Malásia Avança com Planos para Rede Ferroviária Pan-Asiática com Foco no Mercado Halal

Malásia Avança com Planos para Rede Ferroviária Pan-Asiática com Foco no Mercado Halal

A Malásia declarou oficialmente sua prontidão para desenvolver a Rede Ferroviária Pan-Asiática (PARN), uma iniciativa de infraestrutura estratégica destinada a conectar o país à China e impulsionar o comércio, especialmente na indústria Halal. Este ambicioso projeto ferroviário representa uma mudança significativa na maneira como os produtos Halal podem ser transportados através do continente asiático, oferecendo novas rotas comerciais que podem transformar a dinâmica do mercado regional e internacional de produtos certificados.

Conectividade Estratégica e Expansão do Mercado Halal

O Ministro dos Transportes da Malásia, Anthony Loke, revelou que o presidente chinês Xi Jinping expressou apoio ao projeto PARN durante sua recente visita de Estado à Malásia. A iniciativa é vista como um portal para expandir o acesso aos mercados do oeste da China, incluindo a região da Mongólia Interior e Xinjiang, áreas que possuem populações muçulmanas consideráveis. Esta conexão ferroviária transcontinental apresenta uma oportunidade sem precedentes para exportar produtos Halal diretamente a essas regiões através de transporte ferroviário, eliminando muitas das complexidades logísticas atuais que os exportadores enfrentam.

A estratégia da Malásia em desenvolver esta rede ferroviária não é apenas uma questão de infraestrutura, mas também um movimento calculado para posicionar o país como um centro de distribuição Halal para toda a Ásia. Com sua certificação Halal reconhecida internacionalmente, a Malásia pode aproveitar esta nova infraestrutura para consolidar sua posição como líder global na indústria Halal, que continua a crescer em valor e importância estratégica.

ASEAN Express: Um Projeto Piloto em Funcionamento

O compromisso da Malásia com a conectividade ferroviária internacional já está em andamento através de um projeto piloto conhecido como ASEAN Express. Lançado em 2024, esta iniciativa conjunta entre a Keretapi Tanah Melayu Bhd (KTMB), a maior empresa ferroviária do país, e a State Railway of Thailand (SRT), representa um passo concreto em direção à realização da visão mais ampla da PARN. A colaboração, que também reúne parceiros na China, tem como objetivo transportar cargas da Malásia para Chongqing, na China, com um tempo de trânsito de nove dias.

O ASEAN Express serve como um importante estudo de caso para demonstrar a viabilidade técnica e comercial do transporte ferroviário transfronteiriço em grande escala na região. Ao estabelecer protocolos operacionais e superar obstáculos iniciais, este projeto piloto está estabelecendo as bases para a implementação mais ampla da PARN, permitindo ajustes e melhorias antes da expansão completa da rede.

Benefícios Estratégicos Além do Comércio Halal

A importância estratégica da PARN vai além das considerações puramente comerciais. Em uma entrevista recente, o Ministro Loke destacou que esta infraestrutura ferroviária poderia servir como uma rota alternativa crucial para o transporte de mercadorias caso ocorram tensões no Mar do Sul da China, uma das rotas marítimas mais importantes e contestadas do mundo. “Se você puder conectar todo o caminho da Malásia até a China, isso significa que este é um modo alternativo de transporte para a China e um link alternativo muito importante em termos de cadeias de suprimento, especialmente quando você tem tensões no Mar do Sul da China”, explicou Loke.

Esta dimensão de segurança da infraestrutura revela o pensamento estratégico por trás do projeto. Ao diversificar as rotas de transporte disponíveis, a Malásia e seus parceiros regionais podem aumentar a resiliência de suas cadeias de suprimentos contra potenciais interrupções geopolíticas. Para a indústria Halal, que depende fortemente de cadeias de suprimentos confiáveis para manter a integridade dos produtos, esta resiliência adicional representa um valor significativo.

Integração Regional e Benefícios Compartilhados

A visão da PARN se alinha perfeitamente com os objetivos de longa data da ASEAN para maior integração regional. No ano passado, Loke convocou os estados membros da ASEAN a fortalecerem a integração regional por meio da conexão de redes ferroviárias, facilitando assim um fluxo mais livre de mercadorias em toda a região. Ele enfatizou que a conectividade, particularmente ligando redes ferroviárias da Malásia Peninsular à Tailândia, Laos e China, tem sido parte da visão de longo prazo da ASEAN.

O ministro também destacou que os benefícios do projeto não se limitam apenas à Malásia e à China. “Acredito que mais integração significa melhor desenvolvimento e melhores oportunidades para todos”, afirmou. “Não é que, se isso acontecer, beneficiará apenas a Malásia e a China. Os países pelos quais passamos também se beneficiarão.” Esta abordagem colaborativa é essencial para garantir o apoio regional necessário para um projeto de infraestrutura tão ambicioso.

Desafios Técnicos e Regulatórios

Apesar do entusiasmo, o ministro também apontou que ainda existem vários desafios na implementação de um serviço ferroviário global, particularmente no que diz respeito a restrições legais e regulatórias, que a Malásia trabalhará com os países relevantes para resolver. Estes desafios não são insignificantes e incluem questões como diferenças nas bitolas ferroviárias, protocolos de sinalização, procedimentos de fronteira e harmonização regulatória.

Os trabalhos de modernização na linha ferroviária de Johor Bahru a Padang Besar estão em andamento e devem ser concluídos até o final deste ano. “O governo está investindo fundos substanciais para transformá-la em uma ferrovia de pista dupla. Após a conclusão, teremos uma rede ferroviária contínua de pista dupla de Johor Bahru até Padang Besar”, explicou Loke. Esta infraestrutura doméstica modernizada é um pré-requisito essencial para a integração efetiva com a rede ferroviária pan-asiática mais ampla.

Próximos Passos Diplomáticos

A dimensão diplomática do projeto também está avançando, com Loke programado para se reunir com o Vice-Primeiro-Ministro e Ministro dos Transportes da Tailândia, Suriya Juangroongruangkit, em 2 de maio para discutir a PARN. Esta reunião destaca a natureza colaborativa e multinacional do projeto, que exigirá coordenação estreita entre vários países para ser bem-sucedido.

A Tailândia recentemente deu sinal verde para a construção da ferrovia Bangcoc-Vientiane, que visa se conectar com a ferrovia Kunming-Vientiane, construída pela China. Este desenvolvimento representa um passo significativo para completar o trecho norte da Rede Ferroviária Pan-Asiática, aproximando a visão de uma conexão ferroviária contínua de Singapura a Kunming da realidade.

Impacto no Mercado Halal Global

Para a indústria Halal, as implicações da PARN são profundas. Com um mercado global Halal avaliado em trilhões de dólares e em crescimento, a logística tem sido um dos principais gargalos para a expansão do comércio. A rede ferroviária proposta não apenas reduziria os custos e os tempos de trânsito, mas também poderia facilitar o comércio de produtos Halal perecíveis que atualmente enfrentam desafios de transporte significativos.

As regiões ocidentais da China, como Xinjiang, representam mercados substanciais e ainda inexplorados para produtos Halal da Malásia e de outros países da ASEAN. Ao estabelecer uma conexão ferroviária direta, os produtores Halal da Malásia ganhariam acesso sem precedentes a estes mercados, potencialmente transformando a escala e o escopo da indústria.

A PARN também pode servir como um catalisador para maior harmonização das normas Halal em toda a região, à medida que os países trabalham juntos para facilitar o comércio transfronteiriço de produtos Halal. Esta harmonização poderia simplificar ainda mais o comércio e fortalecer a integridade das certificações Halal internacionalmente.

O Futuro da Conectividade Pan-Asiática

A visão da Rede Ferroviária Pan-Asiática representa um novo capítulo na conectividade regional e no comércio Halal. Ao unir países, culturas e mercados através de infraestrutura ferroviária moderna, o projeto tem o potencial de transformar a dinâmica econômica da Ásia e fortalecer a posição da Malásia como um centro Halal global.

Enquanto o projeto avança, será crucial manter o foco tanto nos benefícios comerciais imediatos quanto nas implicações estratégicas de longo prazo. Para a indústria Halal, a PARN oferece não apenas novas oportunidades de mercado, mas também maior resiliência e sustentabilidade para as cadeias de suprimentos. Para a Malásia e seus parceiros regionais, representa um passo em direção a uma visão compartilhada de prosperidade econômica e integração.

À medida que os países da ASEAN continuam a fortalecer seus laços econômicos e a desenvolver infraestrutura compartilhada, iniciativas como a PARN servirão como poderosos catalisadores para o crescimento e a cooperação regional. O compromisso da Malásia com este projeto ambicioso sinaliza sua determinação em desempenhar um papel de liderança na formação do futuro da conectividade asiática e do comércio Halal global.

Referências:

  1. Malaysia affirms readiness for developing Pan-Asian Railway Network – The Investor
    https://theinvestor.vn/malaysia-affirms-readiness-for-developing-pan-asian-railway-network-d15369.html
  2. Malaysia’s Anthony Loke pitches pan-Asian rail as buffer for any South China Sea fallout – South China Morning Post
    https://www.scmp.com/week-asia/economics/article/3287405/malaysias-anthony-loke-pitches-pan-asian-rail-buffer-any-south-china-sea-fallout
  3. Malaysia Signals Readiness to Advance Pan-Asian Railway Network – The Exchange Asia
    https://theexchangeasia.com/malaysia-signals-readiness-to-advance-pan-asian-railway-network/
  4. Malaysia Ready To Develop Pan-Asian Railway Network – Bernama
    https://www.bernama.com/en/news.php?id=2414180
Marrocos Amplia Mercado para Carnes Vermelhas Brasileiras: Oportunidades e Impactos Econômicos

Marrocos Amplia Mercado para Carnes Vermelhas Brasileiras: Oportunidades e Impactos Econômicos

O governo brasileiro anunciou recentemente uma importante conquista para o setor agropecuário nacional. As autoridades sanitárias marroquinas aprovaram um novo Certificado Sanitário Internacional (CSI) que atualiza os requisitos para exportações de carne bovina brasileira e, pela primeira vez, autoriza a importação de miúdos bovinos brasileiros para o país norte-africano. Esta decisão representa um significativo avanço nas relações comerciais entre os dois países e abre novas oportunidades para os produtores brasileiros no mercado internacional.

O Acordo e suas Implicações Econômicas

O novo certificado sanitário aprovado pelo Marrocos não apenas atualiza os requisitos para a exportação de carne bovina brasileira, mas também amplia o escopo dos produtos permitidos, incluindo agora os miúdos bovinos. Esta aprovação reflete a confiança das autoridades marroquinas no sistema de inspeção sanitária brasileiro e cria oportunidades adicionais para os produtores nacionais desenvolverem parcerias comerciais mais abrangentes na região.

Com esta conquista, o agroalimentar brasileiro atinge sua 46ª abertura de mercado em 2025, totalizando impressionantes 346 novas oportunidades comerciais desde o início de 2023. Estes resultados são fruto de uma coordenação eficiente entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Ministério das Relações Exteriores, demonstrando o compromisso do governo brasileiro em expandir as exportações agropecuárias.

Potencial do Mercado Marroquino

O Marrocos representa um mercado extremamente promissor para os produtos agropecuários brasileiros. Com uma população superior a 37 milhões de habitantes, o país norte-africano importou mais de US$ 43 milhões em produtos cárneos em 2023, tendo o Brasil como seu segundo principal fornecedor. Este dado evidencia a já existente relação comercial entre os dois países, que agora se fortalece ainda mais com a ampliação dos produtos permitidos.

