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Malásia Propõe Criação do Conselho Halal da ASEAN para Fortalecer Comércio Regional

A Malásia apresentou uma proposta para a criação de um Conselho Halal da ASEAN com o objetivo de fortalecer a cooperação estratégica na indústria Halal regional, facilitar o trânsito de produtos Halal entre países e impulsionar o comércio intra-ASEAN, que ainda não atingiu seu potencial máximo. A iniciativa foi apresentada durante uma sessão de mesa redonda da indústria Halal entre Malásia e Indonésia, realizada em Jacarta em 22 de abril de 2025.

Nova Plataforma para Integração do Mercado Halal Regional

Segundo Khairul Azwan Harun, presidente da Halal Development Corporation (HDC), a proposta foi apresentada durante encontro que contou com a presença do Vice-Primeiro-Ministro da Malásia, Datuk Seri Dr. Ahmad Zahid Hamidi, e do chefe da Agência Organizadora de Garantia de Produtos Halal da Indonésia (BPJPH), Ahmad Haikal Hassan.

“Este Conselho Halal da ASEAN servirá como plataforma para agilizar o comércio, expandir mercados e harmonizar o uso de logotipos Halal, além de aproveitar um mercado regional de quase 700 milhões de pessoas”, afirmou Azwan em declarações à imprensa.

Durante a conferência, ambos os países também propuseram facilitar a entrada de produtos Halal através do reconhecimento mútuo de certificados Halal malaios e indonésios, eliminando a necessidade de procedimentos ou inspeções adicionais. Esta medida visa não apenas economizar custos e tempo, mas também impulsionar significativamente o comércio bilateral entre Malásia e Indonésia, especialmente para micro, pequenas e médias empresas que buscam penetrar um mercado combinado de mais de 240 milhões de muçulmanos.

Reconhecimento Mútuo de Certificações como Estratégia de Crescimento

A implementação do reconhecimento mútuo de certificações representaria uma mudança significativa para o mercado Halal regional. “Produtos malaios certificados como Halal e regulados pelo Departamento de Desenvolvimento Islâmico da Malásia (JAKIM) poderão ser comercializados diretamente na Indonésia, e vice-versa. Esta é uma virada de jogo que aumentará imediatamente o valor de exportação de nossos produtos Halal”, destacou Azwan.

O presidente da HDC também mencionou que a Malásia e a Indonésia concordaram em liderar esforços para melhorar o comércio intra-ASEAN, particularmente para produtos Halal, a fim de capitalizar o potencial do mercado Halal regional, atualmente avaliado em aproximadamente US$ 1,3 trilhão.

“A Malásia e a Indonésia desempenham um papel catalisador neste esforço, pois ambas são as maiores economias islâmicas da região. O fortalecimento do comércio Halal entre os países da ASEAN posicionará o grupo como um bloco econômico Halal competitivo”, acrescentou.

Diplomacia Halal: Estratégia para Liderança Global

Azwan observou que esses resultados estratégicos estão alinhados com a estrutura de Diplomacia Halal delineada pelo governo por meio da HDC para garantir que a Malásia permaneça líder global na indústria Halal. A implementação das três iniciativas-chave será refinada na reunião do Conselho de Desenvolvimento da Indústria Halal em 29 de maio, presidida por Ahmad Zahid, antes de ser oficialmente finalizada pelo Secretariado da ASEAN.

O conceito de diplomacia Halal, liderado por Ahmad Zahid, concentra-se em compartilhar a experiência da Malásia no desenvolvimento do ecossistema Halal com países amigos, particularmente dentro da ASEAN. Esta abordagem já tem rendido frutos significativos para a Malásia em suas relações comerciais internacionais. Em setembro de 2024, durante uma visita de trabalho à China, o Vice-Primeiro-Ministro da Malásia conseguiu desbloquear potencial de investimento de aproximadamente RM4 bilhões de players da indústria Halal chinesa.

Expansão para Novos Mercados e Transformação Digital

A Malásia, através da HDC, adotou uma abordagem proativa para expandir a influência da indústria Halal em mercados não tradicionais, como Norte da África, Ásia Central e Ásia Ocidental, por meio da estratégia de “diplomacia Halal”.

“Não podemos avançar sozinhos. Malásia e Indonésia precisam colaborar como uma entidade Halal unificada da ASEAN para atender à demanda do mercado Halal global, já que os países produtores só conseguem atender a 20% dos requisitos”, explicou Azwan.

De acordo com o Plano Diretor da Indústria Halal (HIMP 2030), a Malásia almeja alcançar valores de exportação Halal superiores a RM260 bilhões até 2030, promovendo seis setores-chave: alimentos e bebidas, ingredientes, logística, cosméticos e nutracêuticos, dispositivos médicos e produtos farmacêuticos.

Azwan também instou os atores da indústria Halal a serem mais agressivos na realização da transformação digital do sistema Halal, incluindo certificação e normas, para garantir que a Malásia mantenha sua posição como ecossistema Halal global líder. Esta transformação é considerada crucial para aumentar a eficiência e transparência da cadeia de suprimentos Halal, em linha com tecnologias avançadas e demandas de mercado cada vez mais sofisticadas.

Uma abordagem baseada em ciência, tecnologia e inovação (CTI) também é vista como um impulsionador fundamental na revolução do sistema Halal local através de tecnologias como blockchain, inteligência artificial e Internet das Coisas.

“A transformação digital não apenas acelerará os processos de certificação, mas também aumentará a confiança do consumidor e facilitará o monitoramento da conformidade com as normas Halal em toda a cadeia de valor. A Malásia, que há muito tempo é referência no desenvolvimento da indústria Halal global, agora enfrenta o desafio de permanecer relevante na era digital”, concluiu Azwan.

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AgroInsight origem Animal - Volume 04

Análise do AGROINSIGHT 2025 V4 – Origem Animal – com Foco no Halal

O AGROINSIGHT Volume 4, dedicado aos produtos de origem animal, apresenta-se como uma ferramenta estratégica para exportadores brasileiros interessados em expandir sua presença no mercado internacional. Desenvolvido pela Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI) do Ministério da Agricultura e Pecuária, com apoio da rede de adidos agrícolas presentes em 38 países, este documento analisa oportunidades de negócios para produtores, exportadores e associações setoriais que buscam crescimento sustentável e competitivo no cenário global, com particular relevância para os mercados Halal.

O Valor Estratégico do AGROINSIGHT para o Setor Exportador

O AGROINSIGHT nasce do compromisso do Ministério da Agricultura e Pecuária com o fortalecimento da presença do agronegócio brasileiro no mercado internacional. Sob a liderança do ministro Carlos Fávaro e do secretário Luis Rua, o relatório oferece análises estratégicas que vão além de simples compilações de dados, estabelecendo-se como uma verdadeira ponte entre o agronegócio brasileiro e os mercados globais.

A publicação reúne informações detalhadas sobre consumo, produção, comércio exterior e tendências de mercado para produtos de origem animal em diversas economias ao redor do mundo. Com foco especial em identificar oportunidades para exportadores brasileiros, o documento apresenta avaliações precisas de mercados potenciais, incluindo aqueles onde produtos Halal possuem demanda crescente e representam uma oportunidade de diferenciação.

Para exportadores focados em mercados Halal, o relatório oferece insights valiosos sobre preferências de consumo, requisitos regulatórios específicos e estratégias de acesso a mercados com grandes populações muçulmanas. Essa orientação estratégica permite que empresas brasileiras possam desenvolver abordagens customizadas para mercados com características culturais e religiosas específicas.

Panorama Global e Tendências para Produtos de Origem Animal

O cenário global para produtos de origem animal apresenta-se dinâmico e em constante transformação, influenciado por fatores como mudanças nas preferências dos consumidores, preocupações com sustentabilidade e bem-estar animal, além de requisitos religiosos como a certificação Halal. A análise apresentada no AGROINSIGHT 2025 revela tendências que moldarão o futuro desse setor.

Observa-se crescente demanda por proteínas animais em mercados emergentes, impulsionada pelo aumento da renda e urbanização acelerada. Países muçulmanos, em particular, mostram expansão consistente no consumo de carnes, lácteos e ovos, acompanhada por maior exigência quanto à qualidade e conformidade com preceitos religiosos.

Outra tendência significativa é a valorização de certificações e rastreabilidade como fatores de diferenciação e acesso a mercados premium. Para produtos Halal, a certificação representa não apenas um requisito religioso, mas cada vez mais um símbolo de qualidade, pureza e conformidade com normas rigorosas de produção e processamento.

A diversificação do portfólio de produtos também emerge como estratégia importante. Mercados tradicionalmente associados a produtos Halal, como os países do Oriente Médio, mostram interesse crescente em categorias antes pouco exploradas, como alimentos para animais de estimação, insumos genéticos e produtos apícolas especializados, abrindo novas fronteiras para exportadores brasileiros.

Mercados Prioritários para Produtos Halal: Análises e Oportunidades

Arábia Saudita: Diversificação Além dos Produtos Cárneos Tradicionais

A Arábia Saudita tem tradicionalmente sido um importante mercado para produtos cárneos Halal, mas o AGROINSIGHT 2025 revela oportunidades emergentes em segmentos até então pouco explorados pelos exportadores brasileiros. Um exemplo notável é o mercado de alimentos para animais de estimação, que movimenta aproximadamente 1,2 bilhão de dólares no país, com uma taxa de crescimento superior a 8,2% ao ano.

O relatório indica que o mercado de pet food corresponde a 64% do mercado de suprimentos para animais de estimação na Arábia Saudita, totalizando cerca de 730 milhões de dólares. Em 2023, o país importou 58 milhões de dólares em alimentos para cães e gatos, com o Brasil respondendo por 3% desse valor, uma participação que poderia ser consideravelmente ampliada.

O documento destaca uma mudança importante nas atitudes dos consumidores sauditas em relação aos animais de estimação. Nos últimos anos, houve um aumento notável na diversidade de animais, com mais pessoas adquirindo não apenas gatos, mas também cães, aves, peixes ornamentais e outras espécies. Essa transformação social abre novos horizontes para exportadores brasileiros que atuam nesse segmento.

Para empresas interessadas em explorar esse mercado, o relatório sugere a participação na Saudi Pet & Vet Expo, que ocorrerá em novembro de 2025 em Riade, como uma plataforma estratégica para estabelecer contatos e compreender melhor as tendências e preferências locais.

Argélia: Festividades Religiosas como Oportunidades Estratégicas

O AGROINSIGHT 2025 apresenta uma análise detalhada sobre como as festas islâmicas no calendário argelino geram sazonalidade no comércio de alimentos, especialmente produtos de origem animal. Datas como Ramadã, Eid al Fitr e Aid Al-Adha são identificadas como períodos críticos que demandam planejamento estratégico por parte de exportadores interessados no mercado argelino.

O relatório revela que a Argélia enfrenta desafios significativos em sua produção local de carne ovina, devido principalmente à seca prolongada na região do Magrebe, que afetou tanto a quantidade quanto a qualidade da forragem disponível. Esta situação, combinada com a forte demanda religiosa, elevou os preços do carneiro vivo a patamares proibitivos para muitas famílias argelinas, chegando a 445 dólares em 2024, equivalente a aproximadamente três salários mínimos no país.

Uma oportunidade específica destacada no documento é o anúncio feito pelo presidente argelino Abdelmadjid Tebboune sobre a importação de um milhão de ovinos, isentos de impostos, para garantir a celebração da festa Aid Al-Adha. Este projeto ambicioso, estimado em 260 milhões de dólares, visa atender cerca de 25% da demanda nacional por ovinos e representa uma janela estratégica para fornecedores internacionais, incluindo o Brasil.

O relatório menciona que, entre os potenciais fornecedores com normas sanitárias confiáveis para este projeto, estão países como Romênia, Espanha, Irlanda, Reino Unido, Argentina, Brasil e Austrália. Para o Brasil, apesar da desvantagem logística da distância, a competitividade em preços e a reconhecida qualidade de seus produtos representam fatores favoráveis nesta equação comercial.

Egito: Potencial Crescente no Mercado de Carnes Ovinas e Caprinas

O mercado egípcio para carnes de ovinos e caprinos apresenta oportunidades significativas para exportadores brasileiros, conforme análise do AGROINSIGHT 2025. Em 2023, o Egito importou 17,5 milhões de dólares destes produtos, posicionando-se como o 40º maior importador mundial, com potencial de expansão considerável nos próximos anos.

Um fator facilitador para o acesso ao mercado egípcio é a ausência de barreiras tarifárias, já que a tarifa de importação padrão do país para carnes de ovinos e caprinos é de 0%, inclusive para produtos brasileiros. Este cenário cria condições favoráveis para exportadores que conseguem oferecer produtos competitivos e que atendam aos requisitos Halal.

