O mercado de cosméticos halal está em ascensão, com consumidores em todo o mundo buscando produtos que não apenas respeitem os princípios islâmicos, mas também atendam a rigorosos padrões de qualidade e segurança. A certificação halal para cosméticos envolve um conjunto de normas que garantem a conformidade com a Sharia, além de requisitos internacionais para segurança e boas práticas de fabricação. Neste contexto, normas como as da OIC/SMIIC (Organisation of Islamic Cooperation), GSO (Gulf Cooperation Council) e MS (Malásia) são complementares aos padrões globais, como as normas ISO e o Regulamento Europeu (EC) No 1223/2009. Este artigo oferece uma análise detalhada dos principais requisitos técnicos para cosméticos halal, explorando como essas normas islâmicas se integram às regulamentações internacionais.
O que define um cosmético halal?
Os cosméticos halal seguem princípios rigorosos da Sharia em todas as etapas de sua produção. Para serem certificados como halal, os produtos devem atender a vários requisitos:
- Proveniência dos ingredientes: Todos os ingredientes utilizados devem ser permitidos pela Sharia (halal), sem conter substâncias proibidas (haram), como ingredientes de origem suína, álcool intoxicante e sangue. Ingredientes de origem animal devem ser provenientes de abates de acordo com a lei islâmica.
- Processamento e produção: A produção de cosméticos halal deve evitar qualquer contaminação cruzada com substâncias proibidas. Equipamentos e áreas de fabricação devem ser higienizados e esterilizados de acordo com os procedimentos e rituais de purificação islâmica, e garantir a segregação de ingredientes halal e não-halal.
- Rotulagem e rastreabilidade: A rastreabilidade dos ingredientes é essencial, desde a origem das matérias-primas até a distribuição. A rotulagem deve ser clara e indicar que o produto é halal, sem ambiguidade, além de respeitar os princípios religiosos de não uso de imagens vulgares.
Esses princípios são detalhados em normas regionais e internacionais, que formam a base do mercado de cosméticos halal.
Normas Halal: SMIIC, GSO e MS
As normas da OIC/SMIIC fornecem diretrizes para garantir que os produtos cosméticos sejam conformes com a Sharia. A SMIIC 4:2018 é amplamente utilizada e cobre todas as etapas da produção de cosméticos, desde a seleção de ingredientes até o armazenamento e embalagem, garantindo que não haja contaminação com substâncias impuras (najs). A norma também estabelece requisitos para a certificação halal, garantindo que uma autoridade reconhecida avalie e certifique o processo de produção.
Nos países do Golfo, as normas GSO desempenham um papel central na definição de diretrizes para cosméticos halal. A GSO 1943:2021 é particularmente relevante, pois define os requisitos de segurança e pureza dos produtos cosméticos. Além disso, a GSO 2055-1 trata diretamente dos requisitos para certificação halal de cosméticos e alimentos, detalhando a necessidade de segregação física e limpeza adequada dos equipamentos, além da rastreabilidade completa dos ingredientes.
Na Malásia, a certificação halal segue as normas MS 2200 e MS 2634. A MS 2634:2019 oferece uma abordagem abrangente para a produção de cosméticos halal, com foco na rastreabilidade dos ingredientes e na garantia de que as instalações de produção sejam limpas e livres de substâncias proibidas. A norma também enfatiza a necessidade de que todos os produtos sejam certificados por uma autoridade reconhecida, como o JAKIM (Departamento de Desenvolvimento Islâmico da Malásia), ou uma autoridade certificadora aprovada e acreditada pela JAKIM.
Integração com as Normas ISO
As normas halal são complementares às normas globais de qualidade e segurança, como as normas ISO. A ISO 22716 estabelece diretrizes para Boas Práticas de Fabricação (GMP) de cosméticos, abordando desde a manipulação de ingredientes até o controle de qualidade. Esta norma exige que os fabricantes implementem sistemas de controle rigorosos para garantir a segurança dos ingredientes e a higiene no processo de fabricação. A ISO 22716 cobre também procedimentos de limpeza e desinfecção, que complementam as exigências de segregação halal, e reforça a necessidade de rastreabilidade dos produtos.
Outra norma relevante é a ISO 22715, que estabelece requisitos para a embalagem e rotulagem de cosméticos. Esta norma exige que as embalagens dos produtos cosméticos sejam feitas de materiais adequados, garantindo que não prejudiquem a qualidade do produto ou comprometam a segurança dos consumidores. Para cosméticos halal, a ISO 22715 complementa as exigências de rotulagem claras e informativas, alinhadas aos princípios islâmicos, assegurando que os consumidores tenham total transparência sobre os ingredientes e a conformidade halal do produto.