Em 2024, as exportações agrícolas brasileiras para o Marrocos já totalizaram aproximadamente US$ 1,36 bilhão, destacando-se produtos como açúcar e etanol, cereais, farinhas e preparações, animais vivos e café. A inclusão dos miúdos bovinos na lista de produtos permitidos representa um potencial aumento nesse valor, agregando ainda mais valor à cadeia produtiva brasileira.

Contexto de Alta de Preços no Marrocos

A abertura do mercado marroquino para mais produtos cárneos brasileiros ocorre em um momento oportuno. O país norte-africano tem enfrentado uma alta histórica nos preços das carnes vermelhas, com valores chegando a 120 dirhams por quilo (aproximadamente R$ 65) em algumas cidades como Casablanca. Esta elevação de preços tem sido impulsionada por diversos fatores, incluindo o estresse hídrico, aumento dos custos dos insumos agrícolas e flutuações nos mercados internacionais.

Para amenizar essa situação e garantir o abastecimento do mercado interno com carnes a preços mais acessíveis, o Marrocos tem buscado diversificar suas fontes de importação. Além do Brasil, o país também firmou acordos com a Argentina e sete empresas espanholas para importação de carnes vermelhas. Estas medidas visam promover uma redução gradual dos preços no mercado local.

Certificação Halal e Controle Sanitário

Um aspecto fundamental para a exportação de carnes para o Marrocos é a certificação Halal, que garante que os produtos atendem aos requisitos religiosos islâmicos. O Brasil, que possui uma significativa indústria de alimentos certificados Halal, está bem posicionado para atender a essa exigência. As carnes brasileiras exportadas para o Marrocos devem contar com certificação Halal emitida por organismo islâmico reconhecido.

Além da certificação religiosa, o Marrocos impõe rigorosos controles sanitários para as carnes importadas. O Escritório Nacional de Segurança Sanitária dos Produtos Alimentares do Marrocos (ONSSA) estabelece que as carnes importadas sejam submetidas a inspeções nas fronteiras e acompanhadas de certificado sanitário emitido pelas autoridades competentes do país de origem, além do certificado de abate Halal.

Perspectivas e Estratégia de Crescimento

A aprovação do novo certificado sanitário representa mais do que uma simples abertura de mercado; é parte de uma estratégia mais ampla de expansão da presença brasileira em mercados internacionais. O Brasil tem trabalhado intensamente para abrir novos mercados para seus produtos agropecuários, tendo alcançado 46 novas aberturas apenas em 2025.

Para o Marrocos, a importação de carnes brasileiras se insere em uma estratégia nacional de modernização e fortalecimento da fileira de carnes vermelhas. O país tem planos ambiciosos, que incluem o aumento da produção anual para 850.000 toneladas até 2030, a modernização de 120 abatedouros aprovados e a melhoria da produtividade, aumentando o peso médio das carcaças para 270 kg para bovinos.

Brasil como Potência Exportadora

O acordo com o Marrocos reforça a posição do Brasil como uma potência global no setor agropecuário. O país tem expandido consistentemente sua presença em mercados internacionais, com destaque para produtos como carne bovina, frango, soja, açúcar e café. Em 2023, o Marrocos importou um total de 2.807 toneladas de carne bovina do Brasil, tornando-se o quarto maior importador africano de produtos brasileiros.

Ao final de 2024, o Brasil já havia exportado para o Marrocos 1.530 toneladas de carne bovina, inserindo-se em um contexto global em que o Brasil exportou um total de 2,645 milhões de toneladas para o mundo todo. A perspectiva é que essas exportações continuem crescendo, especialmente após a aprovação do novo certificado sanitário.

Esta ampliação do mercado para as carnes vermelhas brasileiras no Marrocos não apenas beneficia os produtores brasileiros, mas também contribui para a segurança alimentar marroquina, oferecendo alternativas mais acessíveis para os consumidores locais em um período de alta de preços. A diversificação das fontes de importação de carnes é uma estratégia importante para o Marrocos garantir o abastecimento de seu mercado interno.

A aprovação do novo certificado sanitário marca um importante capítulo nas relações comerciais entre Brasil e Marrocos, abrindo caminho para um intercâmbio comercial ainda mais intenso no futuro. As negociações continuam para reduzir as tarifas alfandegárias impostas pelo Marrocos sobre os produtos brasileiros, o que poderá impulsionar ainda mais as exportações brasileiras para esse mercado estratégico no norte da África.

Referências

  1. Le Matin – Le Maroc ouvre davantage son marché aux viandes rouges brésiliennes – https://lematin.ma/economie/le-maroc-ouvre-davantage-son-marche-aux-viandes-rouges-bresiliennes/273492
  2. UOL Economia – Marrocos abre mercado para carne bovina e miúdos do Brasil – https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2025/04/08/marrocos-abre-mercado-para-carne-bovina-e-miudos-do-brasil.htm
  3. Agro2 – Brasil passa a exportar carne bovina para o Marrocos e feijão para o Peru – https://agro2.com.br/economia/brasil-passa-a-exportar-carne-bovina-para-o-marrocos-e-feijao-para-o-peru/
  4. TelQuel – Le Maroc augmente ses importations de viande bovine en provenance du Brésil – https://mobile.telquel.ma/instant-t/2024/12/31/le-maroc-augmente-ses-importations-de-viande-bovine-en-provenance-du-bresil_1911263/
  5. Le Matin – Après le Brésil, des viandes ‘halal’ d’Argentine et d’Espagne au Maroc – https://lematin.ma/economie/des-viandes-halal-dargentine-et-despagne-dans-le-marche-marocain/256915
  6. H24Info – Viandes rouges surgelées: l’ONSSA s’engage à un contrôle rigoureux – https://www.h24info.ma/maroc/viandes-rouges-surgelees-lonssa-sengage-a-un-controle-rigoureux/

Nova Proibição de Importação de Carne e Queijo da UE Gera Questionamentos para o Mercado Halal do Reino Unido

Proibição de Importação da UE Impacta Mercado Halal no Reino Unido

Nova Proibição de Importação de Carne e Queijo da UE Gera Questionamentos para o Mercado Halal do Reino Unido

A recente proibição temporária imposta pelo governo britânico sobre importação de carnes e laticínios da União Europeia, motivada pela preocupação com a propagação da febre aftosa, levanta questões significativas para o mercado Halal no Reino Unido. Esta medida emergencial afeta diretamente a disponibilidade e os preços de produtos Halal, criando desafios e oportunidades para consumidores muçulmanos e produtores domésticos. As comunidades britânicas muçulmanas, bangladeshianas, paquistanesas e sul-asiáticas poderão enfrentar mudanças nas cadeias de abastecimento de alimentos que respeitam seus requisitos religiosos.

Contexto da Nova Proibição de Importação

O governo do Reino Unido implementou, a partir de 12 de abril de 2025, uma proibição temporária sobre a importação pessoal de produtos de carne e laticínios provenientes de todos os países da União Europeia. Esta medida foi adotada como resposta ao aumento de casos de febre aftosa detectados em diversos países europeus, incluindo Alemanha, Hungria, Eslováquia e Áustria. A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa que afeta animais de casco fendido como gado, ovelhas, porcos e outros animais como javalis selvagens, veados, lhamas e alpacas, representando um risco significativo para a indústria pecuária britânica.

A proibição abrange uma ampla gama de produtos, incluindo carne suína, bovina, de cordeiro, carneiro, cabra, veado e derivados como salsichas, além de produtos lácteos como leite, manteiga, queijo e iogurte. Essas restrições aplicam-se especificamente a viajantes que chegam à Grã-Bretanha vindos de países da UE, não importando se os produtos estão embalados ou foram adquiridos em lojas duty-free. Importante ressaltar que esta proibição atualmente afeta apenas importações pessoais e não comerciais, embora estas últimas já estejam sujeitas a regulamentos sanitários mais rigorosos.

O Ministro da Agricultura britânico, Daniel Zeichner, enfatizou o compromisso do governo em proteger os agricultores britânicos da febre aftosa, declarando que as restrições visam prevenir a propagação da doença e proteger a segurança alimentar da Grã-Bretanha. Esta ação preventiva busca evitar uma repetição do devastador surto de 2001, que resultou no abate de mais de seis milhões de animais e causou prejuízos bilionários para o setor agrícola do país.

Implicações Específicas para o Mercado Halal

As novas restrições de importação suscitam preocupações particulares dentro do setor alimentício Halal britânico. Historicamente, uma parcela significativa dos produtos Halal consumidos no Reino Unido tem origem em países da UE com cadeias de abastecimento e processos de certificação Halal bem estabelecidos. A proibição atual, mesmo focada em importações pessoais, pode sinalizar um período prolongado de restrições caso a situação da febre aftosa se agrave na Europa.

Para a comunidade muçulmana britânica, que já enfrentava adaptações nas importações após o Brexit, esta nova camada de restrições adiciona maior complexidade ao mercado. Muitos consumidores muçulmanos no Reino Unido têm preferências por produtos específicos de certas regiões europeias que oferecem certificações Halal confiáveis e atendem aos requisitos religiosos de abate. A interrupção dessas importações pessoais pode afetar particularmente aqueles que viajam frequentemente e costumam trazer tais produtos para consumo próprio.

Existe também a preocupação de que, se a proibição se estender ou influenciar o comércio mais amplo, poderá haver impacto nos preços dos produtos Halal no mercado britânico. O aumento da demanda por fontes domésticas, combinado com uma possível redução na disponibilidade geral, pode levar a aumentos de preços, afetando especialmente consumidores de baixa renda nas comunidades muçulmanas, que dependem do acesso a alimentos que cumpram com suas obrigações religiosas.

Oportunidades para Produtores Domésticos de Alimentos Halal

A proibição atual, embora desafiadora para importadores e consumidores, apresenta oportunidades significativas para produtores domésticos de carne Halal no Reino Unido. O provável aumento na demanda por produtos Halal produzidos localmente pode estimular o crescimento e desenvolvimento desse setor específico da indústria alimentícia britânica. Agricultores e abatedouros que aderem às práticas de abate Halal enfrentarão pressão para aumentar sua produção, mas também poderão capitalizar sobre a maior demanda do mercado.

Para os produtores Halal britânicos, esta situação oferece uma chance de expandir suas operações e possivelmente conquistar maior participação de mercado anteriormente ocupada por importações. Empresas locais que investirem em certificação adequada e ampliação de capacidade produtiva poderão se beneficiar a médio e longo prazo, fortalecendo a presença doméstica no setor Halal. No entanto, aumentar rapidamente a capacidade de produção Halal apresenta desafios significativos, incluindo a necessidade de garantir que todos os novos processos estejam em conformidade com os requisitos religiosos islâmicos.

Fornecedores e varejistas de produtos Halal baseados no Reino Unido provavelmente buscarão fontes alternativas, seja de produtores domésticos ou de países fora da UE com capacidades estabelecidas de exportação Halal. Isso pode levar ao desenvolvimento de novas parcerias comerciais e, possivelmente, a uma reestruturação das cadeias de abastecimento Halal para o mercado britânico, reduzindo a dependência de fontes europeias no futuro.

Complexidades Regulatórias e Certificação Halal

A atual proibição de importação ressalta a interseção entre medidas de segurança de alimentos baseadas em ciência e requisitos religiosos para certificação Halal. Enquanto a proibição governamental concentra-se na prevenção da transmissão de doenças animais, os requisitos Halal focam em aspectos específicos do abate e processamento que seguem princípios islâmicos, criando uma camada adicional de complexidade para produtores e importadores.