O relatório destaca que a produção local egípcia de carne ovina tem apresentado uma tendência de queda, com uma redução anual média de 2,03% nos últimos cinco anos. Projeções indicam que este declínio deve continuar, resultando em uma diminuição estimada de 8,78% até 2028. Esta redução na produção doméstica, combinada com o crescimento populacional e a demanda por proteína animal, amplia a necessidade de importações.

Embora atualmente o Brasil não possua participação significativa neste mercado, o documento identifica potencial para exportadores brasileiros que consigam superar desafios como a forte concorrência de fornecedores estabelecidos como Austrália, Uruguai e Estados Unidos. O desenvolvimento de estratégias específicas para este mercado, incluindo certificação Halal adequada e parcerias locais estratégicas, poderia abrir portas para uma presença brasileira mais significativa.

Bangladesh: Oportunidades Emergentes no Mercado de Ovos e Proteínas

Bangladesh emerge no AGROINSIGHT 2025 como um mercado de alto potencial para exportadores brasileiros de ovos e ovoprodutos. Com uma população de aproximadamente 180 milhões de habitantes e crescimento econômico consistente, o país apresenta demanda crescente por proteína animal de qualidade.

O relatório destaca que Bangladesh possui um consumo per capita de ovos de 3,92 kg/pessoa/ano, posicionando o país como o 18º principal consumidor mundial. Apesar deste número expressivo, o consumo ainda está muito abaixo de países como China, Japão, EUA e Canadá, indicando amplo potencial de crescimento futuro.

Um aspecto relevante apontado pelo documento é a vulnerabilidade do país a eventos climáticos extremos, que frequentemente afetam a produção local e elevam os preços internos. Em 2024, por exemplo, o preço dos ovos aumentou 20,41% em relação ao ano anterior, principalmente devido a enchentes e outros eventos climáticos. Nestes períodos, o governo autoriza importações para estabilizar os preços, criando oportunidades pontuais para fornecedores estrangeiros.

As exportações brasileiras de ovo em pó para Bangladesh já mostraram resultados promissores, com valores de aproximadamente 375 mil dólares em 2021 e 356 mil dólares em 2022. O relatório sugere que exportadores interessados neste mercado trabalhem com parceiros locais e participem de feiras e exposições setoriais para melhor compreender as particularidades do mercado de Bangladesh.

Estratégias de Diferenciação e Agregação de Valor para Produtos Halal

O AGROINSIGHT 2025 apresenta insights valiosos sobre estratégias de diferenciação que podem ser aplicadas por exportadores de produtos Halal. Um caso emblemático destacado é o do mel de Manuka da Nova Zelândia no mercado chinês, que alcança preços até dez vezes superiores ao mel comum graças a estratégias eficientes de branding, certificação rigorosa e posicionamento premium.

Este exemplo, embora não diretamente relacionado a produtos Halal, ilustra princípios aplicáveis a diversos produtos de origem animal destinados a mercados exigentes. O relatório destaca como a Nova Zelândia investiu em certificações de qualidade e origem, desenvolveu embalagens sofisticadas, implementou sistemas de rastreabilidade e estabeleceu parcerias estratégicas com plataformas de e-commerce chinesas.

Para produtos Halal, o documento sugere que estas estratégias podem ser ainda mais efetivas quando combinadas com certificação religiosa reconhecida e narrativas que ressaltem valores como pureza, autenticidade e respeito a tradições. Exportadores brasileiros poderiam, por exemplo, diferenciar méis especiais como o de aroeira ou de cipó-uva em mercados muçulmanos, destacando suas propriedades medicinais únicas e conformidade com requisitos Halal.

Outra estratégia de diferenciação identificada no relatório é o investimento em genética animal de alta qualidade. Os relatórios sobre a Colômbia e a Costa Rica evidenciam demanda crescente por material genético bovino para melhoramento de rebanhos locais. Embora não diretamente relacionada a produtos finais Halal, a exportação de sêmen e embriões representa uma oportunidade de alto valor agregado que pode facilitar a criação de relacionamentos comerciais duradouros.

Desafios Sanitários e Requisitos Regulatórios em Mercados Prioritários

Um aspecto crucial abordado pelo AGROINSIGHT 2025 são os desafios sanitários e requisitos regulatórios que impactam o comércio internacional de produtos de origem animal, especialmente aqueles destinados a mercados Halal. O relatório apresenta análises detalhadas sobre questões como surtos de febre aftosa na Coreia do Sul e mudanças nas normas sanitárias na Argentina, destacando a importância do monitoramento constante destes fatores.

No caso específico de produtos Halal, o documento enfatiza que os exportadores precisam estar atentos não apenas às certificações religiosas, mas também a requisitos técnicos e sanitários específicos de cada mercado. Na Arábia Saudita, por exemplo, o relatório menciona que as exportações de alimentos para animais de estimação podem ser realizadas com Certificado Sanitário Internacional (CSI) sem necessidade de certificação Halal, enquanto outros produtos exigem documentação mais específica.

O relatório também destaca a importância da adaptação às particularidades de cada mercado. Na Argélia, por exemplo, a importação de ovinos para a festa Aid Al-Adha requer animais saudáveis, vacinados, com pelo menos seis meses de idade e pesando entre 40 e 45 quilos. Compreender e atender a requisitos específicos como estes é fundamental para o sucesso em mercados muçulmanos.

Outro aspecto relevante mencionado é a necessidade de estabelecer relacionamentos com autoridades sanitárias dos países importadores. O documento destaca que, em muitos casos, a abertura de mercados e a habilitação de estabelecimentos exigem negociações técnicas detalhadas e, por vezes, visitas de inspeção. Exportadores brasileiros devem estar preparados para estes processos, que podem ser demorados, mas são essenciais para garantir acesso sustentável a mercados prioritários.

Diversificação de Oportunidades Além do Foco Halal: Análises Setoriais

O relatório AGROINSIGHT Volume 4 apresenta um panorama abrangente de oportunidades para o agronegócio brasileiro de origem animal, que se estendem para além dos mercados com requisitos Halal específicos. Essas análises cobrem diversos produtos e geografias, revelando potenciais em segmentos de alto valor agregado e nichos específicos. É importante ressaltar que, embora o documento original inclua análises sobre o mercado de carne suína, como as oportunidades no Canadá, optamos por não detalhar este segmento neste artigo em consideração aos princípios islâmicos que guiam parte significativa do nosso público e da análise focada nos mercados Halal. Para uma visão completa que abranja todos os setores, incluindo o suíno, recomenda-se a consulta integral ao relatório AGROINSIGHT.

Subprodutos Animais para Uso Industrial na Alemanha

A Alemanha demonstra um mercado consolidado e tecnologicamente avançado para o aproveitamento de subprodutos animais não comestíveis. O país possui uma indústria robusta que transforma matérias-primas como gorduras, farinhas, tripas, peles e ossos em produtos para diversos setores.

  • Aplicações: Os subprodutos são utilizados em rações (especialmente pet food, um mercado estimado em US$ 6 bilhões na Alemanha em 2024), na indústria oleoquímica, farmacêutica (hemoderivados, colágeno), cosmética, de fertilizantes e bioenergia, incluindo a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF). A parceria entre a alemã SARIA e a francesa TotalEnergies prevê o fornecimento de gorduras animais para produção de até 285 mil toneladas de SAF por ano a partir de 2025.
  • Mercado: Em 2024, excluindo hemoderivados (que podem ter origem humana), a Alemanha importou cerca de US$ 1,12 bilhão (aproximadamente 820 mil toneladas) em gorduras, farinhas e subprodutos in natura impróprios para consumo humano. A China liderou as exportações (20%), seguida pelos Países Baixos (15%) e Polônia (8%). O Brasil participou com US$ 26,5 milhões nesse segmento em 2024. O setor de pet food alemão, o maior da UE, faturou €4,5 bilhões em 2023 (+11,4%) e tem projeção de alcançar US$ 8,4 bilhões em 2029.
  • Regulamentação: O mercado é regulado pela UE (Regulamento (CE) n.º 1069/2009), categorizando subprodutos (1, 2 e 3) com base no risco sanitário. O acesso exige registro no TRACES-NT e cumprimento de normas sanitárias rigorosas.

Genética Bovina de Alto Valor na Colômbia e Costa Rica

Ambos os países apresentam uma demanda crescente por material genético bovino (sêmen e embriões) como parte de seus esforços para modernizar a pecuária, aumentar a produtividade e alinhar-se a metas de sustentabilidade.

  • Colômbia: Com um rebanho de cerca de 30,3 milhões de cabeças e 80% da área agropecuária dedicada à pecuária (predominantemente extensiva), a Colômbia busca melhorar a qualidade genética através de programas como o “Embriogán” (Fedegan) e o “Conpes Lácteo” (Agrosavia), focados em transferência de embriões e melhoramento de rebanhos leiteiros e de dupla aptidão. O Brasil já possui acesso sanitário e suas exportações globais de genética bovina vêm crescendo, indicando potencial de expansão na Colômbia.
  • Costa Rica: O país implementou o Sistema Nacional de Identificação e Rastreabilidade e o Plano Nacional de Melhoramento Genético (2020-2034). Com um rebanho de mais de 1,6 milhão de cabeças (dados de 2019) e a meta de ser carbono neutro até 2050, a melhoria genética é chave para a eficiência. Em 2024, a Costa Rica importou US$ 1,844 milhão em sêmen bovino. Os EUA foram o maior fornecedor (US$ 892 mil), mas o Brasil foi o segundo (US$ 513 mil), com tendência de crescimento desde 2020.

Nichos Específicos e Outras Potencialidades

O relatório identifica oportunidades em produtos específicos e analisa dinâmicas de mercados concorrentes.

  • Carne de Peru (Chile): O consumo no Chile é consolidado (2,5 kg/pessoa/ano), mas a produção local (~63.000 toneladas em 2024) enfrenta desafios (comercialização de cortes escuros, menor rendimento, desafios sanitários), com tendência de encerramento da única planta de abate dedicada. Isso aumenta a dependência de importações. Em 2024, as importações de partes e miúdos do Brasil cresceram 66,6% (para 6.298,6 toneladas) e as de peito sem osso brasileiro aumentaram 81% (para 5.330,2 toneladas), comparado a 2023. Vantagens brasileiras incluem proximidade, acordos comerciais (tarifa zero), sistema sanitário robusto (livre de IAAP em granjas comerciais) e reconhecimento pelo consumidor chileno, especialmente frente a surtos de influenza aviária nos EUA.
  • Carne Mecanicamente Separada (CMS) e Processados (África do Sul): O mercado sul-africano de processados movimenta US$ 1,5 bilhão (2025 proj.). A indústria local depende fortemente do CMS de frango brasileiro (290 mil das 334 mil toneladas de aves exportadas pelo Brasil em 2024), que tem tarifa zero, enquanto produtos processados finais enfrentam tarifa de 15%. Isso favorece o processamento local. Oportunidades para o Brasil residem em nichos como bacons, presuntos, costelas pré-cozidas (alguns com tarifa zero) ou embutidos finos, além do investimento direto em plantas locais.
  • Carne Bovina (Austrália como Concorrente): A Austrália prevê produção e exportação recordes em 2025 (~2,62 milhões de toneladas produzidas, 1,38 milhão exportadas), impulsionada por eficiência (carcaças de ~300kg). O cenário global, com retração nos EUA e possível queda no Brasil, posiciona a Austrália como principal fornecedor em expansão. A recente tarifa de 10% imposta pelos EUA sobre carne australiana pode ter impacto limitado devido à alta demanda americana, competitividade de preço australiana e câmbio favorável (AUD/USD). Para o Brasil, isso pode abrir oportunidades em nichos premium, atrair compradores que buscam diversificar fornecedores e reforçar a imagem de parceiro confiável, especialmente na Ásia.
  • Questões Sanitárias: Relatórios sobre Argentina e Coreia do Sul destacam a importância do monitoramento de doenças como Febre Aftosa (FMD) e seus impactos nas regulações e fluxos comerciais, como a recente suspensão temporária da mudança de regras na Argentina sobre movimentação de carne com osso para a Patagônia e os focos controlados na Coreia do Sul em 2025.

Conclusão: Perspectivas e Estratégias para o Futuro

A análise do AGROINSIGHT 2025 revela um cenário promissor para exportadores brasileiros de produtos de origem animal em mercados Halal globais, mas que demanda preparação técnica, estratégica e cultural. O crescimento econômico em países muçulmanos, aliado ao aumento da demanda por proteínas animais de qualidade e ao reconhecimento da excelência brasileira em diversos setores, cria oportunidades significativas para diversificação e expansão.

Para aproveitar plenamente estas oportunidades, o relatório sugere uma abordagem multifacetada que combine: compreensão profunda das particularidades culturais e religiosas de cada mercado; adaptação de produtos e estratégias de comunicação; obtenção de certificações reconhecidas internacionalmente; desenvolvimento de parcerias locais estratégicas; e monitoramento contínuo de mudanças regulatórias e sanitárias.

