AGROINSIGHT Vol 3 Origem Vegetal

Oportunidades Globais para Produtos Vegetais Brasileiros: Análise dos Relatórios dos Adidos Agrícolas

O mercado internacional de produtos agrícolas vegetais apresenta diversas oportunidades para os exportadores brasileiros, conforme análise detalhada do relatório AgroInsights. Este documento compilado pelos Adidos Agrícolas do Brasil no exterior oferece perspectivas valiosas sobre nichos de mercado, tendências de consumo e barreiras comerciais em diversos países, funcionando como um guia estratégico para o setor exportador.

Panorama dos Mercados Emergentes e Consolidados

África do Sul e o Potencial para Pulses Brasileiros

O mercado sul-africano de feijões apresenta características particulares que merecem atenção dos exportadores brasileiros. A produção anual média de feijões na África do Sul é de 70.400 toneladas, enquanto o consumo atinge 114.828 toneladas, evidenciando uma dependência significativa de importações. Embora o Brasil ocupe atualmente a nona posição entre os fornecedores, em 2024 houve um salto expressivo nas exportações brasileiras de feijões comuns para este destino, atingindo 25 milhões de dólares. Este crescimento foi impulsionado pela redução de estoques regionais e frustrações nas safras dos principais fornecedores da região sul da África.

As tarifas aplicadas aos pulses brasileiros variam de 0% a 15%, com o feijão comum sujeito a uma tarifa de 10% ad valorem. Esta estrutura tarifária, associada ao papel da África do Sul como hub logístico regional, abre perspectivas para o aumento das exportações brasileiras, especialmente em períodos de desabastecimento regional.

Angola e a Demanda por Óleo de Soja

O mercado angolano para óleos vegetais apresenta expressivo potencial, tendo importado 187,6 mil toneladas (US$ 271,3 milhões) em 2024. Dessas importações, 36% correspondem ao óleo de soja, majoritariamente suprido por Argentina, Portugal e Malásia. Apesar de o Brasil ter exportado apenas 1.696 toneladas de óleo de soja para Angola em 2023 (US$ 2,5 milhões), a possibilidade de aumento da participação brasileira é tangível.

Angola conta com refinarias de óleos vegetais que dependem de matéria-prima importada, uma vez que a produção local de soja ainda é incipiente, com apenas 20.000 hectares cultivados na safra 2024/2025. Esta configuração do mercado, somada a uma tarifa de importação de 10% para óleo bruto e 40% para óleo refinado, representa uma clara oportunidade para o produto brasileiro.

Arábia Saudita e o Crescimento do Consumo de Café

O mercado de café na Arábia Saudita tem experimentado crescimento significativo, com aumento anual de aproximadamente 4% entre 2016 e 2021, projetando-se um crescimento de 5% ao ano até 2026. O Brasil desponta como um dos principais fornecedores de café para este mercado, com exportações que atingiram aproximadamente US$ 73 milhões em 2024.

O aumento no consumo está associado a mudanças nos hábitos da população, especialmente entre os jovens, e à popularização de cafeterias “ocidentais” e cafés especiais. O sistema ITC Export Potential Map aponta que o Brasil tem potencial para crescimento adicional de US$ 38 milhões nas exportações de café em grãos à Arábia Saudita, representando uma variação potencial de 65% sobre os valores atuais.

Argélia e o Mercado de Banana

Uma oportunidade emergente para o Brasil surge no mercado argelino de bananas, em consequência do estremecimento das relações diplomáticas e comerciais entre a Argélia e o Equador. Em 2023, a Argélia importou cerca de US$ 135 milhões em bananas, quase integralmente provenientes do Equador. Contudo, a decisão de suspender as relações comerciais com este país trouxe dificuldades imediatas para os importadores argelinos.

O consumo de banana é expressivo na Argélia, com preço atual em torno de 250 dinares argelinos por quilo (US$ 1,85). As cargas de importação estão sujeitas a taxas ad-valorem, incluindo 30% de direitos alfandegários, além de outras taxas que totalizam cerca de 24% adicionais. A adidância agrícola brasileira já iniciou contatos com as autoridades argelinas para estabelecer os requisitos fitossanitários necessários para o acesso do produto brasileiro a este mercado.