Um aspecto particularmente relevante nessa discussão refere-se ao atordoamento pré-abate dos animais. Uma decisão da Corte de Justiça Europeia de 2019 determinou que a carne derivada de animais abatidos de acordo com ritos religiosos sem atordoamento prévio não pode ser certificada como orgânica na UE. A Corte concluiu que tais práticas não atendem aos mais elevados padrões de bem-estar animal, considerados necessários para obter a certificação orgânica européia.

Esta decisão ilustra as complexidades enfrentadas por produtores e consumidores de carne Halal, que precisam navegar entre diferentes normas e requisitos, frequentemente divergentes. É importante observar que existe diversidade de opiniões dentro das próprias comunidades muçulmanas sobre o atordoamento pré-abate, com algumas autoridades religiosas permitindo certas formas de atordoamento reversível, desde que os animais estejam vivos no momento do corte ritual.

Impacto nas Comunidades Muçulmanas Britânicas

Para as comunidades muçulmanas do Reino Unido, incluindo britânicos de origem bangladeshiana, paquistanesa e sul-asiática, a proibição representa um desafio adicional ao acesso a alimentos culturalmente apropriados e religiosamente aceitáveis. Estas comunidades já enfrentavam adaptações nas cadeias de abastecimento alimentar após o Brexit, e esta nova medida adiciona mais uma camada de complexidade ao seu cotidiano.

As comunidades muçulmanas britânicas dependem fortemente da disponibilidade contínua de produtos Halal certificados para manter suas práticas alimentares religiosas. Qualquer disrupção nessas cadeias de abastecimento pode ter impactos sociais e culturais significativos, além das questões econômicas. Restaurantes, açougues e outros estabelecimentos especializados em alimentos Halal podem enfrentar dificuldades para manter a consistência na oferta de produtos, potencialmente afetando tanto empresários quanto consumidores desses segmentos.

A adaptação a essas novas circunstâncias poderá exigir maior flexibilidade das comunidades muçulmanas na busca por fontes alternativas de produtos Halal, possivelmente explorando novas marcas e fornecedores. Embora inicialmente desafiadora, esta situação também pode fortalecer conexões entre produtores locais Halal e consumidores muçulmanos, potencialmente criando cadeias de abastecimento mais curtas e sustentáveis a longo prazo.

Perspectivas Futuras para o Mercado Halal Britânico

A duração da atual proibição permanece indefinida, com o governo do Reino Unido indicando que as restrições continuarão em vigor até que o risco de propagação da febre aftosa seja adequadamente mitigado. Esta incerteza temporal cria desafios adicionais para planejamento tanto para empresas quanto para consumidores no setor Halal.

No longo prazo, esta situação poderá acelerar tendências que já estavam em desenvolvimento após o Brexit, como o aumento da produção doméstica de carne Halal e o desenvolvimento de novas rotas comerciais para importação de produtos Halal de países fora da UE. O mercado Halal britânico, avaliado em bilhões de libras anualmente, tem demonstrado resiliência considerável diante de mudanças regulatórias anteriores, sugerindo capacidade de adaptação a este novo cenário.

Para os produtores Halal domésticos, o momento atual representa uma oportunidade estratégica para investimento em capacidade produtiva e inovação em produtos que atendam às necessidades específicas de diferentes segmentos da comunidade muçulmana britânica. Empresas que aproveitarem este período para fortalecer suas credenciais de certificação Halal e expandir suas operações poderão emergir em posição mais competitiva quando o mercado eventualmente se estabilizar.

Conclusão

A proibição temporária de importações pessoais de carne e queijo da UE para o Reino Unido, embora motivada por preocupações legítimas de saúde animal, cria repercussões complexas para o mercado Halal britânico. O setor enfrentará desafios de abastecimento no curto prazo, mas também terá oportunidades para desenvolvimento de capacidade produtiva doméstica e diversificação de fontes internacionais no médio e longo prazos.

Para o mercado Halal especificamente, esta situação serve como catalisador para reflexão sobre resiliência da cadeia de abastecimento e dependência de importações. Produtores domésticos têm agora uma janela de oportunidade para expandir sua participação no mercado, enquanto consumidores muçulmanos podem precisar adaptar-se a mudanças na disponibilidade e preços de certos produtos, pelo menos temporariamente.

As autoridades reguladoras britânicas devem considerar as necessidades específicas das comunidades que dependem de alimentos Halal ao desenvolver e implementar medidas de controle sanitário. Um diálogo construtivo entre reguladores, produtores e representantes da comunidade muçulmana será essencial para garantir que as medidas de segurança de alimentos sejam eficazes enquanto respeitam os requisitos religiosos dessenciais para a certificação Halal.

A longo prazo, a resiliência do mercado Halal britânico dependerá da capacidade dos diversos atores envolvidos de adaptarem-se e inovarem em resposta a um ambiente regulatório e comercial em constante mudança, sempre mantendo o foco nos princípios fundamentais da certificação Halal e na segurança de alimentos para todos os consumidores.

Referências

  1. New EU Import Ban on Meat and Cheese Raises Questions for UK Halal Market (https://dazzlingdawn.com/2025/4/16/new-eu-import-ban-on-meat-and-cheese-raises-questions-for-uk-halal-market)
  2. UK ban on EU cheese and meat: What it means for you – BBC (https://www.bbc.com/news/articles/c0qn7jzj3qgo)
  3. UK bans EU cheese and meat to stop disease spreading – BBC (https://www.bbc.com/news/articles/cx2vpp8zzd7o)
  4. Government extends ban on personal meat imports to protect farmers from foot and mouth (https://www.gov.uk/government/news/government-extends-ban-on-personal-meat-imports-to-protect-farmers-from-foot-and-mouth)
  5. Halal meat cannot be certified as organic under the EU law (https://www.euromeatnews.com/Article-Halal-meat-cannot-be-certified-as-organic-under-the-EU-law/2637)
  6. European travellers banned from bringing meat and dairy into the UK (https://www.euronews.com/travel/2025/04/16/travel-warning-bringing-european-meat-and-dairy-products-into-the-uk-could-land-you-a-6000)
OIC Realiza a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais

OIC Realiza a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais

A Organização para Cooperação Islâmica (OIC) está realizando a 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais na sede da OIC em Jeddah, Reino da Arábia Saudita. O evento, que teve início em 15 de abril de 2025, prosseguirá até 17 de abril de 2025, reunindo representantes dos estados membros para discutir e avaliar iniciativas estratégicas em diversas áreas de cooperação. Esta importante reunião estabelece diretrizes para as atividades futuras da organização e prepara resoluções que serão submetidas ao próximo Conselho de Ministros das Relações Exteriores.

A Organização para Cooperação Islâmica e a Importância da Comissão

A Organização para Cooperação Islâmica representa uma das mais influentes entidades intergovernamentais do mundo islâmico, dedicada a fortalecer laços entre os estados membros e promover seu desenvolvimento conjunto. A Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais constitui um órgão fundamental dentro da estrutura da OIC, responsável por avaliar e formular políticas nas áreas de cooperação econômica, ciência e tecnologia, cultura, assuntos sociais e familiares, juventude e esportes.

Esta 47ª sessão da Comissão ocupa posição estratégica no calendário da organização, pois seus resultados serão encaminhados ao 51º Conselho de Ministros das Relações Exteriores (CFM), programado para acontecer em Istambul, República da Turquia, em junho de 2025. O trabalho desenvolvido pela Comissão estabelece os fundamentos para decisões importantes que afetarão a cooperação entre nações islâmicas nos próximos anos.

Durante a Sessão de Abertura, o Secretário-Geral da OIC, Sr. Hissein Brahim Taha, ressaltou que o sucesso das atividades da organização para o próximo ano dependerá diretamente da orientação e suporte fornecidos por esta reunião. Ele destacou que, desde a última 50ª Sessão do CFM realizada em Yaoundé, República de Camarões, em 29-30 de agosto de 2024, a OIC continuou priorizando a execução de suas resoluções em domínios como econômico, ciência e tecnologia, assuntos culturais, sociais e familiares, juventude e esportes.

Avanços na Cooperação Econômica e Segurança Alimentar

Na área de cooperação econômica, o Secretário-Geral expressou satisfação ao relatar que a participação do comércio intra-OIC no comércio exterior global dos Estados Membros aumentou de 19,16% em 2023 para 20,36% em 2024. Como resultado desse crescimento, 30 Estados Membros da OIC já atingiram a meta de 25% de comércio intra-OIC, representando um avanço significativo na integração econômica entre as nações islâmicas.

O Secretário-Geral enfatizou que os esforços de cooperação entre os Estados Membros da OIC no domínio da agricultura e segurança alimentar receberam impulso adequado através do desenvolvimento do Projeto de Plano Estratégico para Segurança Alimentar nos Estados Membros da OIC. Esta iniciativa visa contribuir mais efetivamente para o aumento da produtividade agrícola, desenvolvimento rural e segurança alimentar nos países da OIC, além de fortalecer a cooperação intra-OIC neste domínio.

Este desenvolvimento é particularmente relevante considerando dados recentes que indicam um crescimento modesto no comércio intra-OIC, que subiu de 873 bilhões de dólares em 2022 para 884 bilhões de dólares em 2023, refletindo um aumento de aproximadamente 1,23% apesar das dificuldades econômicas globais. Este crescimento é atribuído a fatores como aumento dos preços de commodities, flutuações nas taxas de câmbio do dólar e euro, e implementação de acordos bilaterais e regionais de comércio e investimento.

Ciência, Tecnologia e Saúde: Prioridades Estratégicas

O Sr. Hissein Taha confirmou a importância do avanço da ciência e tecnologia, educação superior, saúde, meio ambiente e recursos hídricos nos Estados Membros da OIC. Neste sentido, ele destacou que o Secretariado Geral da OIC, em colaboração com o COMSTECH (Comitê Permanente para Cooperação Científica e Tecnológica da OIC), está desenvolvendo a Visão de Inteligência Artificial da OIC, que fornecerá uma estrutura estratégica para os Estados Membros na formulação de políticas nacionais de IA.

Esta iniciativa alinha-se com esforços mais amplos do COMSTECH, que recentemente lançou um “serviço especializado” para fomentar a cooperação tecnológica entre os estados membros da OIC. O serviço foi inaugurado durante a visita do Secretário-Geral da OIC, Hissein Ibrahim Taha, ao Secretariado do COMSTECH em Islamabad, junto com o Ministro de Ciência e Tecnologia do Paquistão, Khalid Maqbool Siddiqui. Esta iniciativa estratégica visa aprimorar a autossuficiência tecnológica, promover o desenvolvimento sustentável e mitigar a fuga de cérebros nos estados membros da OIC.

Na área da saúde, o Secretário-Geral apontou que o Secretariado Geral da OIC tem buscado ativamente várias iniciativas destinadas a prevenir e combater doenças, com foco particular em câncer, poliomielite e promoção da autossuficiência na produção de vacinas. Estas medidas representam um compromisso contínuo com o fortalecimento dos sistemas de saúde nas nações islâmicas.

Iniciativas Culturais e Desenvolvimento Social

No domínio cultural, o Secretário-Geral da OIC mencionou que o Secretariado Geral está trabalhando em estreita colaboração com os Estados Membros e instituições da OIC para organizar eventos culturais conjuntos. Adicionalmente, a organização acompanha a implementação da Resolução relativa ao estabelecimento da Plataforma para Proteção e Preservação do Patrimônio Cultural no Mundo Muçulmano, em coordenação com as instituições envolvidas.