O documento evidencia que o mercado Halal vai muito além dos produtos tradicionais como carne bovina e ovina, abrangendo segmentos diversos como alimentos para animais de estimação, mel, ovos e material genético. Esta diversidade permite que empresas brasileiras de diferentes portes encontrem nichos alinhados às suas capacidades e objetivos estratégicos.

As análises apresentadas no AGROINSIGHT 2025 reforçam o potencial do Brasil como fornecedor global de produtos de origem animal, incluindo aqueles destinados a mercados Halal. A combinação de capacidade produtiva, qualidade reconhecida, competitividade e adaptabilidade às exigências específicas posiciona o país de forma privilegiada para atender à crescente demanda por produtos Halal em mercados emergentes e tradicionais.

Como ponte estratégica entre o agronegócio brasileiro e os mercados globais, o AGROINSIGHT 2025 oferece não apenas dados e análises, mas um roteiro para empresas que buscam expandir sua presença internacional. Em um cenário de crescente competitividade e exigência, o acesso a informações qualificadas e a visão estratégica tornam-se diferenciais cruciais para o sucesso sustentável no complexo e promissor mercado global de produtos Halal.

Referências

  1. Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil. AGROINSIGHT, Volume 4 – Origem: animal. 2025.

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Secretário Geral do SMIIC Visita Autoridade Paquistanesa para Fortalecer Implementação de Normas Halal

Em movimento significativo para fortalecer a cooperação em padronização e acreditação entre países islâmicos, o Secretário Geral do Instituto de Normas e Metrologia para os Países Islâmicos (SMIIC), Ihsan Ovut, realizou uma visita oficial ao Conselho Nacional de Acreditação do Paquistão (PNAC), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Esta visita, ocorrida em 23 de abril de 2025, marca um passo importante na harmonização de normas Halal e no fortalecimento da infraestrutura de qualidade no mundo islâmico, com potencial impacto positivo para o comércio internacional de produtos Halal.

A Busca pela Harmonização de Normas Halal

A reunião entre Ihsan Ovut e o Diretor Geral do PNAC, Ateeq ur Rehman Memon, centrou-se na implementação das normas Halal do SMIIC no Paquistão, com ênfase especial nas normas OIC/SMIIC 2 e OIC/SMIIC 3. Estas normas são fundamentais para estabelecer requisitos consistentes para organismos que fornecem certificação Halal e para entidades de acreditação que supervisionam esses organismos certificadores, respectivamente.

O Paquistão tem demonstrado comprometimento com a adoção de normas harmonizadas, tendo já incorporado nove normas SMIIC em seu sistema nacional. Este processo de adoção, iniciado em 2022, representa um avanço significativo para garantir a credibilidade e aceitação global das certificações Halal emitidas no país. A implementação dessas normas visa remover barreiras comerciais e facilitar o comércio internacional de produtos Halal.

O Papel Crucial dos Acordos de Reconhecimento Mútuo

Durante o encontro, ambos os líderes destacaram a importância de fomentar acordos de reconhecimento multilateral (MRAs) entre os estados membros da Organização para Cooperação Islâmica (OIC). Estes acordos são instrumentos essenciais para estabelecer confiança mútua e facilitar o comércio entre nações islâmicas, eliminando a necessidade de múltiplas certificações para um mesmo produto.

Memon enfatizou a necessidade de maior aceitação do logotipo do SMIIC em todos os países islâmicos, o que contribuiria significativamente para a harmonização das práticas Halal e impulsionaria o comércio intra-OIC. A adoção universal deste símbolo representaria um passo importante para consumidores e produtores, simplificando a identificação de produtos genuinamente Halal em mercados globais.

Desafios da Multiplicidade de Normas Halal

Um dos maiores obstáculos para o crescimento da indústria Halal global é a multiplicidade de normas existentes. Atualmente, diversos países islâmicos possuem suas próprias normas Halal, incluindo Malásia, Indonésia, Brunei, Emirados Árabes Unidos e Paquistão. Esta diversidade, embora reflita particularidades culturais e interpretações religiosas locais, cria confusão e dificuldades para produtores, especialmente aqueles em países ocidentais que desejam exportar para mercados islâmicos.

A harmonização dessas normas tem sido um objetivo persistente do SMIIC, que trabalha para estabelecer uma infraestrutura de qualidade Halal global (OHAQ – OIC Global Halal Quality Infrastructure). Esta estrutura visa garantir a rastreabilidade dos produtos, aumentar a confiança dos consumidores, promover o reconhecimento mútuo entre certificações e diminuir barreiras técnicas ao comércio.

Evolução das Normas SMIIC

Desde sua criação, o SMIIC tem desenvolvido e atualizado continuamente suas normas para atender às necessidades do mercado Halal em expansão. As primeiras três normas OIC/SMIIC entraram em vigor em 17 de maio de 2011, estabelecendo diretrizes gerais para alimentos Halal, requisitos para organismos de certificação e diretrizes para entidades de acreditação.

Recentemente, o SMIIC anunciou a publicação de novas normas que abordam diferentes aspectos da inspeção Halal, produtos farmacêuticos e alimentação animal. Estas incluem a OIC/SMIIC 57:2022, que estabelece requisitos para organismos de inspeção Halal; a OIC/SMIIC 50-1:2022, que cobre a fabricação e transporte de produtos farmacêuticos Halal; e a OIC/SMIIC 23:2022, que delineia requisitos para preparação e produção de alimentos destinados a animais Halal.

Impacto para o Comércio Internacional de Produtos Halal

A visita do Secretário Geral do SMIIC ao PNAC reafirma a visão compartilhada de promover integração regional através de práticas padronizadas, marcando um passo positivo para maior colaboração em garantia de qualidade e avaliação de conformidade no mundo islâmico. Esta colaboração é particularmente importante em um contexto onde o mercado Halal global está em rápido crescimento, com um valor estimado de mercado de US$ 2,2 trilhões em 2018.

Para o Paquistão, a implementação efetiva das normas SMIIC representa uma oportunidade de fortalecer sua posição no mercado Halal internacional, garantindo que seus produtos sejam reconhecidos e aceitos globalmente. O Conselho Nacional de Acreditação do Paquistão lançou o Esquema de Acreditação Halal para estabelecer uma estrutura robusta para acreditação de organismos de certificação Halal no país, assegurando que produtos e serviços Halal originários do Paquistão atendam a normas internacionalmente reconhecidas.

Perspectivas Futuras para Harmonização Global

O futuro da harmonização das normas Halal depende da colaboração próxima entre as autoridades de todos os países envolvidos na emissão de certificações Halal. Apenas através dessa cooperação será possível alcançar um quadro regulatório homogêneo com procedimentos de certificação e acreditação unificados, cada vez mais necessários em um mercado globalizado.

O SMIIC, com seu Plano Estratégico 2021-2030, está comprometido em desenvolver normas de alta qualidade que sejam utilizadas mundialmente, apoiar as necessidades de seus membros e garantir o engajamento efetivo de suas partes interessadas, além de apoiar o aprimoramento da infraestrutura de qualidade e a interconectividade de seus membros.

Conclusão

A visita do Secretário Geral do SMIIC ao chefe do PNAC representa um marco importante no esforço contínuo para harmonizar normas Halal e fortalecer a infraestrutura de qualidade no mundo islâmico. Este encontro não apenas destaca o compromisso do Paquistão com a implementação de normas Halal internacionalmente reconhecidas, mas também reforça a importância da colaboração entre países islâmicos para enfrentar os desafios da indústria Halal global.

À medida que o mercado Halal continua a crescer, a harmonização de normas torna-se cada vez mais crucial para facilitar o comércio internacional e garantir a confiança dos consumidores. O trabalho do SMIIC e do PNAC exemplifica como a cooperação internacional pode contribuir para o desenvolvimento de um sistema Halal global que beneficie produtores, certificadores e, principalmente, consumidores muçulmanos em todo o mundo.

Referências

  1. UrduPoint. SMIIC Secretary General Calls On PNAC Chief To Bolster Halal Standards Implementation In Pakistan. https://www.urdupoint.com/en/pakistan/smiic-secretary-general-calls-on-pnac-chief-t-1968378.html
  2. Halalfocus. Pakistan has adopted and released 9 SMIIC Standards. https://halalfocus.com/pakistan-has-adopted-and-released-9-smiic-standards/
  3. SMIIC. New Halal Standards – SMIIC – News & Events. https://www.smiic.org/en/content/731
  4. SMIIC. New editions of OIC/SMIIC Halal Standards. https://www.smiic.org/en/content/573
  5. PNAC Islamabad. Halal Certification Bodies Accreditation (PS 4992). https://pnac.gov.pk/Services/Halal-Certification-Bodies
  6. ICDT-CIDC. OIC/SMIIC Standards on Halal Issues and Halal Quality Infrastructure. https://icdt-cidc.org/wp-content/uploads/SMIIC-and-halal-ICDT-070721.pdf

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Maldivas Acelera Integração das Finanças Islâmicas com Reforma no Financiamento Educacional

As Maldivas está em processo de transformação no cenário das finanças islâmicas, com ênfase particular na reformulação do sistema de financiamento educacional. Esta iniciativa representa um avanço significativo para posicionar o país como um centro regional de finanças Halal, integrando princípios islâmicos às estruturas financeiras existentes para educação superior. A mudança é parte de uma estratégia abrangente do governo para fortalecer o setor financeiro nacional enquanto mantém conformidade com os preceitos da Sharia, criando novas oportunidades para cidadãos maldivos buscarem educação superior através de mecanismos financeiros eticamente alinhados com suas crenças religiosas.

O Panorama das Finanças Islâmicas nas Maldivas

O desenvolvimento das finanças Halal nas Maldivas tem ganhado momentum significativo nos últimos anos, com o governo demonstrando comprometimento crescente em transformar o país em um hub regional para este segmento. A Autoridade Monetária das Maldivas (MMA) lançou a iniciativa Tamveel Islamic Finance, destinada a ampliar a conscientização pública e proporcionar treinamento especializado no setor de finanças islâmicas. Este programa ambicioso forma parte de uma estratégia maior para fortalecer a posição do país no sistema financeiro islâmico global, conforme declarado pelo Governador Munawwar da MMA, que expressou claramente que o objetivo é transformar as Maldivas em um centro importante no ecossistema financeiro islâmico.

O governo maldivo estabeleceu um Fundo de Desenvolvimento de Capacidades com uma alocação inicial de 5 milhões de MVR (rufias maldivas), recursos destinados a apoiar programas educacionais diversos e oportunidades de treinamento para construir expertise local em finanças islâmicas. A colaboração anunciada com o Centro Internacional para a Universidade de Finanças Islâmicas (ICFI) reforça este compromisso, facilitando a formação especializada na área e preparando profissionais capacitados para atuar neste mercado em expansão.

A criação de uma estrutura regulatória robusta para as finanças islâmicas também tem sido prioridade, com o Partido Democrático Maldivo (MDP) propondo a formulação de um plano diretor nacional para expansão adicional das finanças islâmicas no país. Estas ações demonstram reconhecimento governamental da importância estratégica deste setor não apenas para o desenvolvimento econômico nacional, mas também para atender as necessidades de uma população predominantemente muçulmana.

A Transformação do Financiamento Educacional

A pedra angular desta evolução financeira nas Maldivas é a reformulação do sistema de financiamento educacional para alinhá-lo com os princípios da Sharia. O Banco das Maldivas (BML) Islamic introduziu um novo produto de financiamento educacional baseado no conceito de Ijarah (arrendamento), uma estrutura compatível com os preceitos da Sharia que proporciona assistência financeira para maldivos que buscam educação superior em qualquer parte do mundo, desde cursos de nível certificado até doutorados.

Este financiamento educacional do BML Islamic permite que estudantes obtenham até 75% do custo total de sua educação, incluindo taxas de matrícula, despesas de subsistência e outros gastos relacionados, com uma taxa de 11% e um período de reembolso máximo de dez anos. Um aspecto fundamental deste produto é que os pagamentos só começam após a conclusão dos estudos, facilitando a jornada educacional sem sobrecarga financeira imediata para os estudantes. O financiamento está disponível mediante uma contribuição de capital de 25% e exige uma garantia equivalente a 150% do valor financiado.

Esta iniciativa representa um esforço significativo para corrigir as questões identificadas no Esquema Nacional de Empréstimos para Educação Superior (NSLS), que foi objeto de análise crítica quanto à sua conformidade com os princípios da Sharia. Estudos apontaram preocupações relacionadas à taxa de serviço de 1% e à ausência de supervisão formal da Sharia no esquema anterior, questões que o novo modelo busca resolver através de uma estrutura financeira mais transparente e inequivocamente compatível com os princípios islâmicos.

