e Sudeste Asiático, diversos desafios persistem e limitam sua expansão mais acelerada. Os ativos sob gestão de ETFs vinculados a índices islâmicos registraram um aumento expressivo, saltando de $326 milhões em 2018 para $2,33 bilhões até setembro de 2023, segundo relatório da S&P, demonstrando o potencial deste segmento para investimentos que buscam conformidade com os princípios da Sharia.
Fundamentos dos ETFs Islâmicos
Os ETFs tornaram-se elementos fundamentais no cenário global de investimentos, oferecendo aos investidores uma maneira flexível e custo-efetiva de diversificar seus portfólios. Esses instrumentos frequentemente acompanham importantes índices como o S&P 500 ou o Índice MSCI, proporcionando liquidez e exposição a várias classes de ativos. Para investidores que buscam conformidade com a Sharia, os ETFs islâmicos combinam diversidade de portfólio com os princípios éticos da finança islâmica.
Um fundo negociado em bolsa é uma cesta de títulos, como ações, commodities ou títulos de dívida, que é listada e negociada em uma bolsa de valores. Os ETFs compatíveis com a Sharia são submetidos a triagens para garantir conformidade com a lei islâmica, excluindo empresas envolvidas em atividades proibidas. Essa característica fundamental diferencia os ETFs islâmicos dos convencionais, estabelecendo um critério de seleção de ativos baseado em preceitos religiosos e éticos.
Hadeel AbuShoumar, responsável por produtos na Alkhair Capital, sediada em Dubai, acredita que os ETFs islâmicos estão bem posicionados graças ao seu apelo a uma ampla gama de investidores. “Eles estão perfeitamente posicionados para se tornarem uma opção preferencial para fundos de aposentadoria e pensão no MENA e Sudeste Asiático”, afirmou. “Estas regiões têm enormes populações de expatriados e riqueza local significativa que poderia ser canalizada para fundos compatíveis com a Sharia.”
Alinhamento com Princípios ESG
Considerando que as finanças islâmicas se alinham com os princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) mais amplos, o crescimento do mercado de ETFs islâmicos também tem sido impulsionado por uma demanda crescente por investimentos éticos. Esta convergência entre os valores islâmicos tradicionais e as preocupações contemporâneas com sustentabilidade e responsabilidade social representa um diferencial importante para atrair investidores de diferentes backgrounds religiosos e culturais.
Acesso a Ativos Halal
Uma das principais vantagens dos ETFs islâmicos é sua capacidade de proporcionar acesso a ativos Halal que, de outra forma, seriam difíceis ou caros para investidores individuais comprarem diretamente. Por exemplo, o Sukuk, um instrumento compatível com a Sharia com características semelhantes a um título de dívida, está se tornando amplamente disponível. No entanto, altos custos de transação e opções limitadas de mercado frequentemente dificultam o acesso independente para investidores de varejo.
Sefian Kasem, chefe de especialistas em investimentos, Estratégia de ETF na HSBC Asset Management, vê potencial significativo para crescimento nesta área. “À medida que os mercados de Sukuk continuam a crescer rapidamente, acreditamos que provavelmente haverá uma gama mais rica de fundos e ETFs cobrindo diferentes segmentos do mercado de Sukuk, ampliando a gama de perfis de risco de renda fixa disponíveis para investidores compatíveis com a Sharia globalmente”, explicou.
Os ETFs islâmicos também podem ser estruturados para visar setores específicos, dando aos investidores opções mais focadas. AbuShoumar afirma que há oportunidade para desenvolver ETFs temáticos. “Há espaço para inovação aqui – imagine ETFs islâmicos temáticos que se concentrem em setores como energia limpa ou tecnologia”, disse ela. “Além disso, à medida que mais pessoas veem a sobreposição entre finanças islâmicas e princípios ESG, há uma oportunidade para atrair investidores socialmente conscientes, muçulmanos e não-muçulmanos.”
Concentração em Ouro e Limitações
Apesar do potencial de diversidade para ETFs islâmicos, o mercado permanece fortemente concentrado em poucas classes de ativos, sendo o ouro a dominante. ETFs lastreados em ouro compatíveis com a Sharia tornaram-se o produto mais popular neste segmento, devido ao status do metal como um ativo de “porto seguro”, particularmente em tempos econômicos precários.
Essa concentração pode potencialmente dificultar o crescimento e a inovação, dizem alguns profissionais do mercado. “O universo de ETFs islâmicos em termos de capitalização de mercado é dominado por um produto massivo lastreado fisicamente em ouro”, disse Akber Khan, CEO interino da Al Rayan Investment. “Os emissores de ETFs estabelecidos não se preocuparam realmente em oferecer uma gama de produtos islâmicos multi-ativos, enquanto a maioria dos gestores islâmicos tem sido lenta para avançar.”
Entretanto, Kassem, da HSBC, acredita que há um enorme escopo para criar uma gama mais ampla de ETFs compatíveis com a Sharia que possam fazer um trabalho melhor de abranger classes de ativos convencionais, incluindo ações públicas e renda fixa. Esta diversificação representa um passo crucial para o amadurecimento do mercado de ETFs islâmicos.
Barreiras para o Crescimento
Para criar uma gama completa de ETFs compatíveis com a Sharia, desafios-chave que corroem o crescimento dos ativos devem ser abordados. A liquidez permanece um dos obstáculos mais significativos. Enquanto os ETFs convencionais se beneficiam de bolsos profundos devido ao tamanho e maturidade dos mercados subjacentes, os ETFs islâmicos frequentemente lutam com escalas menores e fundos limitados.