Com relação à cooperação intra-OIC no domínio social, o Secretário-Geral expressou satisfação ao relatar que o Secretariado Geral continua seus esforços para acompanhar a implementação das recomendações, incluindo o Documento de Jeddah sobre os Direitos das Mulheres no Islã, originadas da Conferência Internacional sobre Mulheres no Islã realizada em Jeddah, Arábia Saudita, em novembro de 2023. Este trabalho demonstra o compromisso da organização com o avanço dos direitos das mulheres e questões familiares dentro do contexto das tradições islâmicas.

Perspectivas Futuras e Resultados Esperados

Durante os três dias da Sessão da Comissão Islâmica, os representantes dos Estados Membros da OIC revisarão os projetos de resoluções nas áreas econômica, científica e tecnológica, cultural, social e familiar, juventude e esportes, recebidos dos Estados Membros. O resultado deste trabalho será submetido ao 51º Conselho de Ministros das Relações Exteriores (CFM), a ser realizado em Istambul, República da Turquia, em junho de 2025, para aprovação final.

Esta sessão representa um passo importante na contínua evolução da OIC como organização voltada para o desenvolvimento e cooperação, especialmente em um momento em que desafios globais como insegurança alimentar, mudanças climáticas e instabilidade econômica exigem respostas coordenadas. A capacidade da OIC de adaptar suas estratégias e reforçar a cooperação entre seus membros será fundamental para o sucesso de suas iniciativas futuras.

Conclusão

A 47ª Sessão da Comissão Islâmica para Assuntos Econômicos, Culturais e Sociais representa um momento crucial para a Organização para Cooperação Islâmica, oferecendo uma plataforma para avaliar o progresso alcançado e delinear estratégias futuras. Os avanços relatados em comércio intra-OIC, desenvolvimento agrícola, inovação tecnológica e questões sociais demonstram o compromisso contínuo da organização com o desenvolvimento holístico de seus Estados Membros.

O papel crescente da inteligência artificial, segurança alimentar e preservação cultural como prioridades estratégicas reflete uma adaptação às realidades contemporâneas e desafios emergentes. À medida que a sessão prossegue, seus resultados determinarão significativamente a direção da cooperação islâmica nas próximas décadas, com potencial para fortalecer a unidade e promover o desenvolvimento sustentável em todo o mundo muçulmano.

Referências

  1. Zawya – OIC holds the 47th session of the Islamic Commission for Economic, Cultural, and Social Affairs
    https://www.zawya.com/en/press-release/events-and-conferences/oic-holds-the-47th-session-of-the-islamic-commission-for-economic-cultural-and-social-affairs-qfidkhqy
  2. COMCEC – Summary report on trade
    https://www.comcec.org/wp-content/uploads/2024/05/3-Summary-report-on-trade.pdf
  3. Arab News – OIC’s COMSTECH launches ‘expert service’ to foster tech cooperation
    https://www.arabnews.com/node/2586002/pakistan
  4. Islamic Committee of the International Crescent – Participation in the meetings of the 46th Islamic Commission
    https://en.icic-oic.org/index.php/2024/08/04/participation-in-the-meetings-of-the-46th-islamic-commission-for-economic-cultural-and-social-affairs-session-of-the-organization-of-islamic-cooperation-oic-28-30-july-2024-jeddah-kingdom-of-saud/
Brasil reforça laços comerciais com Marrocos e Egito, ampliando exportações agrícolas, promovendo carne bovina e fortalecendo sua posição no mercado Halal.

Brasil Fortalece Laços Comerciais com Marrocos e Egito e Amplia Agenda Agropecuária no Norte da África

A recente missão oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) ao Marrocos e Egito representa um marco significativo na estratégia brasileira de consolidar alianças estratégicas com nações do mundo árabe. Durante os dias 7 a 10 de abril de 2025, a comitiva liderada pelo secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais, Marcel Moreira, avançou em discussões sanitárias, ampliou oportunidades de cooperação técnica e celebrou importantes conquistas comerciais, incluindo a abertura do mercado marroquino para miúdos bovinos brasileiros. O Egito reafirmou sua posição como principal destino africano para produtos do agronegócio brasileiro, com exportações que alcançaram US$ 3,3 bilhões em 2024, evidenciando o potencial crescente do Brasil em contribuir para a segurança alimentar regional enquanto fortalece relações comerciais duradouras.

Contexto Estratégico da Missão ao Norte da África

A missão brasileira ao Marrocos e Egito reflete uma abordagem coordenada do governo brasileiro para intensificar sua presença comercial e diplomática no continente africano, especialmente na região norte. Esta iniciativa se insere em um contexto mais amplo de política externa brasileira, que busca diversificar mercados e estabelecer parcerias estratégicas com países que compartilham interesses mútuos no setor agropecuário. A viagem contou com apoio direto dos adidos agrícolas brasileiros nos respectivos países – Ellen Laurindo no Marrocos e Rafael Mohana no Egito – demonstrando a infraestrutura diplomática especializada que o Brasil mantém para facilitar negociações comerciais e técnicas no setor agropecuário.

O timing desta missão é particularmente significativo, ocorrendo em um momento em que a segurança alimentar global enfrenta desafios crescentes e quando o Brasil busca consolidar sua posição como um fornecedor confiável de alimentos para o mundo. As nações do norte da África representam mercados estratégicos não apenas pelo volume de importações, mas também por servirem como porta de entrada para um mercado consumidor mais amplo que abrange o Oriente Médio e outras regiões africanas.

A continuidade das relações entre Brasil e países árabes tem se fortalecido consistentemente ao longo dos anos, com missões anteriores pavimentando o caminho para os avanços atuais. Esta abordagem persistente e estruturada tem rendido frutos tangíveis para o agronegócio brasileiro, com diversas aberturas de mercado e reconhecimento da qualidade dos produtos nacionais.

Avanços nas Relações com o Marrocos

No primeiro destino da missão, o Marrocos, o foco principal esteve na aproximação institucional com autoridades sanitárias e na promoção comercial dos produtos brasileiros. O secretário adjunto Marcel Moreira realizou uma reunião produtiva com o diretor-geral da autoridade sanitária marroquina (ONSSA), Abdellah Janati, onde foram discutidos temas cruciais para o avanço das relações comerciais bilaterais.

Um ponto alto da visita foi o agradecimento formal pela recente abertura do mercado marroquino para miúdos bovinos do Brasil, marcando a 346ª abertura de mercado desde o início da atual gestão do Ministério da Agricultura e Pecuária. Este avanço representa não apenas uma conquista comercial, mas também um reconhecimento da qualidade e segurança dos produtos brasileiros, especialmente relevante para o mercado Halal, onde produtos bovinos têm demanda significativa.

A visita ao Marrocos também incluiu a realização do “Brazilian Beef Dinner”, um evento estratégico organizado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) em colaboração com a Embaixada do Brasil em Rabat. Este evento proporcionou um ambiente de negócios propício para aproximação comercial, reunindo autoridades locais, empresários e representantes do setor agroalimentar marroquino. A escolha de promover especificamente a carne bovina brasileira demonstra a importância deste produto nas relações comerciais entre os dois países e seu potencial de crescimento no mercado norte-africano.

As discussões sobre cooperação técnica entre os governos brasileiro e marroquino abrem perspectivas promissoras para a transferência de conhecimento e tecnologias em áreas como defesa agropecuária, sanidade animal e sistemas de inspeção, fortalecendo não apenas as relações comerciais, mas também institucionais entre as duas nações.

Expansão da Cooperação com o Egito

A segunda etapa da missão ocorreu no Egito, onde o secretário-adjunto Marcel Moreira foi recebido pelo ministro substituto da Agricultura e Recuperação de Terras, Moustafa El Sayyad, acompanhado por outras autoridades egípcias. O encontro representou um momento significativo nas relações bilaterais, considerando o expressivo crescimento das exportações agrícolas brasileiras para o país nos últimos anos.

Os números apresentados durante a reunião são impressionantes: em 2024, o Brasil exportou para o Egito mais de 8,5 milhões de toneladas de produtos do agronegócio, totalizando US$ 3,3 bilhões em valor. Este desempenho notável recolocou o Egito na posição de principal destino do agronegócio brasileiro no continente africano, demonstrando a relevância estratégica deste mercado para o Brasil.

No âmbito sanitário, os representantes brasileiros trabalharam para reforçar a confiança mútua construída ao longo dos últimos anos, que tem resultado em diversas aberturas de mercado para produtos brasileiros. Um marco importante nesta relação foi o Acordo de Equivalência (pré-listing), que representa o reconhecimento formal pelo Egito da eficiência e confiabilidade do sistema de defesa agropecuária brasileiro.

Durante os encontros, as autoridades egípcias manifestaram interesse em aprofundar ainda mais essa parceria, com avanços concretos em duas frentes principais: a implementação da certificação eletrônica para produtos de origem animal e a abertura de mercado para novos itens do agronegócio brasileiro. Estas iniciativas prometem não apenas aumentar o volume comercial entre os países, mas também tornar os processos mais eficientes e seguros.

Promoção da Carne Brasileira nos Mercados Árabes

Um elemento estratégico que permeou toda a missão foi a promoção ativa da carne bovina brasileira. Em ambos os países visitados, foram realizados eventos específicos para destacar a qualidade deste produto. No Cairo, seguindo o modelo já implementado em Rabat, o “Brazilian Beef Dinner” reuniu autoridades e empresários egípcios em torno da carne brasileira.

Estes eventos promocionais evidenciam o entendimento brasileiro de que o mercado árabe valoriza três aspectos fundamentais: qualidade do produto, segurança sanitária e relações comerciais de longo prazo. A escolha por priorizar a carne bovina nas ações promocionais reflete sua importância estratégica na pauta exportadora brasileira para a região, bem como seu alinhamento com as demandas do mercado Halal.

A presença da ABIEC na organização destes eventos demonstra a articulação entre governo e setor privado na promoção internacional dos produtos brasileiros, criando sinergias que potencializam os resultados comerciais. Esta abordagem coordenada entre instituições públicas e privadas tem se mostrado eficaz para enfrentar os desafios de mercados competitivos e complexos como os do norte da África.

Os eventos de promoção também serviram como plataforma para apresentar os avanços brasileiros em matéria de sustentabilidade, rastreabilidade e segurança de alimentos, aspectos cada vez mais valorizados pelo mercado global, especialmente no segmento de carnes.

Implicações para o Mercado Halal

A intensificação das relações comerciais entre o Brasil e países de maioria muçulmana como Marrocos e Egito tem implicações diretas para o mercado Halal global. O Brasil tem se consolidado como um dos principais fornecedores mundiais de produtos Halal, especialmente no setor de proteína animal, graças a investimentos consistentes em sistemas de certificação e capacitação para atender às exigências religiosas e técnicas deste segmento.

A abertura de mercado para miúdos bovinos brasileiros no Marrocos é particularmente relevante para o mercado Halal, pois representa um reconhecimento adicional da capacidade brasileira de fornecer produtos que atendam às normas islâmicas de abate e processamento. Esta conquista pode servir como referência para outros países com população majoritariamente muçulmana, potencialmente abrindo novas oportunidades comerciais.

O fortalecimento da confiança nas relações com autoridades sanitárias de Marrocos e Egito também beneficia indiretamente todo o sistema de certificação Halal brasileiro, pois demonstra que os controles sanitários e os processos produtivos nacionais são reconhecidos e respeitados internacionalmente, incluindo por mercados exigentes.