O Papel Transformador da Dra. Aishath Muneeza

Na vanguarda desta transformação está a Professora Dra. Aishath Muneeza, uma figura proeminente no desenvolvimento das finanças islâmicas nas Maldivas. Como Presidente do Comitê de Sharia de Investimentos Alia e correspondente do Islamic Finance News (IFN) para as Maldivas, a Dra. Muneeza tem sido instrumental na moldagem do panorama das finanças islâmicas no país. Sua trajetória impressionante inclui posições como primeira vice-ministra mulher do Ministério de Assuntos Islâmicos e vice-ministra do Ministério de Finanças e Tesouro das Maldivas.

A contribuição da Dra. Muneeza estende-se à criação do primeiro esquema de microfinanças compatível com a Sharia no país, demonstrando seu compromisso com soluções financeiras islâmicas inovadoras. Como conselheira de Sharia, ela desempenhou papel crucial na estruturação de ofertas corporativas de sukuk (títulos islâmicos) e instrumentos de tesouraria islâmica para entidades tanto públicas quanto privadas nas Maldivas. Sua expertise também foi fundamental na elaboração do arcabouço legal para o mercado de capitais islâmico do país.

Atualmente, além de suas funções acadêmicas como Decana Associada para Estudantes e Internacionalização na Universidade INCEIF, a Dra. Muneeza continua a influenciar o setor como membro do Comitê de Sharia da Munich Re e Diretora independente no Conselho da Amana Takaful Maldives, a única provedora de takaful (seguro islâmico) completo nas Maldivas. Sua visão e liderança têm sido catalisadoras para a evolução do sistema financeiro maldivo em direção a maior conformidade com os princípios islâmicos.

Implementação Prática e Impactos Esperados

A implementação do novo financiamento educacional islâmico representa uma oportunidade significativa para muitos potenciais estudantes maldivos que buscam meios compatíveis com a Sharia para realizar seus sonhos de educação superior. Conforme destacado pela Diretora de Bancos Islâmicos do BML, Suri Hanim Mohamed, os produtos do BML Islamic são desenvolvidos de acordo com padrões internacionais de excelência em bancos e finanças islâmicas, garantindo total conformidade com os preceitos da Sharia.

O impacto esperado desta iniciativa transcende o aspecto financeiro, pois aborda uma necessidade fundamental da população maldiva de ter acesso a serviços financeiros que respeitam seus valores religiosos. Ao proporcionar uma alternativa Halal ao financiamento educacional convencional, esta reforma permite que mais cidadãos maldivos busquem educação superior sem comprometer suas crenças, potencialmente elevando o nível educacional geral do país e contribuindo para seu desenvolvimento socioeconômico.

Esta transformação também se alinha com tendências globais no financiamento da educação superior em países de maioria muçulmana. Estudos indicam que instrumentos financeiros islâmicos como sukuk (títulos), waqf (doações) e zakat (caridade) podem ser utilizados efetivamente para financiar instituições de ensino superior, proporcionar bolsas de estudo para estudantes de origens desfavorecidas e financiar pesquisas, oferecendo soluções sustentáveis para os desafios de financiamento educacional.

Perspectivas Futuras para as Finanças Islâmicas nas Maldivas

A reforma no financiamento educacional representa apenas um aspecto de um movimento mais amplo nas Maldivas em direção à integração das finanças islâmicas em todos os setores da economia. O manifesto do MDP, por exemplo, propõe conduzir uma auditoria de reforma regulatória para modernizar o arcabouço regulatório do setor financeiro maldivo, facilitando um setor financeiro moderno e um mercado de capitais que prioriza as finanças islâmicas.

O estabelecimento das Maldivas como um centro regional de finanças islâmicas não apenas atenderia às necessidades financeiras domésticas de forma compatível com a Sharia, mas também poderia atrair investimentos internacionais, diversificando a economia para além do turismo. Esta diversificação é particularmente importante considerando a vulnerabilidade da economia maldiva, que depende fortemente do turismo.

A visão de longo prazo inclui desenvolver um sistema financeiro que permita às finanças islâmicas acessar mais convenientemente setores como bancos, seguros e fundos de pensão, criando um ecossistema financeiro Halal completo. Para concretizar esta visão, o contínuo desenvolvimento de capacidades locais em finanças islâmicas, através de iniciativas como o programa Tamveel e a colaboração com instituições educacionais, será crucial.

O movimento das Maldivas em direção a uma maior integração das finanças islâmicas, exemplificado pela reforma no financiamento educacional, representa um passo significativo na jornada do país para estabelecer um sistema financeiro que seja não apenas economicamente viável, mas também eticamente alinhado com os valores da população. Com liderança visionária, investimento em desenvolvimento de capacidades e reformas regulatórias contínuas, as Maldivas está bem posicionada para emergir como um modelo regional de finanças islâmicas integradas.

Referências

  1. BML Islamic introduces Education Financing – Raajje.mv
  2. A SHARI’AH ANALYSIS OF THE NATIONAL HIGHER EDUCATION LOAN SCHEME IN THE MALDIVES – IJIEF
  3. Innovative MMA Tamweel Initiative Seeks to Transform Islamic Finance – PSM News
  4. Dr. Aishath Muneeza – Hdfc.com.mv
  5. Dr Muneezaa Appointed to the Shariah Committee of Maldives Islamic Bank – MIB
  6. Associate Dean Prof Dr Aishath Muneeza (CoE ISF Member) for her contributions to Islamic finance – INCEIF

Malásia e Indonésia Firmam Acordo de Reconhecimento Mútuo para Certificações Halal

Malásia e Indonésia Firmam Acordo de Reconhecimento Mútuo para Certificações Halal

A Malásia e a Indonésia deram um passo significativo no fortalecimento de sua cooperação econômica e religiosa com o recente acordo de reconhecimento mútuo de certificações Halal. Este desenvolvimento representa um avanço crucial no posicionamento estratégico de ambos os países no mercado global Halal, projetado para atingir US$ 5 trilhões até 2030, e demonstra o compromisso contínuo das duas nações em harmonizar seus sistemas de garantia Halal para benefício mútuo e regional.

Fortalecimento da Cooperação Bilateral

Em uma reunião estratégica realizada em Jacarta em 22 de abril de 2025, o Vice-Primeiro-Ministro da Malásia, Datuk Seri Ahmad Zahid Hamidi, liderou uma mesa redonda de colaboração da indústria Halal entre Malásia e Indonésia. O encontro concentrou-se em abordar desafios relacionados ao comércio, explorar oportunidades de investimento e promover joint ventures entre empresas malaias e indonésias. Esta plataforma de alto nível reflete o compromisso compartilhado de fomentar a cooperação regional e impulsionar o crescimento inclusivo na economia Halal global.

A mesa redonda, organizada pela Halal Development Corporation Berhad (HDC), uma agência sob o Ministério de Investimento, Comércio e Indústria (MITI) da Malásia, continua sua missão de fortalecer a presença malaia na indústria Halal. Durante a reunião, foram enfatizadas estratégias acionáveis para sustentar e expandir os fluxos comerciais bilaterais, enquanto se capitaliza nas vantagens comparativas de cada país. Ahmad Zahid destacou que ambas as nações impulsionarão o crescimento inclusivo e criarão valor complementar para suas respectivas economias Halal, alinhando o Plano Diretor da Indústria Halal 2030 (HIMP 2030) da Malásia com o roteiro da economia Halal da Indonésia.

Histórico e Evolução do Acordo

A colaboração entre Malásia e Indonésia no setor Halal não é recente. Em junho de 2023, o Departamento de Desenvolvimento Islâmico da Malásia (JAKIM) e a Badan Penyelenggara Jaminan Produk Halal (BPJPH) da Indonésia já haviam assinado um acordo de cooperação sobre reconhecimento mútuo de certificados Halal. Este acordo foi formalizado durante uma série de reuniões entre o então Presidente da República da Indonésia, Joko Widodo, e o Primeiro-Ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, realizada na residência oficial do PM malaio, em Seri Perdana, Putrajaya.

O acordo inicial já havia estabelecido bases importantes para simplificar o acesso ao mercado, eliminando processos de certificação redundantes e facilitando o comércio transfronteiriço de produtos certificados em ambos os países. As discussões atuais representam uma evolução natural deste relacionamento, com foco em operacionalizar os princípios estabelecidos e ampliar o escopo da cooperação para incluir estratégias de marketing conjunto e desenvolvimento de capacidades.

Diferenças nos Sistemas de Gestão Halal

Um aspecto importante desta colaboração é o reconhecimento e a superação das diferenças existentes nos sistemas de gestão Halal entre os dois países. Estudos comparativos identificaram várias diferenças não conformes, incluindo o procedimento de certificação, o período de validade do certificado, as categorias de produtos Halal e o número de comitês Halal internos. Além disso, existem diferenças essenciais como a obrigatoriedade do certificado Halal, a regulamentação de atordoamento em abates e as considerações relativas a nomes de produtos, marcas ou sinônimos considerados Halal.

A implementação da certificação Halal obrigatória pela Indonésia em outubro de 2024 representou um marco importante que visava harmonizar as normas Halal globalmente e proporcionar maior clareza para parceiros internacionais. Este movimento alinha-se perfeitamente com os esforços bilaterais agora em andamento para criar um ecossistema Halal mais integrado entre os dois países.

Impacto Econômico e Oportunidades de Mercado

As figuras comerciais destacam a importância significativa dos laços econômicos Malásia-Indonésia na indústria Halal. Entre 2021 e 2023, a Malásia exportou RM 7,77 bilhões em produtos com certificação Halal para a Indonésia, demonstrando o volume substancial de comércio já existente neste setor. O novo acordo promete expandir ainda mais estas relações comerciais, beneficiando produtores e consumidores em ambos os países.

Para expandir a presença das pequenas e médias empresas (PMEs) malaias nos mercados internacionais, particularmente na Indonésia, a HDC também participou do Food & Hospitality Indonesia (FHI) 2024. Durante este evento, 15 PMEs malaias garantiram um potencial total de vendas de RM 62,57 milhões através de reuniões B2B e interações diretas. Até novembro de 2024, três empresas já haviam alcançado vendas reais de RM 575.329,62 na Indonésia — enfatizando a forte demanda por produtos Halal malaios e o papel crítico da colaboração bilateral no impulsionamento do sucesso no mercado.

Posicionamento Estratégico na Região da ASEAN

A mesa redonda também enfatizou o ecossistema Halal globalmente reconhecido da Malásia e seu papel crucial como presidente da ASEAN em 2025. A Malásia está avançando uma agenda cooperativa Halal que equilibra oportunidades econômicas com comércio baseado em valores, mostrando a crescente influência da região na formação do cenário Halal global.

Além dos acordos formais, colaborações institucionais como o Fórum Halal Malásia-Indonésia & Engajamento da Indústria em 2023 cimentaram ainda mais os laços, fomentando o intercâmbio de conhecimentos e a construção de capacidades. Ambas as nações também trabalham em estreita colaboração através de plataformas multilaterais como o Grupo de Trabalho da ASEAN sobre Alimentos Halal (AWGAF) e a Área de Crescimento do Leste da ASEAN Brunei Darussalam-Indonésia-Malásia-Filipinas (BIMPEAGA), reforçando seu compromisso compartilhado em avançar a economia Halal regional.

Perspectivas Futuras para o Mercado Halal Global

O mercado Halal global está experimentando uma expansão robusta, impulsionada por uma crescente população muçulmana global e pelo aumento da conscientização entre consumidores não-muçulmanos sobre os aspectos éticos e de qualidade associados aos produtos Halal. O setor de alimentos Halal sozinho está projetado para atingir trilhões de dólares nos próximos anos, o que apresenta uma oportunidade econômica significativa para a Malásia e a Indonésia.

Durante a coletiva de imprensa após a reunião, Datuk Seri Dr Ahmad Zahid Hamidi enfatizou o compromisso de ir além da mera produção, afirmando: “Vamos coordenar e nos engajar em discussões detalhadas não apenas sobre a produção de produtos Halal, mas também sobre estratégias de marketing.” Esta abordagem progressiva reconhece que o sucesso no comércio Halal requer uma estratégia abrangente que englobe garantia de qualidade, cadeias de suprimentos eficientes e penetração efetiva no mercado.

Potencial para Colaborações Adicionais

Empreendimentos colaborativos em pesquisa e desenvolvimento, normatização e desenvolvimento de produtos e serviços Halal inovadores poderiam solidificar ainda mais a liderança da Malásia e da Indonésia no comércio Halal. Esta parceria estratégica entre as duas maiores economias muçulmanas do Sudeste Asiático tem o potencial de estabelecer novos parâmetros para a indústria Halal global e criar um modelo para cooperação regional em outros setores econômicos.

Conclusão

O recente acordo de reconhecimento mútuo de certificações Halal entre Malásia e Indonésia representa um momento transformador para a indústria Halal regional. Ao alinhar seus sistemas regulatórios, simplificar processos de certificação e buscar estratégias de marketing conjunto, os dois países estão bem posicionados para capitalizar no crescente mercado Halal global, estimado em US$ 5 trilhões até 2030.