Tendências em Mercados Asiáticos

China e a Expansão do Mercado de Café

O mercado chinês de café tem crescido expressivamente, movimentando aproximadamente US$ 23,6 bilhões em 2024, com taxa de crescimento anual de 15%. O consumo de café subiu 150% na última década, podendo chegar a 6,3 milhões de sacas na safra 2024/25. Em 2023, as exportações brasileiras para o mercado chinês ultrapassaram pela primeira vez a marca de 1 milhão de sacas, tornando a China o sexto maior importador de café do Brasil.

O Brasil é o principal fornecedor de café não torrado (variedade arábica) para a China, com 36% de participação, mas enfrenta desafios nos segmentos de café torrado e solúvel, onde países asiáticos dominam graças a acordos preferenciais. As tarifas aplicadas ao café brasileiro variam de 8% para café não torrado a 15% para café torrado, enquanto países da ASEAN se beneficiam de tarifas reduzidas. Esta situação exige que o Brasil adote estratégias focadas em qualidade, sustentabilidade e certificação de origem para manter sua competitividade.

Austrália e as Oportunidades para o Açaí

O mercado australiano de açaí tem se expandido ao longo das últimas duas décadas, impulsionado pelo crescente interesse em produtos saudáveis e pelo alto poder aquisitivo local. O produto já é amplamente encontrado em supermercados, lojas de produtos naturais e plataformas de e-commerce, nas formas de pó, polpa congelada, suplementos e cosméticos premium.

O público tradicional do açaí na Austrália é composto por consumidores preocupados com a saúde, incluindo profissionais ativos e aposentados, mas recentemente o produto passou a atrair também jovens e usuários de redes sociais. O mercado tem sido impulsionado pelo crescimento das “Acai Bowls Shops”, que movimentaram cerca de US$ 665,4 milhões em 2024. Embora não haja tarifas aplicáveis à importação, as exigências sanitárias australianas são rigorosas, demandando certificados sanitários emitidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Bangladesh e o Mercado de Castanhas e Nozes

O mercado de castanhas e nozes em Bangladesh apresenta potencial significativo, especialmente durante o Ramadã, quando o consumo desses produtos aumenta consideravelmente. Em 2024, o país importou cerca de US$ 40 milhões em castanhas e nozes, sendo o Brasil um fornecedor com potencial de expansão.

As exportações brasileiras de castanhas e nozes totalizaram R$ 89,5 milhões em 2024, incluindo castanha de caju, castanha-do-Pará e nozes macadâmia. Entretanto, as elevadas tarifas aplicadas por Bangladesh (entre 48% e 94,32%, dependendo do produto) representam um desafio inicial. A adidância agrícola em Daca destaca que, apesar dessas barreiras, o potencial do mercado merece ser mais bem explorado, especialmente considerando a população de aproximadamente 180 milhões de habitantes.

Mercados das Américas

Canadá e as Novas Oportunidades Criadas por Barreiras Comerciais

Um cenário peculiar se desenha no Canadá após a recente imposição de tarifas retaliatórias de 25% sobre US$ 30 bilhões em mercadorias importadas dos EUA, em resposta às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump. Esta situação cria oportunidades para produtos brasileiros como café, chás, açúcar, suco de laranja, arroz, temperos, frutas, legumes, chocolates, óleos e cereais, entre outros.

O Canadá é o segundo mercado para as exportações agrícolas dos EUA, com vendas de US$ 28,4 bilhões em 2023. A estratégia canadense visa reduzir as importações de produtos americanos com o menor impacto inflacionário possível, abrindo espaço para fornecedores alternativos como o Brasil. Produtos como açúcar de cana (US$ 751,8 milhões exportados pelo Brasil em 2024) e suco de laranja congelado (US$ 68 milhões) já demonstram forte presença brasileira neste mercado.

Costa Rica e o Sucesso do Arroz Brasileiro

O comércio bilateral entre Brasil e Costa Rica atingiu o valor recorde de 722 milhões de dólares em 2024. O arroz foi o principal produto exportado pelo Brasil, contribuindo com 16,74% das exportações totais brasileiras para aquele país e atingindo o valor de 97 milhões de dólares. Em 2023, 70% do arroz importado pela Costa Rica era de origem brasileira.

O arroz é um alimento fundamental na dieta costarriquenha, presente em pratos tradicionais como “Gallo Pinto” e “Casado”. A recente redução da tarifa de importação de 35% para 4% no caso do arroz beneficiado e 3,5% para o arroz em casca, conhecida como “rota do arroz”, beneficia o produto brasileiro e apresenta uma excelente oportunidade para manter ou aumentar a participação no mercado local.