A estratégia brasileira de promover não apenas a abertura de mercados, mas também o estabelecimento de relações comerciais duradouras, alinha-se perfeitamente com os valores do comércio Halal, onde a confiança e a transparência são elementos fundamentais nas transações comerciais.

Consolidação de Alianças Estratégicas no Mundo Árabe

A missão ao Marrocos e Egito transcende os objetivos comerciais imediatos, representando um componente crucial na estratégia brasileira de consolidar alianças duradouras com países-chave do mundo árabe. Esta abordagem de longo prazo combina três elementos essenciais: relações diplomáticas sólidas, cooperação técnica estruturada e presença comercial qualificada.

O Brasil demonstra compreender que sua contribuição para a segurança alimentar global, especialmente em regiões como o norte da África, não se limita ao fornecimento de produtos agropecuários, mas inclui também a transferência de conhecimentos e tecnologias que podem ajudar os países parceiros a desenvolverem suas próprias capacidades produtivas.

A continuidade das iniciativas diplomáticas e comerciais, evidenciada pela sequência de missões e acordos firmados ao longo dos anos, revela uma política de Estado consistente para o fortalecimento das relações com o mundo árabe, que transcende mandatos governamentais específicos e estabelece bases sólidas para o futuro.

O reconhecimento do sistema brasileiro de defesa agropecuária através de acordos como o de Equivalência com o Egito representa um capital diplomático e comercial valioso, construído ao longo de anos de trabalho técnico e negociações, que pode ser aproveitado para expandir ainda mais a presença brasileira na região.

Perspectivas Futuras das Relações Comerciais Brasil-Norte da África

Analisando os resultados da missão e o contexto mais amplo das relações entre Brasil e os países do norte da África, é possível identificar perspectivas promissoras para o futuro. As tratativas para implementação da certificação eletrônica com o Egito e para novas aberturas de mercado indicam que há um horizonte de oportunidades ainda inexploradas.

A consolidação do Egito como principal destino africano do agronegócio brasileiro sinaliza a possibilidade de utilizar esta posição como plataforma para expansão para outros mercados da região. Similarmente, os avanços com o Marrocos podem servir como referência para negociações com outros países do norte da África.

O aprofundamento da cooperação técnica, além de seu valor intrínseco para as relações bilaterais, tem o potencial de criar um ambiente mais favorável para as exportações brasileiras ao familiarizar os parceiros com os sistemas e métodos brasileiros de produção agropecuária e controle sanitário.

A crescente demanda por segurança alimentar em uma região que enfrenta desafios significativos nesta área, combinada com a capacidade produtiva brasileira, cria um cenário de complementaridade que tende a fortalecer ainda mais os laços comerciais nos próximos anos.

Conclusão

A missão brasileira ao Marrocos e Egito representa um marco significativo na estratégia de inserção internacional do agronegócio brasileiro, com foco especial nos mercados do norte da África. Os resultados obtidos – desde a abertura de mercado para miúdos bovinos no Marrocos até o reconhecimento do crescimento expressivo das exportações para o Egito – demonstram que esta estratégia está produzindo resultados tangíveis.

Para além dos ganhos comerciais imediatos, a missão reforça a posição brasileira como parceiro confiável para a segurança alimentar global, especialmente em regiões onde este tema é particularmente sensível. A abordagem que combina relacionamentos diplomáticos, cooperação técnica e promoção comercial estabelece bases sólidas para um relacionamento duradouro e mutuamente benéfico.

No contexto específico do mercado Halal, os avanços obtidos adicionam mais um capítulo importante na consolidação do Brasil como fornecedor global de referência, demonstrando capacidade não apenas de produzir em conformidade com as exigências religiosas, mas também de estabelecer os laços de confiança essenciais para este segmento.

A continuidade e o aprofundamento destas relações dependerão da manutenção dos esforços coordenados entre governo e setor privado, da capacidade brasileira de atender às demandas crescentes por sustentabilidade e rastreabilidade, e do entendimento estratégico de que os mercados do norte da África representam não apenas oportunidades comerciais, mas também alianças geopolíticas relevantes para o posicionamento global brasileiro.

Referências

  1. Brasil reforça laços comerciais com Marrocos e Egito e amplia agenda agropecuária no norte da África. Ministério da Agricultura e Pecuária
  2. Brasil reforça laços com Marrocos e Egito e amplia agenda agropecuária no norte da África. Agência Gov – EBC
  3. Marrocos amplia relações comerciais com o Brasil após missão do Mapa. Diplomacia Business
  4. Embratur reforça laços e busca mais turistas do mundo árabe durante fórum econômico Brasil e países árabes. Embratur

AGROINSIGHT Vol 3 Origem Animal

Relatório AGRO INSIGHT: Oportunidades Globais para Produtos de Origem Animal Brasileiros

O Volume 3 do relatório AGRO INSIGHT, produzido pelos adidos agrícolas do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, apresenta uma abrangente análise de mercados internacionais para produtos de origem animal. Este documento estratégico mapeia oportunidades, tendências e desafios em diversos países, fornecendo informações valiosas para exportadores brasileiros que buscam diversificar seus mercados-alvo e compreender as particularidades regulatórias de cada região.

Panorama Global da Demanda por Proteína Animal

O mapeamento apresentado no relatório evidencia um cenário global de crescente demanda por proteína animal, especialmente em mercados emergentes e economistas em desenvolvimento. Este fenômeno é impulsionado principalmente pela urbanização acelerada, aumento da renda média da população e transformações nas preferências alimentares, que têm favorecido o consumo de carnes, laticínios e outros produtos de origem animal.

Na África do Sul, por exemplo, o mercado de alimentos para animais de companhia foi estimado em aproximadamente US$ 450 milhões anuais em 2022, com crescimento médio de 5% ao ano na última década. Este crescimento está diretamente relacionado à urbanização e ao desenvolvimento social, resultando em aumento na população de animais de companhia. As exportações brasileiras para este mercado cresceram 40% em 2024, atingindo US$ 3,7 milhões, demonstrando o potencial de expansão para produtos brasileiros.

Em Bangladesh, o setor de produção de proteína animal apresenta crescimento contínuo, impulsionado pelo desenvolvimento econômico e melhores condições de consumo para a população. A indústria de rações do país conta com mais de 200 empresas que produzem cerca de 8 milhões de toneladas anualmente, com forte dependência de importações, o que representa oportunidade significativa para exportadores brasileiros de farinhas e gorduras de origem animal.

Mercados Estratégicos e Oportunidades Regionais

Oriente Médio e Ásia

A Arábia Saudita configura-se como um dos principais mercados para carne de aves brasileira. Em 2023, o país importou US$ 1,3 bilhão em carne de aves, com o Brasil liderando as exportações com 67% de participação no mercado. Apesar da queda de 26% em relação a 2022, o Brasil manteve sua posição de destaque, seguido pela Ucrânia (12%), França (10%) e Rússia (9%). É importante observar que o Reino Saudita busca aumentar sua autossuficiência em produção de carne de frango para 80% até 2025, mas continuará dependendo de importações, especialmente de cortes de frango, representando oportunidade contínua para exportadores brasileiros.

Na China, o relatório destaca o comércio eletrônico como ferramenta estratégica para posicionamento de produtos brasileiros. O mercado chinês de e-commerce de alimentos foi avaliado em US$ 150 bilhões em 2023, com previsão de crescimento anual de 10-15% até 2025. Plataformas como JD.com, Tmall, Pinduoduo e Freshippo oferecem oportunidades únicas para alcançar o mercado consumidor chinês, possibilitando a construção de marcas e adaptação às preferências locais.

Europa e América do Norte

Na Alemanha, o mercado de ovos apresenta dinâmica interessante. O país é o quinto maior em receita no mercado de ovos global, com faturamento estimado em 4,7 bilhões de dólares em 2024. Apesar das mudanças regulatórias significativas, como a proibição de gaiolas convencionais e do abate de pintinhos, o consumo de ovos continua crescendo, atingindo 236 unidades per capita em 2023. Com uma taxa de autossuficiência de aproximadamente 70%, a Alemanha depende de importações para suprir sua demanda interna, criando oportunidades para fornecedores internacionais que atendam aos requisitos regulatórios da União Europeia.

No Canadá, a recente elevação de tarifas de importação nos EUA criou oportunidades para produtos brasileiros como carne de frango, mel e camarões. A imposição de tarifas de 25% sobre produtos canadenses por parte dos EUA, seguida de retaliação semelhante do Canadá, aumentou a competitividade de produtos brasileiros no mercado canadense, especialmente em setores como carne de aves e mel, onde o Brasil já possui presença estabelecida.

América Latina

Na América Latina, o Chile apresenta-se como um mercado promissor para exportação de tilápia brasileira. Desde 2017, o país tem adotado políticas para ampliar o consumo de pescado, como o programa “Del Mar a Mi Mesa”, que visa elevar o consumo per capita de 13 kg para 20 kg até 2027. O consumo per capita já aumentou para 16,8 kg em 2024, demonstrando crescimento contínuo. A competitividade da tilápia brasileira no mercado chileno é significativa, com preços aproximadamente quatro vezes inferiores aos de espécies mais acessíveis no mercado local, representando uma alternativa viável para diversificação da dieta chilena.

África e Oceania

Na África, Angola representa um mercado potencial para alimentos destinados a animais de companhia. Em 2024, o país importou US$ 19,3 milhões em alimentos preparados para animais, sendo US$ 7,6 milhões destinados a alimentos para cães ou gatos. Atualmente, Portugal domina este mercado com 85% de participação, enquanto o Brasil aparece em segundo lugar com apenas 4%. Esta baixa participação indica potencial significativo para ampliação das exportações brasileiras.

Na Austrália, o mercado de produtos de reciclagem animal oferece oportunidades para exportadores brasileiros, especialmente em farinhas de peixe, gorduras de origem animal e produtos não destinados ao consumo humano. A Austrália importou US$ 1,468 bilhão destes produtos em 2024, com o Brasil já figurando como principal fornecedor de produtos de origem animal não destinados ao consumo humano, com 25% do total importado pelo país.

Desafios Regulatórios e Exigências de Mercado

O relatório identifica diversos desafios regulatórios que exportadores brasileiros precisam superar para acessar mercados internacionais. Na União Europeia, por exemplo, produtos como ovos e ovoprodutos devem atender a rigorosos requisitos sanitários, incluindo planos de controle de resíduos aprovados e habilitação de estabelecimentos exportadores. A partir de setembro de 2026, será obrigatório o cumprimento do Regulamento (UE) 2023/905, que restringe o uso de antimicrobianos.

Na Argélia, o mercado de leite e derivados está aberto para o Brasil, com Certificado Sanitário Internacional acordado há mais de 15 anos. Contudo, exigências como análises de isótopos radioativos no leite exportado têm desencorajado a exploração deste mercado, levando o Ministério da Agricultura e Pecuária a negociar com autoridades argelinas a revisão destes parâmetros.

Em mercados islâmicos como Arábia Saudita e Argélia, produtos de origem animal devem atender às especificações Halal no quesito de certificação e rotulagem. Este requisito representa um desafio adicional, mas também uma oportunidade para exportadores brasileiros que já possuem sistemas de certificação Halal estabelecidos.