A colaboração Malásia-Indonésia no setor Halal exemplifica como sinergias regionais podem criar valor econômico substancial enquanto respeitam e promovem valores religiosos e culturais compartilhados. À medida que a Malásia assume a presidência da ASEAN em 2025, esta parceria tem o potencial de expandir-se para uma abordagem mais ampla da ASEAN para a harmonização Halal, posicionando o Sudeste Asiático como um centro global para comércio, investimento e inovação Halal.

O sucesso desta iniciativa bilateral dependerá da implementação efetiva das estruturas acordadas, do engajamento contínuo das partes interessadas e da adaptação às condições de mercado em evolução. No entanto, o compromisso demonstrado por ambos os governos e o amplo apoio da indústria fornecem uma base sólida para o sucesso a longo prazo, beneficiando produtores, consumidores e as economias gerais de ambos os países.

Referências

  1. DPM Zahid: Malaysia, Indonesia align halal strategies to tap US$5t global market. Malaysian Mail
  2. Indonesia-Malaysia Organize Collaboration Meeting in Advancing ASEAN Halal Cooperation. Metro TV News
  3. Malaysia, Indonesia Focus on Halal Trade, Regional Stability, Palestine. Halal Times
  4. Indonesia-Malaysia Establish Cooperation on Recognition of Halal Certificates. BPJPH
  5. Comparison Study of Halal Management System in Indonesia and Malaysia. Semantic Scholar
  6. Mutual Recognition Agreements: A Gateway to Global Opportunities or A Pathway of Challenges in Indonesian Economics for Halal Agri-Food Sector. Semantic Scholar
  7. Global Research Hotspots and Trends in Halal Research: A Scientometric Review Based on Descriptive and CiteSpace Analyses. Semantic Scholar
  8. H20 2024 Closed, Producing 52 MRAs to Communiqué on Strengthening the Global Halal Ecosystem. BPJPH

Yahya Cholil Staquf - Nahdlatul Ulama

Nahdlatul Ulama Defende Normas Halal da Indonésia Contra Críticas dos EUA

A maior organização muçulmana da Indonésia, Nahdlatul Ulama (NU), instou o governo a manter-se firme quanto aos requisitos de certificação Halal para produtos importados, apesar das recentes críticas dos Estados Unidos. Esta postura demonstra a importância cultural e religiosa das certificações Halal em países de maioria muçulmana, bem como o crescente debate sobre comércio internacional e soberania regulatória em questões que envolvem práticas religiosas.

O Posicionamento da Nahdlatul Ulama e as Críticas Americanas

O presidente da NU, Yahya Cholil Staquf, declarou que a Indonésia tem o dever de proteger sua população majoritariamente muçulmana de produtos de consumo, alimentos e bebidas que não estejam em conformidade com as normas Halal. Durante uma coletiva de imprensa em Jacarta, Staquf enfatizou: “Os Estados Unidos podem expressar suas preocupações, mas temos o direito soberano de implementar regulamentações que protejam nosso povo”. Ele sublinhou que a certificação Halal é uma política legítima e necessária em um país onde a maioria dos cidadãos é muçulmana, acrescentando que é completamente razoável que o público exija regulamentações Halal, e o governo deve responder a essas aspirações.

As declarações do líder da NU surgem após o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) incluir os requisitos Halal da Indonésia em seu mais recente relatório sobre barreiras comerciais estrangeiras. O USTR categorizou a certificação Halal obrigatória da Indonésia como uma “barreira técnica ao comércio” para as exportações americanas. Esta não é a primeira vez que os EUA criticam as normas Halal; documentos anteriores do USTR já haviam manifestado preocupações semelhantes, classificando-as como barreiras comerciais potenciais.

A Amplitude das Regulamentações Halal na Indonésia

De acordo com o relatório do USTR, a Indonésia agora exige certificação Halal para uma ampla gama de produtos, incluindo alimentos, bebidas, produtos farmacêuticos, cosméticos, dispositivos médicos, produtos biológicos e geneticamente modificados, bens de consumo e produtos químicos. Estas regulamentações baseiam-se na Lei nº 33/2014 sobre Garantia de Produtos Halal, que determina que todos os processos comerciais – como produção, armazenamento, embalagem, distribuição e marketing – devem aderir às normas Halal.

A certificação Halal na Indonésia é supervisionada pela Agência Organizadora de Garantia de Produtos Halal (BPJPH), que emitiu regulamentações separadas sobre a acreditação de certificadores Halal estrangeiros e avaliações de conformidade. O USTR argumenta que essas regras impõem burocracia redundante, requisitos complexos para auditores e proporções rígidas de escopo para auditores que estão aumentando os custos de conformidade e atrasando o processo de acreditação para exportadores americanos.

Impacto das Tarifas de Trump na Indústria Halal da Indonésia

As tensões comerciais entre os EUA e a Indonésia foram exacerbadas recentemente quando o presidente Donald J. Trump impôs uma tarifa de importação de 32% sobre produtos indonésios em 2 de abril de 2025. Esta medida afetará as exportações da Indonésia para os EUA, que anteriormente totalizavam US$ 23,46 bilhões. Frente a este desafio, a Câmara de Comércio e Indústria da Indonésia (KADIN) expressou confiança de que o país pode resistir à política tarifária imposta pelos Estados Unidos sobre sua indústria Halal.

Isnaeni Iskandar, Vice-Chefe da Agência de Alfabetização, Advocacia e Cooperação da KADIN, sugeriu que a Indonésia deveria aproveitar o desafio como uma oportunidade para fortalecer a indústria Halal doméstica. “A Indonésia é alvo como mercado pelos EUA, então precisamos focar em como podemos competir internamente”, afirmou Isnaeni durante uma discussão online intitulada “Os Efeitos da Trump-nomics e o Destino da Indústria Halal” pelo Centro de Economia e Negócios da Sharia da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade da Indonésia.

O Debate sobre Certificação Halal Obrigatória vs. Voluntária

O debate sobre se a certificação Halal deve ser obrigatória ou voluntária não é exclusivo da Indonésia. Na Malásia, por exemplo, houve controvérsia quando o Departamento de Desenvolvimento Islâmico (Jakim) esclareceu que, mesmo que a carne em um sanduíche pré-embalado vendido em uma loja seja certificada como Halal, isso não torna automaticamente o produto inteiro Halal. Sirajuddin Suhaimee, diretor-geral do Jakim, enfatizou que nenhum produto ou serviço pode ser rotulado como Halal ou exibir um logotipo Halal sem verificação e certificação adequadas de seu departamento.

No contexto indonésio, a oposição à certificação Halal obrigatória tem sido levantada por players da indústria. O Ministério da Indústria argumentou, através de seu site, que a rotulagem obrigatória colocaria um ônus financeiro adicional sobre produtores de pequena escala, pois eles seriam obrigados a pagar mais taxas. Yelita Basri, diretora da indústria alimentícia do Ministério da Indústria, defendeu que a rotulagem Halal deveria permanecer voluntária para os produtores, afirmando: “A urgência da rotulagem Halal deve ser decidida pelos clientes. Se o mercado exigir majoritariamente rotulagem Halal nos produtos, os produtores buscarão voluntariamente essa certificação.”

O Papel da Nahdlatul Ulama na Certificação Halal

A Nahdlatul Ulama tem desempenhado um papel significativo na aceleração da certificação Halal na Indonésia. Pesquisas mostram que organizações como BMT NU Ngasem têm trabalhado para agilizar os processos de certificação Halal através de esquemas de autodeclaração para Micro e Pequenas Empresas (MPEs). Este esquema permite que empresários com assistência de um assistente registrado do processo de produtos Halal façam declarações independentes sobre o status Halal de seus produtos.

No entanto, houve críticas do Conselho Indonésio de Ulemas (MUI) aos planos da NU de elaborar suas próprias certificações Halal. Lukmanul Hakim, diretor da agência de estudo de alimentos, medicamentos e cosméticos do MUI (LPPOM MUI), argumentou que era desnecessário para a NU emitir suas próprias certificações, pois o certificado Halal do LPPOM era transparente e prático. Em resposta, o presidente da Associação de Empresários da NU (HPN), Abdul Kholik, questionou a proibição, afirmando que o plano de certificação da NU visava proteger seus membros sob referências mais rigorosas da NU para determinar se um produto é Halal.

Considerações Finais sobre Normas Halal no Comércio Global

A discussão sobre certificações Halal transcende fronteiras e envolve questões complexas de comércio, soberania e práticas religiosas. Enquanto países muçulmanos como a Indonésia buscam proteger seus cidadãos através de regulamentações Halal, parceiros comerciais como os Estados Unidos expressam preocupações sobre barreiras potenciais ao comércio. O desafio está em encontrar um equilíbrio que respeite tanto os princípios religiosos quanto facilite o comércio internacional.

A indústria Halal global continua a crescer, e a necessidade de harmonização de normas e procedimentos de certificação torna-se cada vez mais evidente. Organizações como a Nahdlatul Ulama têm um papel crucial a desempenhar neste processo, não apenas defendendo os interesses religiosos de suas comunidades, mas também contribuindo para discussões mais amplas sobre como integrar princípios religiosos em um sistema de comércio global cada vez mais interconectado.

Referências

  1. Indonesia’s Largest Muslim Group Defends Halal Rules Against US Criticism – Jakarta Globe
  2. KADIN Indonesia tells halal industry to look local – Kinihalal
  3. Opposition grows against mandatory halal labeling – NU Online
  4. MUI Criticizes NUs Plan to Draft Halal Certification – Tempo.co
  5. Enhancing Halal Certification via Self-Declaration for MSMEs in Indonesia – Semantic Scholar
  6. Halal certification of meat doesn’t apply to entire sandwich, says Jakim – Reddit Malaysia
  7. Negosiasi Tarif Trump, AS Turut Permasalahkan – Reddit Indonesia
Ministro das Relações Exteriores da Malásia Reúne-se com Chefe do Conselho Cripto do Paquistão em Kuala Lumpur

Finanças Digitais Halal: Aliança Malásia-Paquistão

Malásia e Paquistão Firmam Aliança em Finanças Digitais com Foco em Estruturas de Ativos Digitais Compatíveis com a Shariah

Uma parceria histórica está sendo formada entre Malásia e Paquistão que promete revolucionar o cenário das finanças islâmicas digitais. Em encontro realizado em abril de 2025, o Ministro das Relações Exteriores da Malásia, Mohamad bin Hajji Hasan, reuniu-se com Bilal bin Saqib, CEO do Conselho de Criptomoedas do Paquistão (PCC), para explorar oportunidades colaborativas em tecnologia blockchain, ativos digitais e finanças compatíveis com a Shariah. Esta iniciativa representa um avanço significativo no desenvolvimento de estruturas regulatórias para ativos digitais que estejam alinhadas com os princípios da lei islâmica, em um momento em que as finanças islâmicas globais se aproximam da marca de US$ 12,5 bilhões e continuam a crescer a uma taxa de 11,7% ao ano.

Uma Aliança Estratégica para a Economia Digital Islâmica

O encontro entre os representantes da Malásia e do Paquistão concentrou-se em estabelecer as bases para uma Parceria de Finanças Digitais entre os dois países, com o objetivo de desenvolver conjuntamente estruturas de ativos digitais que sejam tanto compatíveis com a Shariah quanto alinhadas às normas do Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI). Esta iniciativa está posicionada para servir como modelo potencial para outros países membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI).

Durante o encontro, Bilal bin Saqib destacou a complementaridade entre as forças de ambos os países: “A liderança da Malásia em finanças islâmicas e o impulso do Paquistão na regulamentação de criptomoedas formam uma aliança natural. Juntos, temos uma oportunidade histórica para estabelecer padrões globais para inovação ética em finanças digitais — desde stablecoins Halal e sukuks tokenizados até sandboxes regulatórias compatíveis e iniciativas de capacitação para jovens.”

Esta parceria surge em um contexto estratégico: o Paquistão recentemente introduziu seu primeiro marco regulatório para ativos virtuais e prestadores de serviços, alinhando-se às diretrizes de conformidade e integridade financeira do GAFI. Além disso, o país estabeleceu o Conselho de Criptomoedas do Paquistão com o objetivo de criar uma estrutura legal para o comércio de criptomoedas, visando atrair investimentos internacionais.

Princípios da Shariah no Contexto Digital

As finanças islâmicas são regidas por princípios fundamentais da Shariah, que incluem a proibição de riba (juros), gharar (incerteza excessiva) e investimentos em atividades consideradas haram (proibidas pelo Islã). A aplicação destes princípios no contexto dos ativos digitais apresenta desafios únicos, mas também oportunidades significativas para inovação.

Os ativos digitais compatíveis com a Shariah são projetados para evitar conflitos com estes princípios fundamentais. Isto significa que eles não podem estar associados a empréstimos baseados em juros, jogos de azar ou outros setores proibidos pela lei islâmica. Em vez disso, estes ativos frequentemente enfatizam o compartilhamento de riscos, a transparência, a utilidade no mundo real e, em alguns casos, o lastro em ativos tangíveis.