Oportunidades em Mercados Específicos

Coreia do Sul e o Mercado de Etanol

Em 2024, a Coreia do Sul importou US$ 286 milhões (346.456 toneladas) de etanol, sendo Brasil e EUA os principais fornecedores, com participação combinada de 72% do volume total. A competitividade brasileira varia conforme o tipo de etanol e as tarifas aplicadas: o Brasil domina o mercado de etanol dos códigos tarifários 2207.10.1000 (97,5% de participação) e 2207.10.9010 (82,5%), enquanto os EUA lideram nos códigos 2207.10.9090 e 2207.20 (ambos com 88% de participação).

Para 2025, o governo sul-coreano estabeleceu uma quota tarifária emergencial de 160.000 kl para o etanol do código HS 2207.10.1000, com tarifa zero para quantidades dentro desse limite, representando uma oportunidade adicional para exportadores brasileiros.

Egito e o Gergelim Brasileiro

O mercado egípcio de gergelim oferece oportunidades para o Brasil, considerando que o país foi o nono maior importador mundial em 2023, com importações de US$ 100 milhões. Tradicionalmente, o Sudão dominava esse mercado com 77% de participação, mas a guerra civil que assola o país desde 2023 reduziu significativamente sua capacidade de fornecimento.

As exportações de gergelim do Brasil ao Egito vêm registrando crescimento consistente nos últimos anos (2022 a 2024). Uma vantagem competitiva importante é que o Egito aplica tarifa zero ao gergelim de todas as origens, tornando fatores como qualidade e preço os principais determinantes da competitividade. O produto é amplamente utilizado na produção de alimentos típicos da cultura árabe, como o “tahine” e o “halawa spread”.

Emirados Árabes Unidos e os Produtos Orgânicos

O mercado de alimentos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos foi avaliado em US$ 44,67 milhões em 2024 e deve crescer para US$ 51,23 milhões até 2030, com uma taxa composta de crescimento anual de 4,62%. Esta demanda crescente é impulsionada por fatores como maior conscientização do consumidor, aumento da população expatriada e preferência por produtos alimentícios saudáveis e sustentáveis.

O Brasil, como importante produtor de alimentos orgânicos, possui oportunidade estratégica para expandir sua presença nesse mercado, particularmente em segmentos premium como frutas tropicais orgânicas. As recomendações incluem investir em certificações internacionalmente reconhecidas, estabelecer parcerias com distribuidores locais e desenvolver estratégias logísticas eficientes para preservar a qualidade dos produtos.

Considerações para Exportadores Brasileiros

O panorama global apresenta diversas oportunidades para produtos vegetais brasileiros, mas também exige estratégias específicas para cada mercado. A qualidade e a capacidade de atender às exigências sanitárias e de certificação são fatores determinantes para o sucesso em mercados mais exigentes, como Austrália, União Europeia e países asiáticos.

Para mercados emergentes, como Bangladesh e países africanos, o desenvolvimento de parcerias comerciais e o entendimento das especificidades culturais locais podem ser diferenciais importantes. Já em mercados onde o Brasil já possui presença consolidada, como Costa Rica (arroz) e Arábia Saudita (café), o foco deve ser em manter e ampliar a participação através de inovação e diferenciação de produtos.

As barreiras tarifárias e não-tarifárias continuam sendo desafios importantes em diversos mercados, mas situações geopolíticas, como a guerra comercial entre EUA e Canadá ou o rompimento de relações entre Argélia e Equador, podem criar janelas de oportunidade para produtos brasileiros.

Conclusão

As análises dos adidos agrícolas brasileiros revelam um cenário de múltiplas oportunidades para a expansão das exportações de produtos vegetais brasileiros. Os mercados apresentam diferentes graus de maturidade e exigências específicas, demandando abordagens customizadas por parte dos exportadores.

Particularmente promissores são os mercados de café na China e Arábia Saudita, açaí na Austrália, etanol na Coreia do Sul, banana na Argélia e arroz na Costa Rica. A crescente demanda por produtos orgânicos nos Emirados Árabes Unidos e a abertura de oportunidades no Canadá devido a questões geopolíticas também merecem atenção especial dos exportadores brasileiros.

Para aproveitar plenamente estas oportunidades, é fundamental o acompanhamento contínuo das tendências de mercado, requisitos regulatórios e preferências de consumo em cada país, além do estabelecimento de parcerias estratégicas com importadores e distribuidores locais.

Fontes:

  1. AGROINSIGHTS03VEGETAL20251.pdf
  2. AgroInsight — Ministério da Agricultura e Pecuária

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