Tendências de Consumo e Inovação no Setor

O relatório identifica diversas tendências de consumo que estão moldando o mercado global de produtos de origem animal. Na Alemanha, por exemplo, há crescente valorização de ovos provenientes de sistemas alternativos de criação, como criação ao ar livre e orgânica. Esta tendência reflete preocupações com bem-estar animal e sustentabilidade, que estão influenciando os hábitos de consumo em diversos mercados desenvolvidos.

Na China, a digitalização do comércio de alimentos representa uma transformação significativa, com plataformas de e-commerce facilitando o acesso a produtos importados e oferecendo novas possibilidades de marketing e distribuição. O uso de tecnologias como blockchain para rastreabilidade e inteligência artificial para personalização de ofertas está redefinindo a experiência de compra e ampliando o alcance de produtos importados.

Em mercados emergentes como Bangladesh, o crescimento econômico está impulsionando a demanda por proteína animal, criando oportunidades para exportadores de insumos para produção animal, como farinhas e gorduras. Este cenário reflete uma tendência global de aumento no consumo de proteína animal em economias em desenvolvimento, à medida que a renda média da população cresce.

Conclusão

O Volume 3 do relatório AGRO INSIGHT fornece uma visão abrangente das oportunidades globais para produtos de origem animal brasileiros, destacando mercados estratégicos, tendências de consumo e desafios regulatórios. As análises apresentadas pelos adidos agrícolas brasileiros em diversos países confirmam o potencial significativo para expansão das exportações brasileiras, especialmente em mercados emergentes e em desenvolvimento.

Para aproveitar estas oportunidades, exportadores brasileiros precisarão desenvolver estratégias específicas para cada mercado, considerando particularidades culturais, regulatórias e logísticas. A adequação às exigências sanitárias, a certificação Halal para mercados islâmicos, e a utilização de plataformas digitais para mercados como a China serão elementos-chave para o sucesso nestes mercados.

A diversificação de destinos de exportação e a adaptação às tendências globais de consumo, como bem-estar animal, sustentabilidade e digitalização, serão essenciais para garantir a competitividade dos produtos brasileiros no cenário internacional cada vez mais complexo e exigente.

Referências

Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil. AGRO INSIGHT – Volume 3: Origem Animal. 2025. https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/relacoes-internacionais/adidos-agricolas/seja-um-exportador/agroinsight/AGROINSIGHTS03ANIMAL.pdf

AGROINSIGHT Vol 3 Origem Vegetal

Oportunidades Globais para Produtos Vegetais Brasileiros: Análise dos Relatórios dos Adidos Agrícolas

O mercado internacional de produtos agrícolas vegetais apresenta diversas oportunidades para os exportadores brasileiros, conforme análise detalhada do relatório AgroInsights. Este documento compilado pelos Adidos Agrícolas do Brasil no exterior oferece perspectivas valiosas sobre nichos de mercado, tendências de consumo e barreiras comerciais em diversos países, funcionando como um guia estratégico para o setor exportador.

Panorama dos Mercados Emergentes e Consolidados

África do Sul e o Potencial para Pulses Brasileiros

O mercado sul-africano de feijões apresenta características particulares que merecem atenção dos exportadores brasileiros. A produção anual média de feijões na África do Sul é de 70.400 toneladas, enquanto o consumo atinge 114.828 toneladas, evidenciando uma dependência significativa de importações. Embora o Brasil ocupe atualmente a nona posição entre os fornecedores, em 2024 houve um salto expressivo nas exportações brasileiras de feijões comuns para este destino, atingindo 25 milhões de dólares. Este crescimento foi impulsionado pela redução de estoques regionais e frustrações nas safras dos principais fornecedores da região sul da África.

As tarifas aplicadas aos pulses brasileiros variam de 0% a 15%, com o feijão comum sujeito a uma tarifa de 10% ad valorem. Esta estrutura tarifária, associada ao papel da África do Sul como hub logístico regional, abre perspectivas para o aumento das exportações brasileiras, especialmente em períodos de desabastecimento regional.

Angola e a Demanda por Óleo de Soja

O mercado angolano para óleos vegetais apresenta expressivo potencial, tendo importado 187,6 mil toneladas (US$ 271,3 milhões) em 2024. Dessas importações, 36% correspondem ao óleo de soja, majoritariamente suprido por Argentina, Portugal e Malásia. Apesar de o Brasil ter exportado apenas 1.696 toneladas de óleo de soja para Angola em 2023 (US$ 2,5 milhões), a possibilidade de aumento da participação brasileira é tangível.

Angola conta com refinarias de óleos vegetais que dependem de matéria-prima importada, uma vez que a produção local de soja ainda é incipiente, com apenas 20.000 hectares cultivados na safra 2024/2025. Esta configuração do mercado, somada a uma tarifa de importação de 10% para óleo bruto e 40% para óleo refinado, representa uma clara oportunidade para o produto brasileiro.

Arábia Saudita e o Crescimento do Consumo de Café

O mercado de café na Arábia Saudita tem experimentado crescimento significativo, com aumento anual de aproximadamente 4% entre 2016 e 2021, projetando-se um crescimento de 5% ao ano até 2026. O Brasil desponta como um dos principais fornecedores de café para este mercado, com exportações que atingiram aproximadamente US$ 73 milhões em 2024.

O aumento no consumo está associado a mudanças nos hábitos da população, especialmente entre os jovens, e à popularização de cafeterias “ocidentais” e cafés especiais. O sistema ITC Export Potential Map aponta que o Brasil tem potencial para crescimento adicional de US$ 38 milhões nas exportações de café em grãos à Arábia Saudita, representando uma variação potencial de 65% sobre os valores atuais.

Argélia e o Mercado de Banana

Uma oportunidade emergente para o Brasil surge no mercado argelino de bananas, em consequência do estremecimento das relações diplomáticas e comerciais entre a Argélia e o Equador. Em 2023, a Argélia importou cerca de US$ 135 milhões em bananas, quase integralmente provenientes do Equador. Contudo, a decisão de suspender as relações comerciais com este país trouxe dificuldades imediatas para os importadores argelinos.

O consumo de banana é expressivo na Argélia, com preço atual em torno de 250 dinares argelinos por quilo (US$ 1,85). As cargas de importação estão sujeitas a taxas ad-valorem, incluindo 30% de direitos alfandegários, além de outras taxas que totalizam cerca de 24% adicionais. A adidância agrícola brasileira já iniciou contatos com as autoridades argelinas para estabelecer os requisitos fitossanitários necessários para o acesso do produto brasileiro a este mercado.

Tendências em Mercados Asiáticos

China e a Expansão do Mercado de Café

O mercado chinês de café tem crescido expressivamente, movimentando aproximadamente US$ 23,6 bilhões em 2024, com taxa de crescimento anual de 15%. O consumo de café subiu 150% na última década, podendo chegar a 6,3 milhões de sacas na safra 2024/25. Em 2023, as exportações brasileiras para o mercado chinês ultrapassaram pela primeira vez a marca de 1 milhão de sacas, tornando a China o sexto maior importador de café do Brasil.

O Brasil é o principal fornecedor de café não torrado (variedade arábica) para a China, com 36% de participação, mas enfrenta desafios nos segmentos de café torrado e solúvel, onde países asiáticos dominam graças a acordos preferenciais. As tarifas aplicadas ao café brasileiro variam de 8% para café não torrado a 15% para café torrado, enquanto países da ASEAN se beneficiam de tarifas reduzidas. Esta situação exige que o Brasil adote estratégias focadas em qualidade, sustentabilidade e certificação de origem para manter sua competitividade.

Austrália e as Oportunidades para o Açaí

O mercado australiano de açaí tem se expandido ao longo das últimas duas décadas, impulsionado pelo crescente interesse em produtos saudáveis e pelo alto poder aquisitivo local. O produto já é amplamente encontrado em supermercados, lojas de produtos naturais e plataformas de e-commerce, nas formas de pó, polpa congelada, suplementos e cosméticos premium.

O público tradicional do açaí na Austrália é composto por consumidores preocupados com a saúde, incluindo profissionais ativos e aposentados, mas recentemente o produto passou a atrair também jovens e usuários de redes sociais. O mercado tem sido impulsionado pelo crescimento das “Acai Bowls Shops”, que movimentaram cerca de US$ 665,4 milhões em 2024. Embora não haja tarifas aplicáveis à importação, as exigências sanitárias australianas são rigorosas, demandando certificados sanitários emitidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Bangladesh e o Mercado de Castanhas e Nozes

O mercado de castanhas e nozes em Bangladesh apresenta potencial significativo, especialmente durante o Ramadã, quando o consumo desses produtos aumenta consideravelmente. Em 2024, o país importou cerca de US$ 40 milhões em castanhas e nozes, sendo o Brasil um fornecedor com potencial de expansão.

As exportações brasileiras de castanhas e nozes totalizaram R$ 89,5 milhões em 2024, incluindo castanha de caju, castanha-do-Pará e nozes macadâmia. Entretanto, as elevadas tarifas aplicadas por Bangladesh (entre 48% e 94,32%, dependendo do produto) representam um desafio inicial. A adidância agrícola em Daca destaca que, apesar dessas barreiras, o potencial do mercado merece ser mais bem explorado, especialmente considerando a população de aproximadamente 180 milhões de habitantes.

Mercados das Américas

Canadá e as Novas Oportunidades Criadas por Barreiras Comerciais

Um cenário peculiar se desenha no Canadá após a recente imposição de tarifas retaliatórias de 25% sobre US$ 30 bilhões em mercadorias importadas dos EUA, em resposta às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump. Esta situação cria oportunidades para produtos brasileiros como café, chás, açúcar, suco de laranja, arroz, temperos, frutas, legumes, chocolates, óleos e cereais, entre outros.

O Canadá é o segundo mercado para as exportações agrícolas dos EUA, com vendas de US$ 28,4 bilhões em 2023. A estratégia canadense visa reduzir as importações de produtos americanos com o menor impacto inflacionário possível, abrindo espaço para fornecedores alternativos como o Brasil. Produtos como açúcar de cana (US$ 751,8 milhões exportados pelo Brasil em 2024) e suco de laranja congelado (US$ 68 milhões) já demonstram forte presença brasileira neste mercado.

Costa Rica e o Sucesso do Arroz Brasileiro

O comércio bilateral entre Brasil e Costa Rica atingiu o valor recorde de 722 milhões de dólares em 2024. O arroz foi o principal produto exportado pelo Brasil, contribuindo com 16,74% das exportações totais brasileiras para aquele país e atingindo o valor de 97 milhões de dólares. Em 2023, 70% do arroz importado pela Costa Rica era de origem brasileira.

O arroz é um alimento fundamental na dieta costarriquenha, presente em pratos tradicionais como “Gallo Pinto” e “Casado”. A recente redução da tarifa de importação de 35% para 4% no caso do arroz beneficiado e 3,5% para o arroz em casca, conhecida como “rota do arroz”, beneficia o produto brasileiro e apresenta uma excelente oportunidade para manter ou aumentar a participação no mercado local.

Oportunidades em Mercados Específicos

Coreia do Sul e o Mercado de Etanol

Em 2024, a Coreia do Sul importou US$ 286 milhões (346.456 toneladas) de etanol, sendo Brasil e EUA os principais fornecedores, com participação combinada de 72% do volume total. A competitividade brasileira varia conforme o tipo de etanol e as tarifas aplicadas: o Brasil domina o mercado de etanol dos códigos tarifários 2207.10.1000 (97,5% de participação) e 2207.10.9010 (82,5%), enquanto os EUA lideram nos códigos 2207.10.9090 e 2207.20 (ambos com 88% de participação).