A descentralização característica da tecnologia blockchain alinha-se naturalmente com a ênfase islâmica no compartilhamento de riscos, eliminando a necessidade de autoridades centrais que tradicionalmente geram receitas baseadas em juros. Além disso, a imutabilidade e transparência inerentes aos registros blockchain satisfazem os requisitos de clareza e confiabilidade valorizados nas finanças islâmicas.

Potencial de Mercado e Inclusão Financeira

O potencial de mercado para ativos digitais compatíveis com a Shariah é substancial, considerando que a população muçulmana global ultrapassa 1,8 bilhão de pessoas. Muitos destes indivíduos residem em mercados emergentes onde o acesso a serviços financeiros tradicionais pode ser limitado. A tokenização de ativos do mundo real tem o potencial de democratizar as finanças islâmicas, permitindo investimentos fracionados em classes de ativos anteriormente inacessíveis para pequenos investidores.

É notável que países com grandes populações muçulmanas já demonstram índices significativos de adoção de criptomoedas. Na Nigéria, a taxa de adoção chegou a 31%, enquanto no Paquistão alcançou 20%, principalmente entre populações com acesso bancário limitado. Esta tendência sugere um terreno fértil para o desenvolvimento de soluções financeiras digitais que sejam tanto inovadoras quanto compatíveis com os princípios islâmicos.

A aliança entre Malásia e Paquistão também tem potencial para impulsionar a inclusão financeira em ambos os países e na região mais ampla. Ao desenvolver estruturas regulatórias claras para ativos digitais compatíveis com a Shariah, estes países podem facilitar o acesso a serviços financeiros para segmentos da população atualmente sub-atendidos pelos sistemas bancários tradicionais.

Coordenação Regulatória e Desenvolvimento de Talentos

Um aspecto fundamental da parceria entre Malásia e Paquistão é o compromisso com a coordenação regulatória entre as autoridades financeiras dos dois países. Esta cooperação é essencial para desenvolver estruturas coerentes que possam posteriormente ser adotadas por outros países da OCI, criando um ecossistema digital islâmico mais integrado.

Além disso, ambas as partes expressaram forte alinhamento quanto à necessidade de iniciativas transfronteiriças de desenvolvimento de talentos e educação em Web3. Este foco no capital humano é crucial para construir um ecossistema sustentável de finanças digitais islâmicas, garantindo que haja profissionais qualificados tanto para desenvolver novas soluções quanto para implementar e supervisionar adequadamente as normas regulatórias.

O Conselho de Criptomoedas do Paquistão está liderando esforços para projetar uma estrutura regulatória de criptomoedas “passaportável” adaptada a mercados emergentes, que fomente a inovação enquanto garante total conformidade com normas internacionais. Esta abordagem equilibrada é particularmente relevante para o desenvolvimento de ativos digitais compatíveis com a Shariah, que devem navegar tanto pelos requisitos religiosos quanto pelos padrões regulatórios globais.

O Futuro das Finanças Digitais Islâmicas

Esta aliança entre Malásia e Paquistão representa o início de um novo capítulo nas finanças digitais islâmicas. À medida que a tecnologia blockchain continua a evoluir e a demanda por produtos financeiros compatíveis com a Shariah aumenta, a colaboração entre estes dois países pode servir como catalisador para inovações significativas no setor.

Os potenciais produtos que podem emergir desta parceria incluem stablecoins Halal, que oferecem estabilidade sem depender de mecanismos baseados em juros; sukuks (títulos islâmicos) tokenizados, que podem aumentar significativamente a acessibilidade e liquidez destes instrumentos; e plataformas de financiamento colaborativo compatíveis com a Shariah, que facilitam o investimento em empreendimentos alinhados com valores islâmicos.

O recente anúncio da parceria coincide com a nomeação de Changpeng Zhao (CZ), fundador da Binance e figura influente em Web3, como consultor estratégico do Conselho de Criptomoedas do Paquistão, com o Ministro das Finanças Muhammad Aurangzeb chamando isto de “momento histórico para o Paquistão”. Esta nomeação destaca a crescente confiança internacional no papel do Paquistão na formação de políticas de ativos digitais e potencialmente fortalece a posição do país na aliança com a Malásia.

Conclusão: Uma Transformação no Horizonte

A aliança entre Malásia e Paquistão para o desenvolvimento de estruturas de ativos digitais compatíveis com a Shariah marca uma etapa importante na evolução das finanças islâmicas na era digital. Ao unir a experiência da Malásia em finanças islâmicas com o impulso do Paquistão em regulamentação de criptomoedas, esta parceria tem o potencial de estabelecer novos padrões globais para inovação ética em finanças digitais.

Este engajamento histórico sinaliza o início de uma parceria econômica e tecnológica mais profunda entre Paquistão e Malásia, impulsionada por uma visão compartilhada de construir o futuro das finanças por meio de inovação baseada em valores e colaboração estratégica. À medida que os dois países avançam nesta iniciativa, o mundo islâmico e a comunidade financeira global observam com interesse as inovações que surgirão desta colaboração promissora.

Referências

  1. Pakistan, Malaysia join forces to develop Shariah-aligned digital assets framework (https://www.arabnews.com/node/2597958/pakistan)
  2. Pakistan, Malaysia explore digital finance alliance – Markets (https://www.brecorder.com/news/40358912/pakistan-malaysia-explore-digital-finance-alliance)
  3. Malaysia, Pakistan explore digital finance alliance in push for Sharia-compliant innovation (https://www.thenews.com.pk/print/1304125-malaysia-pakistan-explore-digital-finance-alliance-in-push-for-sharia-compliant-innovation)
  4. Criptomoeda compatível com a Shariah luta para atender demanda – Binance (https://www.binance.com/pt-BR/square/post/22732894855793)
  5. O que é uma criptomoeda compatível com a Sharia e por que ela está crescendo tão rápido? (https://coinedition.com/pt-br/o-que-e-uma-criptomoeda-compativel-com-a-sharia-e-por-que-ela-esta-crescendo-tao-rapido/)
  6. Análise Definitiva da Pocket Option sobre se Bitcoin é Halal (https://m.pocketoption.com/blog/pt/post/is-bitcoin-halal)

BRF e Arábia Saudita Celebram Lançamento de Projeto Histórico para Produção Halal

BRF e Arábia Saudita Celebram Lançamento de Projeto Histórico para Produção Halal

Crédito da imagem da capa: Leandro Fonseca/Exame

A recente celebração do lançamento da nova fábrica de alimentos processados da BRF em Jeddah, na Arábia Saudita, marca um momento histórico para a indústria Halal global. Com investimento de US$ 160 milhões, esta joint venture entre a gigante brasileira de alimentos e o fundo soberano saudita representa não apenas um avanço significativo na estratégia de internacionalização da BRF, mas também um passo fundamental para consolidar a Arábia Saudita como centro mundial de produtos Halal. O projeto, que prevê iniciar operações em 2026, criará centenas de empregos e terá capacidade inicial para produzir 40 mil toneladas anuais de alimentos processados, contribuindo significativamente para a segurança alimentar da região e para os objetivos da Visão 2030 do Reino Saudita.

O Marco Histórico da Nova Unidade Industrial em Jeddah

A BRF e a Halal Products Development Company (HPDC), subsidiária integral do Public Investment Fund (PIF), fundo soberano da Arábia Saudita, anunciaram oficialmente o início da construção de uma moderna fábrica de alimentos processados em Jeddah. O anúncio ocorreu em 21 de abril de 2025, quando foi lançada a pedra fundamental da unidade, em cerimônia que contou com a presença de Marcos Molina, controlador e presidente dos Conselhos de Administração da BRF e Marfrig, além de representantes do governo saudita.

A escolha de Jeddah para sediar esta nova operação não foi aleatória. Como segunda maior cidade da Arábia Saudita e importante porto no Mar Vermelho, Jeddah oferece posição estratégica para distribuição tanto no mercado local quanto para outros países da região. Marquinhos Molina, CEO da BRF Arábia, destacou essa vantagem em suas declarações durante o evento: “Jeddah é a segunda maior cidade da Arábia Saudita e sua localização estratégica permite melhor acesso ao mercado consumidor e aos parceiros comerciais. Estamos muito atentos às oportunidades no país”.

A nova instalação industrial representa um investimento conjunto de aproximadamente US$ 160 milhões e será implementada por meio da BRF Arabia Holding Company, joint venture na qual a BRF detém 70% de participação, enquanto a HPDC possui os 30% restantes. O cronograma de investimento prevê um desembolso de aproximadamente US$ 63 milhões em 2025 e US$ 98 milhões em 2026, com o início das operações programado para meados do próximo ano.

Capacidade Produtiva e Impacto Econômico Regional

A fábrica de Jeddah foi projetada com capacidade inicial para produzir cerca de 40 mil toneladas anuais de alimentos processados, o que triplicará a atual capacidade da BRF na Arábia Saudita. Igor Marti, vice-presidente de Mercado Halal da BRF, explicou que, até então, o país produzia somente 15 mil toneladas de alimentos processados na fábrica de Dammam. Com o início das operações em Jeddah, essa produção subirá para 55 mil toneladas, um aumento significativo que demonstra a confiança da empresa no mercado saudita.

Um aspecto importante do projeto é sua concepção para futuras expansões. A planta foi desenhada com infraestrutura que permitirá dobrar a capacidade inicial, podendo alcançar 80 mil toneladas anuais, dependendo da demanda do mercado e das oportunidades de exportação. Esta flexibilidade estratégica reflete a visão de longo prazo dos investidores.

O impacto econômico do projeto vai além da produção de alimentos. Espera-se que a operação gere mais de 500 empregos diretos na região, contribuindo significativamente para a economia local. Inicialmente, a fábrica utilizará matéria-prima proveniente do Brasil, aproveitando a expertise da BRF na produção de proteína animal, mas também contará com fornecimento da Addoha Poultry, empresa saudita da qual a joint venture adquiriu 26% em janeiro de 2025.

A Estratégia Halal e a Parceria Brasil-Arábia Saudita

O lançamento da nova fábrica representa um aprofundamento da relação entre a BRF e a Arábia Saudita, consolidando uma parceria que vem se fortalecendo nos últimos anos. Em outubro de 2024, a joint venture BRF Arabia adquiriu 26% da Addoha Poultry Company, uma das principais empresas sauditas do setor avícola, em transação avaliada em US$ 84,3 milhões. Essa aquisição marcou a estreia da BRF na produção local de frango Halal no país, um passo fundamental para sua estratégia de verticalização no mercado do Oriente Médio.

Fahad Alnuhait, CEO da HPDC, destacou a importância desta parceria para os objetivos estratégicos da Arábia Saudita: “Essa nova instalação representa um grande passo à frente em nossa estratégia de construir ecossistemas integrados de fabricação Halal. Em parceria com a BRF, esse investimento reflete nossos esforços contínuos para promover a posição da Arábia Saudita na economia Halal global”.

A produção de alimentos Halal segue rígidos princípios estabelecidos pelo Islã, incluindo métodos específicos de abate que respeitam as normas religiosas. O Brasil destaca-se como um dos maiores produtores e exportadores mundiais de alimentos Halal, e a BRF tem sido um dos principais protagonistas nesse mercado, com um faturamento de mais de US$ 2 bilhões anuais nesses segmentos.

A Expansão da BRF no Oriente Médio e o Projeto Visão 2030

A nova fábrica de Jeddah será a sétima unidade de produção da BRF no Oriente Médio e a terceira na Arábia Saudita, confirmando o compromisso da empresa com a região onde atua há mais de cinco décadas. A BRF exporta para mais de 14 países do Oriente Médio e é líder de mercado com a marca Sadia, amplamente reconhecida pelos consumidores locais.

O investimento está alinhado com o projeto Visão 2030 da Arábia Saudita, um ambicioso plano de reformas econômicas e sociais lançado pelo governo saudita para diversificar a economia do país, reduzindo sua dependência do petróleo. Um dos pilares desse plano é a segurança alimentar e o desenvolvimento de indústrias locais competitivas globalmente.

Marcos Molina, em seu discurso durante a cerimônia, enfatizou esse alinhamento estratégico: “O investimento representa mais um avanço consistente em nossa estratégia de presença global e fortalece nossa atuação em um mercado altamente estratégico para a companhia, além de consolidar a parceria com o reino da Arábia Saudita em sua agenda de segurança alimentar”.

O mercado de produtos processados tem crescido a taxas de dois dígitos na Arábia Saudita, refletindo mudanças nos hábitos de consumo e o aumento do poder aquisitivo da população. A nova fábrica da BRF está posicionada para capitalizar essa tendência, oferecendo produtos que atendam às preferências locais e, ao mesmo tempo, cumpram rigorosamente os requisitos Halal.