“Para ETFs islâmicos, há uma falta de negociabilidade e liquidez, e a oferta de mercado ainda é pequena quando comparada a ETFs convencionais. Isso ocorre porque, principalmente em muitas nações da OIC (Organização para Cooperação Islâmica), o desenvolvimento de ETFs não recebeu muita atenção, já que existem prioridades mais urgentes como bancarização, e menos ainda disponibilidade de produtos de investimento compatíveis com a Sharia”, disse Bashar AlNatoor, chefe de finanças islâmicas na Fitch Ratings.
A situação difere para ETFs focados em Sukuk. “Com os mercados de Sukuk, o perfil de liquidez é um pouco diferente e mais próximo da renda fixa de mercados emergentes do que da renda fixa de mercados desenvolvidos”, acrescentou Kassem.
Além disso, muitos ETFs islâmicos são listados em mercados emergentes, onde os marcos regulatórios e a infraestrutura financeira ainda estão sendo desenvolvidos. Isso impede a atividade de negociação diária, spreads de compra e venda, liquidez e, em última análise, preços, acrescentou Khan, da Al Rayan Investment.
Desafios de Custos e Conscientização
A estrutura de custos dos ETFs islâmicos também apresenta uma enorme barreira para sua adoção. A triagem e o monitoramento regulares da Sharia são essenciais para garantir a conformidade do fundo, o que muitas vezes pode levar a custos operacionais mais altos em comparação com ETFs convencionais.
“Pode ser difícil para investidores de varejo acessar ETFs Halal. Existem dificuldades com relação aos custos de negociação em diferentes geografias”, explicou Monem Salam, vice-presidente executivo da Saturna Capital, com sede nos EUA. “Isso está amplamente relacionado à legislação tributária e outros custos relacionados em diferentes mercados.”
No entanto, garantir que a gestão, administração, operações e outras práticas sejam compatíveis com a Sharia é igualmente importante, acrescentou Sefian Kasem. Processos adicionais requerem monitoramento por um conselho de Sharia credível e acarretam custos associados.
“Eles são essenciais para garantir a conformidade com a Sharia, mas tendo dito isso, acreditamos que é importante para gestores de ativos como nós garantir que esses custos sejam corretamente e justamente equilibrados versus requisitos adicionais associados a fundos de investimento compatíveis com a Sharia”, explicou.
A falta geral de conscientização sobre esses ativos também reduz seu crescimento, dado que informações relevantes sobre o que separa um ETF islâmico de seu par convencional são amplamente ausentes. AbuShoumar acredita que educar o público sobre ETFs islâmicos será fundamental para aumentar a adoção.
“Instituições financeiras precisam facilitar para as pessoas entenderem o que são esses fundos e por que eles importam”, disse ela. “Trabalhar com plataformas de fintech ou mesmo influenciadores de mídias sociais poderia fazer uma enorme diferença para alcançar públicos mais jovens.”
Tendências Futuras e Expansão Global
Os índices islâmicos fornecem aos participantes do mercado um conjunto abrangente de benchmarks compatíveis com a Sharia para ações e sukuk, oferecendo uma variedade diversificada de estratégias adaptadas a vários objetivos de investimento. Historicamente, o investimento islâmico tem sido predominantemente gerido ativamente; no entanto, uma mudança recente em direção ao investimento passivo é evidente, especialmente à medida que os investidores de Sharia veem os benefícios dos ETFs — incluindo transparência e eficiência de custo — sobre fundos ativos.
Na região predominantemente muçulmana do Oriente Médio e Norte da África (MENA), os benefícios dos investimentos passivos são especialmente pronunciados. De acordo com o S&P Indices Versus Active (SPIVA) MENA Mid-Year 2023 Scorecard, 85%-88% dos fundos de ações na região tiveram desempenho inferior aos seus benchmarks e apenas 42% sobreviveram na última década.
Conclusão
Os ETFs islâmicos representam uma evolução significativa no cenário de investimentos éticos, oferecendo aos investidores muçulmanos e àqueles preocupados com princípios éticos uma alternativa viável aos produtos financeiros convencionais. Apesar dos desafios relacionados à liquidez, custos operacionais e conscientização do mercado, o crescimento constante dos ativos sob gestão indica uma demanda sustentada por esses produtos.
À medida que o mercado amadurece, espera-se maior diversificação além dos ETFs lastreados em ouro, com desenvolvimento de produtos temáticos que atraiam tanto investidores muçulmanos quanto não-muçulmanos interessados em investimentos éticos. A educação financeira e o desenvolvimento de infraestruturas de mercado mais robustas em regiões emergentes serão cruciais para sustentar esse crescimento.
O alinhamento natural entre os princípios da finança islâmica e os critérios ESG posiciona estrategicamente os ETFs islâmicos para capitalizar sobre a crescente tendência global de investimentos responsáveis, potencialmente ampliando seu apelo para além dos mercados tradicionais. No entanto, a capacidade da indústria de superar os desafios estruturais de custos e liquidez determinará seu sucesso de longo prazo e a competitividade frente às alternativas convencionais.
Referências
- Islamic ETFs find favour among investors, though growth challenges persist. Salaam Gateway – Global Islamic Economy Gateway.
- Solving the Dynamics of Shariah in ETFs & ETNs. Shariyah Review Bureau.
- The Growth of Passive Investments in Islamic Finance: Trends and Implications. S&P Global.
- Halal ETFs Compared: The Ultimate Guide. Amal Invest.
- Best Halal ETFs to Invest in 2025. Musaffa Academy.
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