Para 2025, o governo sul-coreano estabeleceu uma quota tarifária emergencial de 160.000 kl para o etanol do código HS 2207.10.1000, com tarifa zero para quantidades dentro desse limite, representando uma oportunidade adicional para exportadores brasileiros.

Egito e o Gergelim Brasileiro

O mercado egípcio de gergelim oferece oportunidades para o Brasil, considerando que o país foi o nono maior importador mundial em 2023, com importações de US$ 100 milhões. Tradicionalmente, o Sudão dominava esse mercado com 77% de participação, mas a guerra civil que assola o país desde 2023 reduziu significativamente sua capacidade de fornecimento.

As exportações de gergelim do Brasil ao Egito vêm registrando crescimento consistente nos últimos anos (2022 a 2024). Uma vantagem competitiva importante é que o Egito aplica tarifa zero ao gergelim de todas as origens, tornando fatores como qualidade e preço os principais determinantes da competitividade. O produto é amplamente utilizado na produção de alimentos típicos da cultura árabe, como o “tahine” e o “halawa spread”.

Emirados Árabes Unidos e os Produtos Orgânicos

O mercado de alimentos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos foi avaliado em US$ 44,67 milhões em 2024 e deve crescer para US$ 51,23 milhões até 2030, com uma taxa composta de crescimento anual de 4,62%. Esta demanda crescente é impulsionada por fatores como maior conscientização do consumidor, aumento da população expatriada e preferência por produtos alimentícios saudáveis e sustentáveis.

O Brasil, como importante produtor de alimentos orgânicos, possui oportunidade estratégica para expandir sua presença nesse mercado, particularmente em segmentos premium como frutas tropicais orgânicas. As recomendações incluem investir em certificações internacionalmente reconhecidas, estabelecer parcerias com distribuidores locais e desenvolver estratégias logísticas eficientes para preservar a qualidade dos produtos.

Considerações para Exportadores Brasileiros

O panorama global apresenta diversas oportunidades para produtos vegetais brasileiros, mas também exige estratégias específicas para cada mercado. A qualidade e a capacidade de atender às exigências sanitárias e de certificação são fatores determinantes para o sucesso em mercados mais exigentes, como Austrália, União Europeia e países asiáticos.

Para mercados emergentes, como Bangladesh e países africanos, o desenvolvimento de parcerias comerciais e o entendimento das especificidades culturais locais podem ser diferenciais importantes. Já em mercados onde o Brasil já possui presença consolidada, como Costa Rica (arroz) e Arábia Saudita (café), o foco deve ser em manter e ampliar a participação através de inovação e diferenciação de produtos.

As barreiras tarifárias e não-tarifárias continuam sendo desafios importantes em diversos mercados, mas situações geopolíticas, como a guerra comercial entre EUA e Canadá ou o rompimento de relações entre Argélia e Equador, podem criar janelas de oportunidade para produtos brasileiros.

Conclusão

As análises dos adidos agrícolas brasileiros revelam um cenário de múltiplas oportunidades para a expansão das exportações de produtos vegetais brasileiros. Os mercados apresentam diferentes graus de maturidade e exigências específicas, demandando abordagens customizadas por parte dos exportadores.

Particularmente promissores são os mercados de café na China e Arábia Saudita, açaí na Austrália, etanol na Coreia do Sul, banana na Argélia e arroz na Costa Rica. A crescente demanda por produtos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos e a abertura de oportunidades no Canadá devido a questões geopolíticas também merecem atenção especial dos exportadores brasileiros.

Para aproveitar plenamente estas oportunidades, é fundamental o acompanhamento contínuo das tendências de mercado, requisitos regulatórios e preferências de consumo em cada país, além do estabelecimento de parcerias estratégicas com importadores e distribuidores locais.

Fontes:

  1. AGROINSIGHTS03VEGETAL20251.pdf
  2. AgroInsight — Ministério da Agricultura e Pecuária
vietnam-expansao-mercado-halal-2025

Vietnam Intensifica Reformas para Expandir sua Presença no Mercado Halal

O Vietnã está adotando medidas estratégicas para fortalecer sua inserção no mercado global Halal, avaliado em aproximadamente US$ 3 trilhões. Especialistas e autoridades locais têm destacado a necessidade de desenvolver um ecossistema robusto de produtos Halal, alinhado às normas internacionais de qualidade e certificação. Este movimento busca aproveitar o vasto potencial do país em matérias-primas e sua crescente relevância como destino turístico internacional.

Potencial Econômico e Recursos Naturais

Matérias-Primas para Produção Halal

O Vietnã possui uma rica diversidade de matérias-primas adequadas para a produção Halal, incluindo café, arroz, frutos do mar, produtos de aquicultura, especiarias, nozes, vegetais e frutas. Estes recursos oferecem uma base sólida para a fabricação de produtos certificados, especialmente em setores como alimentos e bebidas. Apesar disso, atualmente o país atende apenas 10% da demanda global por produtos Halal, evidenciando uma lacuna significativa que pode ser explorada por produtores locais.

Crescimento Econômico Sustentado

Com uma taxa média de crescimento do PIB entre 6% e 7% ao ano, o Vietnã apresenta um cenário econômico favorável para o desenvolvimento de produtos Halal. Além disso, sua posição como um dos principais destinos turísticos internacionais desde 2018 tem impulsionado os setores de hospitalidade e serviços alimentares, com aumento na demanda por restaurantes e serviços de catering Halal.

Desafios Estruturais e Certificação

Necessidade de Diretrizes Claras

Embora o país possua grande potencial no mercado Halal, desafios relacionados à certificação ainda persistem. Muitos mercados exigem certificação por terceiros reconhecidos internacionalmente, em vez de aceitar declarações diretas das empresas vietnamitas. Isso tem gerado barreiras comerciais que limitam o alcance dos produtos locais em mercados estratégicos como o Oriente Médio e a Europa.

Investimentos Estrangeiros

Autoridades vietnamitas têm incentivado investidores estrangeiros a estabelecerem instalações compatíveis com normas Halal no país. A recente assinatura do Acordo de Parceria Econômica Abrangente (CEPA) entre Vietnã e Emirados Árabes Unidos promete facilitar a exportação de produtos certificados para a região do Golfo, ampliando as oportunidades comerciais para empresas vietnamitas.

Estratégias para Expansão

Desenvolvimento de Marcas Fortes

A criação de marcas Halal reconhecidas globalmente é vista como uma prioridade estratégica para o Vietnã. Diversificar mercados-alvo e estabelecer redes promocionais claras são ações recomendadas por especialistas para aumentar a competitividade dos produtos vietnamitas no cenário internacional.

Reformas na Estrutura Legal

Melhorias na estrutura legal relacionada à certificação Halal estão sendo discutidas como forma de simplificar os procedimentos e aumentar a transparência no processo regulatório. Estas reformas são essenciais para atrair mais investimentos e consolidar o país como um importante player no mercado global Halal.

Perspectivas Futuras

Com reformas estruturais em andamento e um foco crescente na qualidade e certificação, o Vietnã está bem posicionado para expandir sua presença no mercado Halal nos próximos anos. O aproveitamento pleno de suas matérias-primas e a construção de um ecossistema eficiente podem transformar o país em um líder regional neste segmento estratégico.

capa para artigo Crescimento do Mercado de Cosméticos Halal

Crescimento do Mercado de Cosméticos Halal Impulsiona Investimentos no Setor em 2025

O mercado de cosméticos Halal está registrando um crescimento acelerado em 2025, com projeções de alcançar US$ 50 bilhões até o final do ano, segundo dados divulgados pela Organização de Cooperação Islâmica (OCI). Este segmento tem atraído investimentos significativos de grandes conglomerados globais, como L’Oréal e Estée Lauder, que estão expandindo suas linhas de produtos certificados para atender à crescente demanda dos consumidores muçulmanos.

Expansão Global e Novos Mercados

Aumento da Demanda na Ásia-Pacífico e Oriente Médio

A região da Ásia-Pacífico continua liderando o consumo de cosméticos Halal, representando cerca de 60% do mercado global. Países como Indonésia e Malásia têm registrado taxas de crescimento superiores a 15% ao ano, impulsionadas por campanhas governamentais que promovem o consumo de produtos Halal em todos os setores. No Oriente Médio, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita destacam-se como mercados estratégicos, com consumidores buscando produtos que atendam aos requisitos religiosos e também às normas internacionais de segurança de alimentos.

Expansão na América Latina

Na América Latina, o Brasil tem se consolidado como o principal exportador de insumos para cosméticos Halal, especialmente óleos vegetais e ingredientes naturais. Empresas locais estão investindo em certificação para acessar mercados internacionais, enquanto novos players entram no setor com foco na produção sustentável e alinhada aos princípios islâmicos.

Inovação no Desenvolvimento de Produtos

Ingredientes Naturais e Sustentáveis

A preferência por ingredientes naturais está moldando o desenvolvimento de cosméticos Halal. Empresas estão investindo em pesquisas para substituir componentes sintéticos por alternativas orgânicas que cumpram os requisitos religiosos. A utilização de extratos botânicos certificados tem sido uma tendência crescente, com destaque para produtos à base de aloe vera e argan.

Tecnologia na Produção

Novas tecnologias estão sendo implementadas para garantir a conformidade Halal em processos produtivos. O uso de inteligência artificial para monitoramento da cadeia produtiva está permitindo maior precisão na rastreabilidade dos ingredientes. Além disso, avanços em biotecnologia têm possibilitado a criação de fragrâncias livres de álcool e pigmentos derivados de fontes não-Halal.

Desafios Regulatórios e Certificação

Harmonização das Normas

Apesar do crescimento do mercado, a falta de harmonização entre normas internacionais tem sido um desafio significativo. Empresas enfrentam dificuldades para atender simultaneamente os requisitos específicos de diferentes países, o que aumenta os custos operacionais e limita a expansão global. A OCI está liderando esforços para criar diretrizes unificadas que facilitem o comércio internacional no setor.

Barreiras para Pequenos Produtores

Pequenos produtores enfrentam desafios relacionados ao custo elevado da certificação Halal e à adaptação tecnológica necessária para atender às exigências do mercado. Iniciativas como programas de capacitação técnica têm sido promovidas por governos e organizações islâmicas para apoiar esses negócios na transição para práticas conformes às normas Halal.

Perspectivas Futuras

O mercado de cosméticos Halal representa uma oportunidade estratégica para empresas que desejam expandir sua presença global enquanto atendem às demandas específicas dos consumidores muçulmanos. Com investimentos crescentes em inovação tecnológica e sustentabilidade, espera-se que este segmento continue a crescer nos próximos anos, consolidando-se como uma das principais áreas do mercado islâmico global.

Profissional realizando controle de qualidade em alimentos com ficha de inspeção e luvas em laboratório.

Análise Crítica do Sistema Sanitário Brasileiro: Fragilidades que Ameaçam a Segurança de Alimentos e o Potencial Exportador

O Brasil, embora tenha se consolidado como um gigante agroexportador, enfrenta desafios significativos em relação à segurança de alimentos e aplicação de normas sanitárias. Este paradoxo se manifesta na disparidade entre o status do país como “celeiro do mundo” e as falhas nos sistemas de inspeção e normatização sanitária. Os recentes aumentos alarmantes nos casos de intoxicação alimentar, a falta de rastreabilidade eficiente e a aplicação inconsistente das boas práticas de fabricação contribuem para um cenário complexo onde a qualidade pode estar sendo sacrificada em favor do volume e preço. A presente análise examina as diferenças entre BPF e HACCP, as deficiências no sistema sanitário brasileiro e as possíveis consequências para a posição do Brasil no mercado internacional.