A Importância do Mercado Halal Global e o Protagonismo Brasileiro

O mercado global de produtos Halal vai muito além dos alimentos, abrangendo setores como cosméticos, farmacêuticos e serviços, representando uma oportunidade econômica significativa. Com uma população muçulmana global crescente, estimada em mais de 1,8 bilhão de pessoas, a demanda por produtos Halal continua a expandir-se, criando oportunidades para empresas que possam atender a esse segmento com produtos de qualidade e certificação adequada.

O Brasil tem se destacado como um dos principais fornecedores mundiais de proteína animal Halal, especialmente frango e carne bovina. Empresas brasileiras, como a BRF, investiram significativamente em obter as certificações necessárias e adaptar seus processos produtivos para atender às exigências religiosas, garantindo competitividade no mercado internacional.

A produção de alimentos Halal requer atenção especial a vários aspectos, desde a seleção de ingredientes até os métodos de abate e processamento. No caso de aves, por exemplo, o abate deve ser realizado por um muçulmano praticante, que pronuncia o nome de Allah antes do processo, e o animal deve ser abatido de forma a garantir o escoamento completo do sangue, entre outros requisitos específicos.

A expertise brasileira neste segmento, combinada com os recursos e a visão estratégica da Arábia Saudita, cria uma parceria potencialmente transformadora para o mercado Halal global, posicionando o reino saudita como um hub de produção e distribuição desses produtos.

Perspectivas Futuras e Impactos para a Indústria Halal Global

A nova fábrica da BRF em Jeddah representa mais que um simples investimento industrial; é um passo significativo na reconfiguração da indústria Halal global. Ao transferir tecnologia e know-how para a Arábia Saudita, a parceria contribui para desenvolver localmente capacidades que tradicionalmente estavam concentradas em países exportadores como o Brasil.

Para a BRF, o projeto consolida sua posição de liderança no mercado Halal e diversifica geograficamente sua produção, reduzindo riscos e aproximando-se ainda mais dos consumidores finais. Para a Arábia Saudita, representa um avanço importante em direção aos objetivos de autossuficiência alimentar e diversificação econômica.

O projeto também ilustra uma tendência crescente de investimentos brasileiros no exterior, especialmente em segmentos onde empresas nacionais desenvolveram competências distintivas. A BRF, que já possui operações internacionais em diversos países, reforça sua estratégia de globalização com este investimento significativo.

Nos próximos anos, espera-se que a parceria entre BRF e HPDC possa expandir-se para outros segmentos da cadeia de valor Halal, potencialmente incluindo novas categorias de produtos e mercados. O sucesso deste empreendimento pode abrir caminho para investimentos similares de outras empresas brasileiras na região, fortalecendo ainda mais os laços econômicos entre Brasil e Oriente Médio.

Um Novo Capítulo nas Relações Brasil-Arábia Saudita

A celebração do lançamento da nova fábrica da BRF em Jeddah marca o início de um novo capítulo nas relações econômicas entre Brasil e Arábia Saudita, com potencial para transformar o panorama da indústria Halal global. A combinação da expertise brasileira em produção de alimentos com os recursos e a visão estratégica saudita cria uma sinergia poderosa, capaz de gerar valor significativo para ambas as partes.

Enquanto a fábrica começa a tomar forma no horizonte de Jeddah, fica claro que seu impacto transcenderá as fronteiras da Arábia Saudita, influenciando o mercado Halal em toda a região e além. Para a BRF, representa a consolidação de sua estratégia internacional e o fortalecimento de sua posição no lucrativo mercado Halal. Para a Arábia Saudita, significa um passo importante em direção à concretização da Visão 2030 e ao estabelecimento do reino como centro global de excelência em produtos Halal.

Este projeto conjunto exemplifica como parcerias internacionais estratégicas podem criar valor compartilhado, contribuindo simultaneamente para objetivos empresariais e nacionais. À medida que a construção avança e a inauguração se aproxima, o mundo observa com interesse este empreendimento que promete redefinir padrões na indústria Halal global e fortalecer ainda mais a presença brasileira nos mercados internacionais.

Referências

  1. BRF anuncia nova fábrica na Arábia Saudita com investimento de US$ 160 mi
  2. BRF investe US$ 160 milhões em nova fábrica na Arábia Saudita
  3. BRF e HPDC anunciam investimento de US$ 160 mi em nova fábrica na Arábia Saudita
  4. BRF anuncia investimento milionário para triplicar produção na Arábia
  5. BRF e HPDC investem US$ 160 milhões em nova fábrica de processados na Arábia Saudita
  6. BRF confirma investimento de US$ 160 mi em nova fábrica na Arábia Saudita
  7. BRF e HPDC investem US$ 160 milhões em nova fábrica … – AviSite
  8. BRF anuncia nova fábrica de processados na Arábia Saudita
  9. Gigante da carne vai investir US$ 160 milhões em nova fábrica na Arábia Saudita

Malásia Avança com Planos para Rede Ferroviária Pan-Asiática com Foco no Mercado Halal

Malásia Avança com Planos para Rede Ferroviária Pan-Asiática com Foco no Mercado Halal

A Malásia declarou oficialmente sua prontidão para desenvolver a Rede Ferroviária Pan-Asiática (PARN), uma iniciativa de infraestrutura estratégica destinada a conectar o país à China e impulsionar o comércio, especialmente na indústria Halal. Este ambicioso projeto ferroviário representa uma mudança significativa na maneira como os produtos Halal podem ser transportados através do continente asiático, oferecendo novas rotas comerciais que podem transformar a dinâmica do mercado regional e internacional de produtos certificados.

Conectividade Estratégica e Expansão do Mercado Halal

O Ministro dos Transportes da Malásia, Anthony Loke, revelou que o presidente chinês Xi Jinping expressou apoio ao projeto PARN durante sua recente visita de Estado à Malásia. A iniciativa é vista como um portal para expandir o acesso aos mercados do oeste da China, incluindo a região da Mongólia Interior e Xinjiang, áreas que possuem populações muçulmanas consideráveis. Esta conexão ferroviária transcontinental apresenta uma oportunidade sem precedentes para exportar produtos Halal diretamente a essas regiões através de transporte ferroviário, eliminando muitas das complexidades logísticas atuais que os exportadores enfrentam.

A estratégia da Malásia em desenvolver esta rede ferroviária não é apenas uma questão de infraestrutura, mas também um movimento calculado para posicionar o país como um centro de distribuição Halal para toda a Ásia. Com sua certificação Halal reconhecida internacionalmente, a Malásia pode aproveitar esta nova infraestrutura para consolidar sua posição como líder global na indústria Halal, que continua a crescer em valor e importância estratégica.

ASEAN Express: Um Projeto Piloto em Funcionamento

O compromisso da Malásia com a conectividade ferroviária internacional já está em andamento através de um projeto piloto conhecido como ASEAN Express. Lançado em 2024, esta iniciativa conjunta entre a Keretapi Tanah Melayu Bhd (KTMB), a maior empresa ferroviária do país, e a State Railway of Thailand (SRT), representa um passo concreto em direção à realização da visão mais ampla da PARN. A colaboração, que também reúne parceiros na China, tem como objetivo transportar cargas da Malásia para Chongqing, na China, com um tempo de trânsito de nove dias.

O ASEAN Express serve como um importante estudo de caso para demonstrar a viabilidade técnica e comercial do transporte ferroviário transfronteiriço em grande escala na região. Ao estabelecer protocolos operacionais e superar obstáculos iniciais, este projeto piloto está estabelecendo as bases para a implementação mais ampla da PARN, permitindo ajustes e melhorias antes da expansão completa da rede.

Benefícios Estratégicos Além do Comércio Halal

A importância estratégica da PARN vai além das considerações puramente comerciais. Em uma entrevista recente, o Ministro Loke destacou que esta infraestrutura ferroviária poderia servir como uma rota alternativa crucial para o transporte de mercadorias caso ocorram tensões no Mar do Sul da China, uma das rotas marítimas mais importantes e contestadas do mundo. “Se você puder conectar todo o caminho da Malásia até a China, isso significa que este é um modo alternativo de transporte para a China e um link alternativo muito importante em termos de cadeias de suprimento, especialmente quando você tem tensões no Mar do Sul da China”, explicou Loke.

Esta dimensão de segurança da infraestrutura revela o pensamento estratégico por trás do projeto. Ao diversificar as rotas de transporte disponíveis, a Malásia e seus parceiros regionais podem aumentar a resiliência de suas cadeias de suprimentos contra potenciais interrupções geopolíticas. Para a indústria Halal, que depende fortemente de cadeias de suprimentos confiáveis para manter a integridade dos produtos, esta resiliência adicional representa um valor significativo.

Integração Regional e Benefícios Compartilhados

A visão da PARN se alinha perfeitamente com os objetivos de longa data da ASEAN para maior integração regional. No ano passado, Loke convocou os estados membros da ASEAN a fortalecerem a integração regional por meio da conexão de redes ferroviárias, facilitando assim um fluxo mais livre de mercadorias em toda a região. Ele enfatizou que a conectividade, particularmente ligando redes ferroviárias da Malásia Peninsular à Tailândia, Laos e China, tem sido parte da visão de longo prazo da ASEAN.

O ministro também destacou que os benefícios do projeto não se limitam apenas à Malásia e à China. “Acredito que mais integração significa melhor desenvolvimento e melhores oportunidades para todos”, afirmou. “Não é que, se isso acontecer, beneficiará apenas a Malásia e a China. Os países pelos quais passamos também se beneficiarão.” Esta abordagem colaborativa é essencial para garantir o apoio regional necessário para um projeto de infraestrutura tão ambicioso.

Desafios Técnicos e Regulatórios

Apesar do entusiasmo, o ministro também apontou que ainda existem vários desafios na implementação de um serviço ferroviário global, particularmente no que diz respeito a restrições legais e regulatórias, que a Malásia trabalhará com os países relevantes para resolver. Estes desafios não são insignificantes e incluem questões como diferenças nas bitolas ferroviárias, protocolos de sinalização, procedimentos de fronteira e harmonização regulatória.

Os trabalhos de modernização na linha ferroviária de Johor Bahru a Padang Besar estão em andamento e devem ser concluídos até o final deste ano. “O governo está investindo fundos substanciais para transformá-la em uma ferrovia de pista dupla. Após a conclusão, teremos uma rede ferroviária contínua de pista dupla de Johor Bahru até Padang Besar”, explicou Loke. Esta infraestrutura doméstica modernizada é um pré-requisito essencial para a integração efetiva com a rede ferroviária pan-asiática mais ampla.

Próximos Passos Diplomáticos

A dimensão diplomática do projeto também está avançando, com Loke programado para se reunir com o Vice-Primeiro-Ministro e Ministro dos Transportes da Tailândia, Suriya Juangroongruangkit, em 2 de maio para discutir a PARN. Esta reunião destaca a natureza colaborativa e multinacional do projeto, que exigirá coordenação estreita entre vários países para ser bem-sucedido.

A Tailândia recentemente deu sinal verde para a construção da ferrovia Bangcoc-Vientiane, que visa se conectar com a ferrovia Kunming-Vientiane, construída pela China. Este desenvolvimento representa um passo significativo para completar o trecho norte da Rede Ferroviária Pan-Asiática, aproximando a visão de uma conexão ferroviária contínua de Singapura a Kunming da realidade.

Impacto no Mercado Halal Global

Para a indústria Halal, as implicações da PARN são profundas. Com um mercado global Halal avaliado em trilhões de dólares e em crescimento, a logística tem sido um dos principais gargalos para a expansão do comércio. A rede ferroviária proposta não apenas reduziria os custos e os tempos de trânsito, mas também poderia facilitar o comércio de produtos Halal perecíveis que atualmente enfrentam desafios de transporte significativos.

As regiões ocidentais da China, como Xinjiang, representam mercados substanciais e ainda inexplorados para produtos Halal da Malásia e de outros países da ASEAN. Ao estabelecer uma conexão ferroviária direta, os produtores Halal da Malásia ganhariam acesso sem precedentes a estes mercados, potencialmente transformando a escala e o escopo da indústria.

A PARN também pode servir como um catalisador para maior harmonização das normas Halal em toda a região, à medida que os países trabalham juntos para facilitar o comércio transfronteiriço de produtos Halal. Esta harmonização poderia simplificar ainda mais o comércio e fortalecer a integridade das certificações Halal internacionalmente.

O Futuro da Conectividade Pan-Asiática

A visão da Rede Ferroviária Pan-Asiática representa um novo capítulo na conectividade regional e no comércio Halal. Ao unir países, culturas e mercados através de infraestrutura ferroviária moderna, o projeto tem o potencial de transformar a dinâmica econômica da Ásia e fortalecer a posição da Malásia como um centro Halal global.

Enquanto o projeto avança, será crucial manter o foco tanto nos benefícios comerciais imediatos quanto nas implicações estratégicas de longo prazo. Para a indústria Halal, a PARN oferece não apenas novas oportunidades de mercado, mas também maior resiliência e sustentabilidade para as cadeias de suprimentos. Para a Malásia e seus parceiros regionais, representa um passo em direção a uma visão compartilhada de prosperidade econômica e integração.