A ISO 18416 oferece diretrizes para a detecção de Candida albicans e outros contaminantes microbiológicos, garantindo que os produtos cosméticos sejam seguros para o uso. Este padrão se alinha perfeitamente com os requisitos halal, que exigem que os produtos sejam não apenas halal, mas também seguros e de alta qualidade (halalan tayyiban).
Regulamento Europeu (EC) No 1223/2009
A Regulamentação (EC) No 1223/2009 do Parlamento Europeu estabelece as normas para a segurança de produtos cosméticos na União Europeia. Este regulamento é aplicável a todos os produtos cosméticos colocados no mercado europeu, exigindo que os produtos sejam seguros para o uso humano e que sejam submetidos a uma avaliação de segurança antes de sua comercialização. A avaliação deve ser conduzida por um avaliador qualificado e incluir a análise de todos os ingredientes, o processo de fabricação e os possíveis efeitos adversos do uso do produto.
O regulamento também proíbe o uso de certas substâncias perigosas em cosméticos, como o mercúrio e outros compostos tóxicos. Isso está em conformidade com os requisitos das normas halal, que proíbem substâncias prejudiciais ou impuras. Outro ponto de convergência entre o regulamento europeu e as normas halal é a exigência de rotulagem clara e transparente. O regulamento europeu exige que todos os ingredientes sejam listados no rótulo, e a rastreabilidade é um requisito obrigatório. A conformidade com esses princípios de rastreabilidade é essencial para garantir que os cosméticos halal possam ser comercializados de forma segura na UE.
Além disso, a regulamentação europeia proíbe testes de cosméticos em animais, uma prática que também é vista com desagrado em muitas interpretações dos princípios islâmicos. A interseção desses regulamentos reforça a capacidade de produtos cosméticos halal em atender tanto aos requisitos religiosos quanto às exigências internacionais de segurança e responsabilidade ética.
Requisitos Técnicos Combinados
Os requisitos para cosméticos halal e as normas internacionais de segurança e qualidade, como as normas ISO e o Regulamento Europeu, são complementares. A seguir estão os principais requisitos técnicos combinados para a produção de cosméticos halal:
Seleção de Ingredientes Normas halal exigem que os ingredientes sejam halal, livres de substâncias proibidas, como derivados de porco e álcool intoxicante. A rastreabilidade dos ingredientes é essencial, desde sua origem até o produto final. A avaliação de segurança, exigida pelo Regulamento Europeu, deve considerar a toxicidade de cada ingrediente e sua adequação para o uso humano.
Processamento e Fabricação As normas halal exigem a segregação física e a limpeza rigorosa dos equipamentos utilizados na fabricação de cosméticos halal. Em caso de contaminação com substâncias proibidas, o processo de purificação islâmica, como o sertu, deve ser realizado. A ISO 22716 exige que as práticas de higiene e segregação sejam seguidas durante todo o processo de produção, garantindo a qualidade do produto.
Rotulagem e Embalagem As normas halal e a ISO 22715 exigem que os produtos sejam rotulados de maneira clara e informativa, para que os consumidores tenham certeza de que o produto é halal. O Regulamento Europeu complementa essa exigência ao impor uma lista detalhada de ingredientes no rótulo, garantindo a transparência e a segurança para o consumidor.
Certificação e Conformidade A certificação halal é obrigatória nas normas SMIIC, GSO e MS, e deve ser realizada por uma autoridade reconhecida e acreditada. A rastreabilidade total dos ingredientes e processos é um requisito fundamental. O Regulamento Europeu exige um Dossiê de Informação sobre o Produto (DIP), que inclui detalhes sobre a formulação, avaliações de segurança e métodos de fabricação. Isso complementa as exigências halal de rastreabilidade e transparência.
Conclusão: A Convergência de Normas Halal e Internacionais
A produção de cosméticos halal exige um equilíbrio entre conformidade religiosa e requisitos técnicos rigorosos. As normas SMIIC, GSO e MS oferecem diretrizes específicas para garantir que os produtos sejam produzidos de acordo com a Sharia, enquanto as normas ISO e o Regulamento (EC) No 1223/2009 garantem que esses produtos atendam aos mais altos padrões de segurança e qualidade.
A integração dessas normas garante que os cosméticos halal sejam não apenas seguros e éticos, mas também adequados para o mercado global. Combinando a conformidade religiosa com os rigorosos requisitos internacionais de segurança, as empresas podem atender tanto aos consumidores muçulmanos quanto às expectativas de qualidade e responsabilidade dos mercados internacionais.
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