Diferenças entre BPF e HACCP: Bases Conceituais para a Segurança de Alimentos

Boas Práticas de Fabricação (BPF): Base Necessária, Porém Insuficiente

As Boas Práticas de Fabricação (BPF) representam o conjunto de medidas que estabelecem os requisitos gerais de higiene e de boas práticas de elaboração para alimentos processados. Estas práticas são fundamentais como pré-requisitos em qualquer estabelecimento que manipule alimentos, mas apresentam limitações importantes para garantir a segurança completa dos alimentos.

As BPF focam principalmente em aspectos como higiene pessoal, limpeza e sanitização de instalações, controle de pragas, manejo de resíduos e qualidade da água. Embora essas práticas sejam essenciais, elas constituem medidas preventivas amplas que não conseguem identificar e controlar de maneira específica os perigos em cada etapa do processo produtivo. Sua natureza generalista não permite a identificação de pontos críticos específicos onde um controle mais rigoroso é necessário para prevenir, eliminar ou reduzir riscos a níveis aceitáveis.

A implementação isolada das BPF, sem outros sistemas complementares, deixa lacunas significativas na gestão da segurança de alimentos. Os dados alarmantes sobre intoxicações alimentares no Brasil sugerem claramente que apenas seguir as BPF não tem sido suficiente para garantir a segurança dos consumidores.

HACCP/APPCC: Necessidade Imperativa para a Segurança Efetiva

O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC ou HACCP) deve ser considerado obrigatório, não opcional, para qualquer estabelecimento que produza, manipule ou sirva alimentos. Diferentemente das BPF, o HACCP é um sistema preventivo específico que identifica, avalia e controla perigos significativos para a segurança de alimentos em cada etapa do processo produtivo.

O HACCP vai muito além das BPF ao estabelecer limites críticos mensuráveis, procedimentos de monitoramento, ações corretivas predeterminadas e verificações sistemáticas. Enquanto as BPF criam o ambiente higiênico básico, o HACCP gerencia ativamente os riscos específicos, monitora parâmetros críticos em tempo real e previne problemas antes que afetem o produto final.

A implementação obrigatória de planos HACCP é imprescindível no contexto brasileiro. Apenas com a exigência legal e fiscalização adequada deste sistema será possível reduzir significativamente os casos de doenças transmitidas por alimentos. É uma falha sistêmica que muitos estabelecimentos, especialmente pequenos e médios, operem apenas com BPF básicas sem a implementação de um plano HACCP estruturado.

Deficiências do Sistema Sanitário Brasileiro

Fiscalização Insuficiente e Aplicação Inconsistente das Normas

A insuficiência das normas sanitárias e inspeção no Brasil é evidenciada por estudos de caso e dados estatísticos. Uma pesquisa realizada em um restaurante self-service demonstrou que apenas 65% dos itens avaliados estavam em conformidade com as normas da ANVISA, classificando o estabelecimento com risco sanitário apenas “regular”. Este caso ilustra a realidade de muitos estabelecimentos que operam com condições higiênico-sanitárias abaixo do ideal.

Além disso, o sistema regulatório brasileiro enfrenta fragilidades na adoção de acordos e termos de compromisso entre o governo e as indústrias. Esses instrumentos frequentemente flexibilizam prazos e exigências, dificultando a fiscalização efetiva e permitindo que práticas inadequadas persistam, comprometendo a segurança de alimentos.

Crescimento Alarmante dos Casos de Intoxicação Alimentar

As consequências da aplicação deficiente das normas sanitárias refletem-se diretamente no aumento de casos de intoxicação alimentar. Dados da Secretaria de Estado da Saúde mostram que houve um aumento alarmante de 114,2% nos casos de intoxicação alimentar na região de Campinas (SP) entre janeiro e outubro de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior – saltando de 21.990 para 47.111 atendimentos.

O número de internações por intoxicação alimentar também cresceu significativamente (33%) no mesmo período, passando de 354 para 471 casos. Estes números assustadores indicam claramente que há falhas graves no sistema de controle sanitário, resultando em riscos concretos à saúde pública.

Certificações Internacionais e sua Importância para a Qualidade Alimentar

Certificação FSSC 22000: Norma Global para Segurança de Alimentos

A Certificação de Sistemas de Segurança de Alimentos FSSC 22000 é um esquema de certificação internacionalmente reconhecido, baseado na norma ISO 22000 e complementado por requisitos adicionais específicos da FSSC. Os Programas de Pré-Requisitos (PRPs), fundamentais para essa certificação, têm como referência normativa as diferentes partes da família ISO 22002, que detalham práticas específicas para setores variados da cadeia alimentar. Desenvolvida para atender às demandas globais por normas robustas e confiáveis, a FSSC 22000 oferece um framework completo para garantir a segurança de alimentos em toda a cadeia produtiva.

A FSSC 22000, assim como outras certificações amplamente reconhecidas, como o BRC e o IFS, é aceita mundialmente. Todas essas certificações representam opções confiáveis para organizações que buscam garantir a segurança de alimentos em toda a cadeia produtiva. Elas oferecem frameworks robustos para estabelecer, monitorar e melhorar os controles necessários, atendendo às exigências globais por alimentos seguros e de alta qualidade.

Benefícios da Adoção de Certificações Rigorosas

Certificações rigorosas obrigam a empresa a cumprir com todos os requisitos regulamentares, legais e normativos do setor, garantindo que, mais do que fabricar e comercializar alimentos seguros, a organização é eticamente responsável, confiável e comprometida com seus clientes e parceiros de trabalho.

A certificação também melhora a reputação da empresa, transmitindo maior confiabilidade ao mercado consumidor. Quando um cliente compra de uma empresa certificada, tem a garantia de que esta segue normas rigorosas de segurança de alimentos, o que é particularmente relevante para a manutenção e expansão de mercados internacionais.

O Paradoxo das Exportações Brasileiras: Quantidade versus Qualidade

Brasil: “Celeiro do Mundo” e seus Recordes de Exportação

O Brasil já exerce liderança nas exportações globais de pelo menos sete alimentos, consolidando-se como o “celeiro do planeta”. O país é o maior exportador mundial de soja (56% das exportações totais), milho (31%), café (27%), açúcar (44%), suco de laranja (76%), carne bovina (24%) e carne de frango (33%).

Com pouco mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil hoje produz alimentos suficientes para as necessidades calóricas de aproximadamente 900 milhões de pessoas, o que equivale a 11% da população global. Estes números impressionantes destacam a capacidade produtiva brasileira e sua relevância no cenário global.

Liderança em Risco: O Desafio do Brasil em Equilibrar Volume e Qualidade nas Exportações de Alimentos

Contudo, surge a questão sobre se a liderança do Brasil no mercado global de alimentos se baseia mais em preços competitivos do que em qualidade superior. Embora o país tenha uma produção abundante, capaz de atender tanto à demanda interna quanto às exportações, há preocupações sobre a capacidade do Brasil de manter essa posição diante das crescentes exigências por qualidade e segurança de alimentos.

A competitividade do Brasil parece estar mais relacionada aos custos de produção do que à adoção de normas rigorosas de qualidade. Isso coloca em risco a permanência do país como líder global, especialmente porque os mercados internacionais estão cada vez mais priorizando produtos que atendam altos padrões de segurança de alimentos e rastreabilidade. Para preservar sua relevância, o Brasil precisa equilibrar volume e qualidade, investindo em certificações reconhecidas e sistemas robustos que garantam alimentos seguros e confiáveis.

Rastreabilidade: O Elo Frágil na Cadeia Alimentar Brasileira

Importância da Rastreabilidade na Segurança de Alimentos

A rastreabilidade de produtos é um fator essencial para empresas que buscam eficiência, segurança e qualidade em suas operações. Ela permite acompanhar cada etapa do ciclo do produto, desde a matéria-prima até a entrega final, o que melhora a gestão de estoque, reduz riscos e fortalece a confiança do cliente.

Um sistema de rastreabilidade eficiente não apenas protege os consumidores, mas também fortalece a posição competitiva das empresas, permitindo rápida identificação e resolução de problemas de qualidade ou segurança.

Tecnologias Subaproveitadas e Implementação Deficiente

No Brasil, observa-se um subaproveitamento de tecnologias que poderiam incrementar a rastreabilidade. Sistemas de gestão integrados (ERP), identificação por código de barras e RFID, e a adoção de blockchain para mais segurança e transparência são tecnologias disponíveis que poderiam melhorar significativamente a rastreabilidade na cadeia de suprimentos brasileira.

A tecnologia blockchain, em particular, vem ganhando destaque pela sua capacidade de garantir a segurança e transparência dos dados. Com esta tecnologia, cada etapa da produção e distribuição do produto é registrada de forma imutável em uma rede descentralizada, permitindo que informações sobre a procedência sejam verificáveis.

No contexto da rastreabilidade e segurança de alimentos, os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança) ganham relevância estratégica. Empresas que integram práticas de ESG em suas operações não apenas fortalecem sua reputação no mercado global, mas também atendem às demandas crescentes por transparência e sustentabilidade. A rastreabilidade, ao garantir informações claras sobre a origem e o impacto ambiental e social dos produtos, torna-se um elemento essencial para cumprir os critérios de ESG, promovendo confiança entre consumidores, investidores e parceiros comerciais.

Caminhos para Fortalecer a Segurança de Alimentos Brasileira

A análise da situação atual da segurança de alimentos no Brasil revela um paradoxo significativo: enquanto o país se destaca como líder global em exportações de vários produtos alimentícios, enfrenta desafios consideráveis em relação à aplicação de normas sanitárias e implementação de sistemas de controle de qualidade robustos.

Para preservar e fortalecer a posição do Brasil no mercado internacional, é imperativo que haja um fortalecimento das estruturas regulatórias e de fiscalização. A adoção obrigatória de certificações internacionalmente reconhecidas, como FSSC 22000, BRC, IFS Food, poderia proporcionar um salto qualitativo na produção alimentícia brasileira. Além disso, a implementação obrigatória de planos HACCP em todas as indústrias alimentícias, independentemente de seu porte, seria um passo crucial para elevar os padrões de segurança de alimentos no país. Essas medidas, em conjunto, fortaleceriam significativamente a posição do Brasil no mercado global de alimentos, garantindo não apenas volume, mas também qualidade e segurança.

Além disso, o investimento em sistemas de rastreabilidade avançados, utilizando tecnologias como blockchain e RFID, é fundamental para garantir transparência e segurança em toda a cadeia produtiva e preservar a reputação dos produtos brasileiros.

Em última análise, o equilíbrio entre volume de produção e qualidade não é apenas desejável, mas essencial para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro no longo prazo. O Brasil tem o potencial de ser não apenas o “celeiro do mundo”, mas também um exemplo global de excelência em segurança de alimentos.

Referências

  1. Codex Alimentarius – Código Internacional de Práticas Recomendadas: Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos
  2. ANVISA – Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002
  3. Global Food Safety Initiative (GFSI) – Benchmarking Requirements for Food Safety Certification Programs
  4. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – Boletim Epidemiológico 2024
  5. UNESP – Estudo sobre exportações agrícolas brasileiras e competitividade global
  6. Instituto Fome Zero – Relatório sobre produção e distribuição alimentar no Brasil
  7. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR ISO 22000:2019
  8. Organização Mundial de Saúde (OMS) – Manual sobre 5 chaves para uma alimentação mais segura