À medida que os países da ASEAN continuam a fortalecer seus laços econômicos e a desenvolver infraestrutura compartilhada, iniciativas como a PARN servirão como poderosos catalisadores para o crescimento e a cooperação regional. O compromisso da Malásia com este projeto ambicioso sinaliza sua determinação em desempenhar um papel de liderança na formação do futuro da conectividade asiática e do comércio Halal global.

Referências:

  1. Malaysia affirms readiness for developing Pan-Asian Railway Network – The Investor
    https://theinvestor.vn/malaysia-affirms-readiness-for-developing-pan-asian-railway-network-d15369.html
  2. Malaysia’s Anthony Loke pitches pan-Asian rail as buffer for any South China Sea fallout – South China Morning Post
    https://www.scmp.com/week-asia/economics/article/3287405/malaysias-anthony-loke-pitches-pan-asian-rail-buffer-any-south-china-sea-fallout
  3. Malaysia Signals Readiness to Advance Pan-Asian Railway Network – The Exchange Asia
    https://theexchangeasia.com/malaysia-signals-readiness-to-advance-pan-asian-railway-network/
  4. Malaysia Ready To Develop Pan-Asian Railway Network – Bernama
    https://www.bernama.com/en/news.php?id=2414180
Programa SEHATI: A Estratégia da Indonésia para Impulsionar a Indústria Halal através de Certificação Gratuita em Grande Escala

Programa SEHATI: A Estratégia da Indonésia para Impulsionar a Indústria Halal através de Certificação Gratuita em Grande Escala

A Indonésia, país com a maior população muçulmana do mundo, acaba de anunciar um ambicioso programa que visa transformar seu posicionamento no mercado global de produtos Halal. A Agência Organizadora de Garantia de Produtos Halal (BPJPH) abriu uma cota de 1 milhão de certificações Halal gratuitas para 2025, direcionadas especificamente para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) em todo o país. Esta iniciativa, denominada SEHATI, representa uma estratégia abrangente que busca não apenas aumentar o número de produtos certificados, mas também fortalecer a competitividade da Indonésia como um dos principais centros de produção Halal no cenário internacional.

O Contexto Estratégico do Programa SEHATI

A Indonésia possui um potencial extraordinário para liderar o setor Halal global devido à sua vasta população muçulmana e diversificada base produtiva. O programa SEHATI faz parte de uma estratégia governamental mais ampla que visa transformar o país no principal produtor de produtos Halal até 2024-2025. Ahmad Haikal Hasan, presidente da BPJPH, enfatizou que esta iniciativa visa aprimorar significativamente a competitividade dos produtos indonésios, tanto no mercado doméstico quanto internacional.

A certificação Halal transcende sua dimensão religiosa, tornando-se um importante diferencial competitivo em um mercado global cada vez mais valorizado e reconhecido. Estimativas indicam que o mercado Halal global deve atingir a impressionante marca de USD 2,3 trilhões até 2024, englobando não apenas alimentos e bebidas, mas também outros setores como cosméticos, farmacêuticos, turismo, mídia e serviços financeiros. Apesar desse enorme potencial, a contribuição indonésia permanece relativamente pequena em comparação com países como Malásia e Emirados Árabes Unidos.

“A abertura da cota SEHATI para 2025 representa parte da estratégia governamental para incentivar a certificação Halal para produtos das MPMEs, visando aumentar sua competitividade tanto nos mercados domésticos quanto globais”, declarou o presidente da BPJPH. Esta visão estratégica reconhece que a certificação Halal não é apenas um requisito religioso ou legal, mas um vetor de desenvolvimento econômico para o país.

Mecanismos de Implementação e Infraestrutura de Suporte

O programa SEHATI, que teve sua fase de registro iniciada em 11 de abril de 2025, fundamenta-se em um sistema bem estruturado que combina simplificação de processos, suporte técnico e inovação tecnológica. A BPJPH incentiva as empresas elegíveis a se registrarem independentemente para a certificação Halal gratuita, oferecendo uma oportunidade valiosa para garantir que seus produtos atendam às normas Halal enquanto aumentam a confiança do consumidor.

Um aspecto fundamental do programa é sua extensa rede de suporte humano. A iniciativa é diretamente apoiada por uma estrutura nacional de 115.450 Assistentes de Processo de Produtos Halal, que ajudam as empresas a navegar e completar os procedimentos de certificação com maior eficiência. Ao eliminar todas as taxas associadas à certificação Halal, o programa permite que as MPMEs conservem recursos financeiros e se concentrem no crescimento dos negócios.

Para empresas com produtos de baixo risco e processos simples, o modelo de certificação Halal gratuita funciona através de um esquema de autodeclaração, com um mecanismo de submissão de aplicação por meio do site https://ptsp.halal.go.id/. Este processo é acompanhado por assistentes (P3H – Pendamping Proses Produk Halal) que auxiliam com base na documentação de materiais e processos de produção elaborados pelas empresas. Os assistentes realizam processos de verificação e validação que são então enviados à BPJPH.

Além de facilitar o processo de certificação, o SEHATI também contribui para a melhoria da gestão empresarial, permitindo que as MPMEs operem com maior eficácia e aumentem o valor de mercado de seus produtos. Para agilizar ainda mais os procedimentos, a BPJPH atualizou seu Sistema de Informação Halal, melhorando as capacidades de processamento de dados e acelerando a emissão de certificações.

Impacto Econômico e Social para as MPMEs Indonésias

O programa SEHATI representa uma democratização do acesso à certificação Halal, especialmente crítica para o setor de MPMEs, que constitui a espinha dorsal da economia indonésia. Com aproximadamente 64 milhões de MPMEs no país, o potencial para transformação econômica é imenso. Contudo, sem medidas estratégicas adequadas, o processo de certificação Halal poderia levar um tempo excessivamente longo para ser implementado em larga escala.

“Isso também significa que só poderíamos alcançar a certificação completa de produtos Halal após seis séculos. Portanto, não podemos usar o método normal, e devemos conceber um avanço. Um de nossos avanços é o programa de certificação Halal gratuita”, observou Aqil Irham, um dos líderes da iniciativa. Esta perspectiva sublinha a necessidade de abordagens inovadoras para acelerar a adoção da certificação Halal em um país com um tecido empresarial tão extenso e diversificado.

A contribuição do SEHATI para as MPMEs indonésias manifesta-se em múltiplas dimensões. Em primeiro lugar, o programa acelera significativamente o procedimento de certificação Halal, reduzindo barreiras burocráticas. Em segundo lugar, ao eliminar os custos associados ao processo, permite que empresas de menor porte, muitas vezes operando com margens estreitas, possam obter a certificação sem comprometer sua estabilidade financeira. Em terceiro lugar, através da digitalização do processo, facilita o acesso e a gestão da certificação para empresas mesmo em regiões remotas do arquipélago indonésio.

Estudos realizados em regiões específicas, como a Regência de Blitar, demonstram os benefícios tangíveis do programa. Esta região possui 33.932 micro e pequenas empresas, mas apenas 389 tinham certificação Halal antes da implementação do SEHATI. A pesquisa comprovou que o programa, através de socialização e assistência aos atores de negócios de processamento de produtos pecuários, mostrou-se eficaz. A análise de avaliação do modelo lógico em todos os indicadores revela que os atores empresariais estão bem informados, compreendem bem e concordam fortemente com os insumos, atividades, resultados e desfechos do programa SEHATI.

Desafios e Perspectivas Futuras para o Mercado Halal

Apesar dos avanços significativos proporcionados pelo programa SEHATI, a Indonésia ainda enfrenta desafios importantes na consolidação de sua posição no mercado Halal global. Um estudo recente investigou a correlação entre a emissão de certificação Halal e o valor das exportações, revelando uma correlação negativa fraca, com o valor das exportações de produtos Halal diminuindo em 2023 devido a desafios econômicos globais. Estes resultados destacam a importância de abordar fatores externos e adotar uma abordagem abrangente, envolvendo tanto o governo quanto as empresas, para aprimorar o desempenho das exportações Halal da Indonésia e garantir um crescimento de longo prazo.

O financiamento sustentável do programa também representa um desafio. Segundo informações oficiais, 62% do financiamento necessário para a emissão de um milhão de certificados gratuitos virá do orçamento total da BPJPH para 2024. O financiamento também será apoiado pelo orçamento de certificação Halal de vários ministérios, agências e partes interessadas, incluindo suporte da nomenclatura orçamentária para facilitar a certificação Halal dos governos regionais em toda a Indonésia através da emissão do Regulamento do Ministro de Assuntos Internos Número 15 de 2023.

No cenário internacional, a BPJPH está buscando completar a avaliação de 38 instituições Halal estrangeiras o mais rapidamente possível, sinalizando suas ambições de harmonização e reconhecimento internacional de seu sistema de certificação. Este esforço é crucial para consolidar a posição do país como referência global em normas e práticas Halal.

A Indonésia possui vantagens competitivas significativas que a posicionam naturalmente como líder no mercado Halal global: sua imensa população muçulmana, ultrapassando 230 milhões de pessoas; uma herança islâmica profundamente enraizada que proporciona uma base autêntica para o desenvolvimento de produtos Halal; recursos naturais abundantes, particularmente nos setores de agricultura, pesca e silvicultura; e um apoio governamental forte e estratégico.

A Contribuição do SEHATI para um Novo Paradigma na Indústria Halal

Com essas importantes melhorias sob o SEHATI 2025, a Indonésia está se aproximando do estabelecimento de um sistema abrangente de normas Halal, que apoia o desenvolvimento das MPMEs enquanto garante transparência e qualidade dos produtos para os consumidores. O programa não apenas facilita a conformidade regulatória, mas também posiciona estrategicamente as empresas indonésias para capturar oportunidades em um mercado Halal global em rápida expansão.

A abordagem indonésia oferece lições valiosas para outros países com populações muçulmanas significativas que buscam desenvolver suas indústrias Halal. Ao eliminar barreiras financeiras e simplificar processos, demonstra como políticas públicas bem projetadas podem catalisar o desenvolvimento de todo um setor econômico enquanto proporcionam benefícios tangíveis para empresas de pequeno porte.

O programa SEHATI representa uma mudança de paradigma na busca de ampla conformidade Halal na Indonésia. Esta iniciativa é particularmente transformadora para a grande maioria das MPMEs indonésias, que frequentemente carecem de recursos financeiros substanciais necessários para navegar e absorver os custos diretos e indiretos tradicionalmente associados à obtenção e manutenção de certificação Halal credível.

A democratização da conformidade assegura que mesmo as menores empresas com recursos mais limitados sejam capacitadas a participar ativamente e beneficiar-se diretamente da economia Halal global em rápida expansão. Ao remover efetivamente a barreira financeira proibitiva, o governo indonésio está fomentando um cenário econômico mais inclusivo e equitativo, permitindo que um espectro mais amplo de sua comunidade empresarial aproveite as oportunidades lucrativas apresentadas pela demanda global por produtos e serviços Halal.

Conclusão

O programa SEHATI representa uma iniciativa ambiciosa e estratégica que posiciona a Indonésia para assumir um papel de liderança no mercado Halal global. Ao oferecer certificação Halal gratuita para um milhão de MPMEs até 2025, o país não apenas fortalece a competitividade de suas empresas, mas também cria um ecossistema de produção Halal robusto que pode impulsionar significativamente suas exportações e crescimento econômico.

A abordagem indonésia demonstra como políticas governamentais proativas podem transformar potenciais demográficos e culturais em vantagens econômicas concretas. Ao investir em infraestrutura de suporte, simplificação de processos e eliminação de barreiras financeiras, o programa SEHATI oferece um modelo que poderia inspirar iniciativas semelhantes em outros países muçulmanos e mesmo em nações não-muçulmanas interessadas em acessar o crescente mercado Halal global.

Enquanto a Indonésia continua a implementar e refinar esse programa, será crucial monitorar seu impacto real nas exportações, crescimento econômico e desenvolvimento das MPMEs. O sucesso do SEHATI poderá estabelecer um novo paradigma para o desenvolvimento da indústria Halal globalmente, com implicações significativas para o comércio internacional e a economia islâmica como um todo.

Referências

  1. BPJPH and Parliament Promote Free Halal Certification for Business Actors (BPJPH)
  2. Indonesia promotes Halal industry through large-scale free certification programme (Vietnam Plus)
  3. SEHATI’s Contribution (Free Halal Certification) For Medium and Small Enterprises (MSE) in Indonesia (International Journal of Islamic Economics)
  4. The Effectiveness of Free Halal Certification Services Through the Scheme Self Declare for SMEs in Lampung Province (International Journal of Economics and Commerce)
  5. Free certification a strategy to support halal products: BPJPH (Antara News)
  6. SEHATI PROGRAM: A FLEXIBLE MODEL FOR EFFECTIVE HALAL CERTIFICATION (Jurnal Harmoni)